O que o PT ganha e perde ao insistir na candidatura de Lula para a eleição

By | 16/06/2018 10:02 pm

 

(Valeria Bretas,  Exame.com)

 

Apesar de todos os riscos,  o Partido dos Trabalhadores (PT) não abre mão de manter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a única opção da legenda à Presidência da República. Na sexta-feira (8), mesmo atrás das grades e com a possibilidade de ter a candidatura barrada, Lula foi lançado pré-candidato oficial do partido para a corrida eleitoral em um ato em Minas Gerais.

 

Preso há pouco mais de dois meses por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, Lula ainda lidera as pesquisas de intenção de voto — mas já apresenta uma sutil queda na preferência do eleitorado. Na última sondagem do Instituto Datafolha, divulgada no domingo, ele somou até 30% das intenções de voto. Na pesquisa anterior, feita antes de sua prisão, Lula abocanhava 37% dos apoios.

 

Por ora, o PT insiste que discutir um plano B para a disputa presidencial está fora de questão. Mas não considerar um nome alternativo, na verdade, pode ser uma estratégia do partido para garantir uma vaga no segundo turno.

 

O que o partido ganha

No limite, o discurso de “inocente condenado e perseguido”, reforçado com frequência pelo próprio ex-presidente, tem servido como prato principal para alimentar um  partido que depende de um único personagem para sobreviver, na visão de Fernando Schüler, cientista político do Insper.

 

Segundo o pesquisador, ainda que a falta de um substituto traga um certo risco, Lula é a única chance real que o PT tem para conseguir manter uma relevância política e montar uma bancada competitiva no Congresso. “Manter essa narrativa viva é uma maneira de segurar a militância e tentar garantir a viabilidade das candidaturas no Legislativo e nos governos estaduais”, afirma.

 

Na opinião do especialista, lançar um outro nome sem qualquer referência ao ex-presidente seria um verdadeiro tiro no pé. A melhor estratégia, portanto, seria aguardar o prazo final de todos os recursos na Justiça Eleitoral (onde Lula pode ser barrado pela Lei da Ficha Limpa) e investir em um efeito emocional que impulsione a transferência de votos para um eventual substituto.

 

O capital político de Lula é, de fato, um grande ativo para o PT. A última sondagem do Datafolha mostra que caso ele seja declarado inelegível pelo TSE, 30% dos brasileiros votariam em um nome apoiado pelo petista. A título de comparação, a influência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, é de apenas 10%.

 

Mesmo atrás das grades, o potencial de Lula traz mais um benefício: as doações de campanha. Em um ano em que as arrecadações de empresas estão proibidas, a candidatura do petista pode trazer bons resultados. Em apenas uma semana, a vaquinha virtual da campanha do petista já arrecadou mais de 263,6 mil reais em doações (segundo dados compilados no fim da tarde da última quinta-feira).

 

Todos esses fatores, somados à impopularidade do presidente Michel Temer (MDB), podem dar uma vantagem para a chapa petista. “É importante ressaltar que quanto mais a situação do atual governo se afunda, mais popular fica a imagem do PT como uma alternativa eleitoral”, diz Thiago Vidal, cientista político da consultoria Prospectiva.

 

O que o partido perde

Nas últimas eleições municipais, em 2016, o PT cravou o seu pior resultado eleitoral das últimas duas décadas ao perder o comando de mais de 50% das 638 prefeituras que detinha. No mesmo ano, o partido também perdeu as rédeas com o impeachment de Dilma Rousseff, que encerrou o legado petista de 13 anos no poder.

 

Por essa linha de pensamento, a incerteza na definição da chapa presidencial pode criar um isolamento na formação de alianças com os outros partidos. “Ninguém vai querer fechar aliança sem saber quem será o candidato. Quanto maior é o atraso na negociação, maior é o risco”, afirma Carlos Pereira, analista político da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE).

 

Em outras palavras, manter a atual estratégia pode reduzir a capacidade do PT de aglutinar uma parceria com os demais partidos de esquerda que poderiam dar fôlego para a construção de uma chapa competitiva.

 

Vidal, da Prospectiva, ressalta também que o fato de um candidato à presidência participar pessoalmente de atos e apoiar publicamente candidatos regionais contribui para que o partido tenha maior projeção nas esferas municipal, estadual e federal. Na prática, com o ex-presidente preso e a ausência de outro candidato já definido, a probabilidade do partido não conseguir formar uma bancada robusta no Congresso pode crescer.

 

“O problema é que o PT criou uma relação de dependência muito forte com o Lula e agora não consegue mais descartá-lo”, diz Pereira. Não conseguir emplacar outro líder político aos 45 minutos do segundo tempo, de acordo com os analistas, é o que pode comprometer a sobrevivência do partido no longo prazo.

 

De qualquer forma, ainda há meios para o partido conseguir um bom espaço nas eleições deste ano. A dúvida, no entanto, é saber qual narrativa vai conquistar o eleitorado.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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