(Bruno Boghossian, colunista da Folha, aborda temas da política nacional. Jornalista já integrou a equipe do “Painel” e foi repórter de política e economia).
A eleição de 2018 registrou sua primeira traição política de peso. Seis dias depois de posar sorridente para fotos ao lado de Márcio França (PSB) em São Paulo, a cúpula do PP bandeou para o lado rival e decidiu apoiar João Doria (PSDB) na disputa pelo governo do estado.
O vaivém em tempo recorde retrata a licenciosidade da corrida eleitoral deste ano. O desgaste dos partidos tradicionais e a incerteza da campanha embaçaram de vez as fronteiras entre diferentes campos políticos.
A pouco mais de três meses da disputa, ninguém é de ninguém. Ao subir ao altar com França, o PP paulista recebeu a promessa de que apadrinharia o chefe da Polícia Civil e o secretário do Meio Ambiente. Alguma cláusula foi descumprida, e o partido decidiu bater à porta de Doria.
Na imprevisível corrida presidencial, a dispersão é maior. Dirigentes do DEM jantaram com Ciro Gomes (PDT) na terça (19) para discutir um possível apoio ao candidato de esquerda. Horas depois, voltaram à direita e receberam Geraldo Alckmin (PSDB) para um café da manhã.
Até Jair Bolsonaro (PSL), que tenta manter distância da velha política, está em busca de um par que amplie a estrutura de sua campanha. Na próxima semana, seus emissários devem se reunir com o ex-deputado Valdemar Costa Neto, chefe do PR.
As novas regras eleitorais e as restrições ao financiamento de candidaturas supervalorizaram o mercado partidário. Sem dinheiro de empresas, as legendas precisam do tempo de TV e da máquina política das mega-alianças para decidir as eleições.
O ambiente ficou confuso principalmente porque PT e PSDB se enfraqueceram, deixando de ser polos naturais de atração. Siglas pequenas e médias passaram a flertar com um número maior de candidatos.
Em 2014, o então prefeito carioca Eduardo Paes chamou a aliança de seu PMDB com o DEM no Rio de “bacanal eleitoral”. Quatro anos depois, Paes se filiou ao DEM para disputar o governo do estado. Seria uma devassidão caso as siglas brasileiras tivessem algum significado real.