Sigla mergulha na incoerência eleitoral e se alia a velhos caciques do Nordeste
(Bruno Boghossian, colunista da Folha, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA))
Minutos antes de oficializar sua aliança com Renan Calheiros e Renan Filho (MDB) na convenção do PT em Alagoas, o deputado Paulão se irritou com um grupo que chamava os convidados de “golpistas”.
“Vocês podem até não votar no governador e no senador, mas vaiar é uma atitude antidemocrática, falta de respeito e de educação”, reclamou.
Apesar da força preservada pelo ex-presidente Lula no Nordeste, o enfraquecimento do PT empurra a sigla para o lado das velhas oligarquias da região. Para sobreviver e pegar carona na estrutura política dos caciques, o partido topou mergulhar no poço das incoerências eleitorais.
O Renan Calheiros defendido por Paulão (que foi presidente da CUT) é o mesmo que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e exclamou um “tamos juntos” na posse de Michel Temer. O senador teve uma recaída pró-PT, mas só quando percebeu que sua reeleição estava em risco.
No Ceará, os petistas rifaram a candidatura de José Pimentel para mais um mandato no Senado, abrindo caminho para Eunício Oliveira (MDB).
Contrariado, Pimentel disse que sua saída “possibilita o fortalecimento de setores que atacam conquistas sociais”. Para o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini, a decisão “é o triunfo da burocracia clientelista”.
O sinal verde partiu do próprio Lula. Em outubro, o ex-presidente disse que estava “perdoando os golpistas”. No dia seguinte, o PT de Alagoas anunciou que voltaria a ocupar cargos no governo Renan Filho.
Os políticos que derrubaram Dilma esquecem as hostilidades sofridas. Ciro Nogueira, que demoliu o último pilar do governo ao tirar o PP da base aliada, aderiu à chapa petista no Piauí. Já o clã Sarney finge que o dedo do patriarca não deslizou na urna eletrônica em 2014 para dar um voto a Aécio Neves (PSDB).
Roseana, que tenta voltar ao governo do Maranhão, discursou no domingo (29) como se a família não tivesse conspirado pelo impeachment e instalado um ministro no governo Temer. “Todos queremos que Lula supere esse sofrimento.”