Petista montou palanque hegemônico na região, mas depende de entusiasmo local
(Bruno Boghossian, Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É colunista da Folha)
O ex-presidente tem o apoio de quase 50% dos nordestinos, mas Fernando Haddad ainda é um virtual desconhecido. Em simulações de segundo turno na região, o substituto de Lula fica tecnicamente empatado com Jair Bolsonaro (25% a 28%), perde para Geraldo Alckmin (30% a 21%) e toma uma lavada de Ciro Gomes (40% a 14%).
A esperança dos petistas está no estoque de eleitores sem candidato. Com Lula fora da parada, pelo menos 4 a cada 10 moradores da região não sabem quem escolher ou declaram voto em branco ou nulo.
Da prisão, o ex-presidente azeitou a estrutura partidária do PT e de seus aliados para dar a largada em uma transferência em massa de votos quando Haddad for oficialmente ungido como seu substituto.
Lula costurou alianças formais e informais para garantir hegemonia na região. Dos 9 governadores, 7 declaram apoio a seu nome.
O objetivo dos petistas é explorar as máquinas estaduais para evitar que os votos de Lula se dissipem pelo caminho. Se o ex-presidente conseguir passar adiante dois terços de seus votos no Nordeste, como apontam as pesquisas, Haddad teria, de saída, 9% da votação nacional.
O ex-presidente fortaleceu “golpistas” como o cearense Eunício Oliveira (MDB) e o alagoano Renan Calheiros (MDB); manteve boa relação com o clã Sarney no Maranhão, apesar de apoiar Flávio Dino (PC do B); e atropelou o PT pernambucano para apoiar Paulo Câmara (PSB).
Todos eles querem pegar carona na popularidade de Lula, mas talvez não tenham o mesmo entusiasmo com Haddad. Se o plano B não empolgar, os votos lulistas podem ficar pelo caminho.
Comentário do programa – Um detalhe que muitos estão esquecendo é que a maior colônia de não paulistanos (moradores da capital) em São Paulo capital é de nordestinos e a experiência de Haddad em São Paulo, não foi das mais exitosas. Um dos “postes” eleitos por Lula, ao lado de Dilma, Haddad não conseguiu se reeleger em São Paulo, onde teve menos votos que os brancos e nulos. E na época Lula estava solto e participou ativamente da campanha. Os petistas talvez confiem no fato de que somos o maior contingente de agraciados com o Bolsa-família. Por sinal, os petistas estão alimentando a esperança de elegerem uma grande bancada de deputados e senadores entre os nordestinos. Esquecem que muitos dos que recebem o bolsa-família querem aproveitar as eleições de deputados e senadores para tirar algum proveito. (LGLM)