Agenda reformista do PSDB é real? (com comentário)

By | 26/08/2018 4:27 am

 

(Miriam Leitão, no Globo RJ)

 

O PSDB promete eliminar o déficit em dois anos, mas não fica claro como isso será feito. O espaço para corte é mínimo, e o partido não faz de forma explícita a defesa de se tirar da Constituição as destinações obrigatórias. A Caixa poderá ser privatizada. O partido promete não aumentar impostos e garante reduzir fortemente as renúncias fiscais. A reforma da Previdência terá idade mínima de 65 anos e vai buscar aumento da contribuição, em vez de redução de benefício.

 

A terceira entrevista com assessores econômicos de candidatos foi com o economista Pérsio Arida, doutorado pelo MIT, e um dos formuladores do Plano Real. O grande problema dos tucanos é que, para serem coerentes, eles precisam explicitar o ajuste que pretendem fazer para tirar o país do buraco fiscal. Isso exige defender propostas impopulares. Pérsio Arida diz que um presidente ao chegar tem muita força e lembrou que Collor aprovou até o confisco.

 

Com essa força, ele afirma que Geraldo Alckmin fará o ajuste fiscal e sem aumento de impostos. O PSDB também defende a taxação de lucros e dividendos, com redução do imposto sobre empresas, como outros partidos têm proposto. A ideia tem sido o grande consenso desta eleição, mas a execução pode ser diferente. Se não vai aumentar tributos, de onde virá um ajuste tão rápido? Ele diz que serão cortados gastos. Hoje, de R$ 1,3 trilhão de despesas primárias, só R$ 128 bilhões podem ser mexidos pelo governo e aqui estão investimentos e custeio. Persio afirma que qualquer pessoa que já esteve no governo sabe que há onde cortar. Mesmo assim, será pouco perto de um déficit de R$ 139 bilhões. Defendeu redução drástica dos benefícios ficais para empresas e setores.

 

“Era 2% do PIB e hoje está em 4,5%”. Admite que isso significa enfrentar lobby de empresários. Ao falar de privatização, ele disse que não estão na lista Petrobras e Banco do Brasil. A Caixa seria privatizada? Não disse que sim nem que não.

 

Parte do ajuste viria do crescimento que segundo ele ocorrerá a partir do aumento da confiança, de mudanças regulatórias, com agências sem nomeação política. Segundo ele, o investimento será do setor privado e não do Estado. Defendeu que não haja qualquer receio contra empresa estrangeira. “O chinês vai investir numa hidrelétrica e levar para a China?”

 

Pérsio diz que emprego não é criado pelo governo, mas sim pelo setor privado. É contra políticas específicas de criação de vagas e disse que os programas do Ministério do Trabalho serão transferidos para o Ministério do Desenvolvimento Social, que viraria um superministério. Diz que “o grande empregador de obra menos qualificada é a infraestrutura”, por isso o governo atrairá investimento para o setor. “O Brasil tem um potencial extraordinário, tem excesso de capitais lá fora, é questão de ter marco regulatório e segurança jurídica.”

 

Ele defendeu que o FGTS seja remunerado por uma taxa maior, talvez a TLP. Alckmin tem prometido dobrar a renda do brasileiro, mas Pérsio admite que isso só aconteceria em 20 anos, se forem criadas as condições para crescimento anual de 4%, o que seria possível com o ambiente favorável ao setor privado e investimento forte em educação. A promessa do PSDB é subir 50 pontos no PISA, hoje estagnado. Não ficou claro como investir mais em educação se a ideia é mexer nas vinculações constitucionais. Os tucanos falam em elevar a corrente de comércio para 50% do PIB. Só que ela está estagnada em 16% e o mundo está entrando numa guerra comercial. Segundo ele, o aumento ocorrerá com mais abertura, que derrubaria para 15% a barreira tarifária máxima. “O protecionismo está brecando o crescimento e o aumento da produtividade”, diz.

 

Pérsio foi do Banco Central e foi banqueiro privado, e diz que é possível reduzir fortemente o spread bancário aumentando a competição. Defendeu que se possa tomar empréstimo no exterior e que haja mais possibilidade de empresas no setor financeiro. Segundo ele, Ilan Goldfajn seria convidado a permanecer. E defendeu que a diretoria do Banco Central tenha mandatos fixos e alternados. A grande dúvida em relação ao PSDB é o real compromisso hoje com a agenda reformista que seu economista prega.

Principalmente diante da coligação com partidos fisiológicos do centrão, que têm barrado as reformas e a modernização do Brasil.

 

Comentário do programa – Cuidado com as promessas mirabolantes de alguns candidatos. Prometem para atrair os “bestas”, mas muitas vezes sem a mínima condição de cumprir o que estão prometendo. Até por que, dependem em quase tudo do Congresso. E o Congresso vai continuar o mesmo que está aí que do Padre Nosso só aprenderam “o venha aí o nosso reino e seja feita a nossa vontade” Ao invés do “venha a nós o vosso reino e seja feita a vossa vontade”. Ou seja, os parlamentares só aprovam aquilo que seja do interesse deles. E com tantos analfabetos políticos votando e uns tantos pretensamente conscientes prometendo votar nulo, é muito difícil mudar. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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