Pesquisa mostra dificuldade de Haddad em herdar voto lulista; Alckmin melhora índices no segundo turno
(Igor Gielow, da Folha)
Preso condenado por corrupção e virtualmente inelegível, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 39% das intenções de voto na primeira pesquisa estimulada do Datafolha realizada após os registros das 13 candidaturas ao Palácio do Planalto.
No cenário mais provável, já que a condenação em segunda instância enquadra o petista na Lei da Ficha Limpa e deverá provocar sua inabilitação, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) surge à frente da disputa, com 22%.
O Datafolha ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios, de 20 a 21 de agosto. A margem de erro do levantamento, uma parceria da Folha e da TV Globo, é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Na simulação da disputa com Lula, Bolsonaro mantém uma estabilidade no seu eleitorado, com 19% no segundo lugar. Aparecem embolados no terceiro posto Marina Silva (Rede, com 8%), GeraldoAlckmin (PSDB, 6%) e Ciro Gomes (PDT, 5%).
Sem Lula, Marina e Ciro dobram suas intenções de voto, ficando atrás de Bolsonaro com 16% e 10%, respectivamente. Alckmin também sobe para 9%, empatando na margem com Ciro.
Com o petista no páreo, brancos e nulos somam 11%, com 3% de indecisos. Sem ele, os índices sobem respectivamente para 22% e 6%.
O nome ungido por Lula para substitui-lo em caso de inabilitação, o de seu candidato a vice Fernando Haddad (PT), não tem uma largada muito promissora na missão de herdar votos do mentor: tem apenas 4%, empatado com o senador Alvaro Dias (Podemos), no cenário sem o ex-presidente.
A explicação para isso pode estar no fato de que 48% dos ouvidos não votaria num candidato indicado por Lula. Já 31% o fariam, enquanto 18% anotam um “talvez” quando questionados sobre o tema.
Por fim, Haddad tem um potencial: não é conhecido por 27% dos eleitores, contra 59% que já ouviram falar do ex-prefeito paulistano. Em comparação, Lula é conhecido de 99% dos ouvidos, Marina, por 93% e Alckmin, por 88%. Assim, Haddad registra baixa rejeição: 21%.
Essas variáveis estarão na conta petista na hora de elaborar as peças da propaganda eleitoral gratuita, que começa no rádio e na TV no dia 31 — é incerto se a Justiça Eleitoral decidirá o futuro da candidatura de Lula antes disso.
Os 39% que o ex-presidente amealha, ainda que não comparáveis diretamente, são acima do que qualquer outro índice recente por ele atingido e refletem a exposição do registro de sua candidatura após um período mais reservado, com a Copa do Mundo dividindo atenções do público.
Bolsonaro demonstra ter um eleitorado estável, embora haja dúvidas acerca de sua capacidade de expansão.
Atinge 15% nas citações espontâneas dos eleitores, contra 12% do levantamento anterior, de junho. Nesse item, Lula dobrou seu índice, de 10% para 20%, provavelmente pela publicidade em torno de seu registro —os outros candidatos patinam entre 1% e 2%.
O maior problema do deputado é ser o candidato mais rejeitado, com 39% de eleitores dizendo que nunca votariam nele. É seguido por Lula (34%) e, num patamar mais abaixo, Alckmin (26%), Marina (25%) e Ciro (23%).
O deputado já é conhecido de 79% dos ouvidos. Aqui, o fato de ter um tempo mínimo de horário gratuito poderá dificultar sua vida para atingir os 21% restantes —como está em campanha nas redes sociais há dois anos, é possível especular que tenha atingido algum limite.
Sua fraqueza, como foi explorado em debate por Marina, é o eleitorado feminino. Entre mulheres, o capitão reformado tem 13% de intenção de voto, contra 30% entre homens, no cenário sem Lula. A candidata da Rede, por sua vez, tem 19% do voto feminino e 13%, do masculino.
No mais, seguem inalterados parâmetros observados em levantamentos anteriores, ainda que incomparáveis estatisticamente por apresentar cenários diferentes.
Nos cenários sem Lula, Alckmin tem muita dificuldade em um antigo quintal do PSDB, o Sul (6%), onde se destacam Bolsonaro (30%) e Dias (13%).
Marina e Ciro se dão melhor no Nordeste. No campo de batalha com maior colégio eleitoral, o Sudeste, Bolsonaro tem 22%, Marina, 19%, e o ex-governador paulista, 12%. Na capital paulista, Alckmin empata com o deputado.
A pesquisa explicita como o impopular presidente Michel Temer (MDB) tornou-se radioativo. Segundo ela, 87% nunca votariam em alguém apoiado por ele, contra 3% que o fariam —não por acaso, seu candidato, Henrique Meirelles (MDB), fica entre 1% (com Lula) e 2% (sem Lula).
No bloco dos nanicos, o destaque em relação a levantamentos anteriores é João Amoêdo (Novo), que obteve 2% com e sem Lula —neste, empata tecnicamente com o plano B petista, Haddad.
No segundo turno, Lula segue à frente de todos os seus adversários. Sem o petista e se conseguir chegar lá, contudo, Alckmin é quem colhe as melhores notícias nesta rodada.
O tucano saiu do empate e derrota Bolsonaro (38% a 32%) e Ciro (37% a 31%), e melhorou um pouco seu placar na derrota para Marina (41% a 32%).
Seu resultado mais vistoso é contra Haddad. Aqui, o tucano bate o petista por 43% a 20%. Haddad também é derrotado por Bolsonaro (38% a 29%).
Ciro, por sua vez, empata na margem com Bolsonaro, que perde de Marina (45% a 33%).
Comentário do programa – A pesquisa é um instantâneo do momento. Mas ela pode induzir o eleitor, principalmente o indeciso, a se definir. O provável indeferimento da candidatura de Lula, vai fazer muita gente se reposicionar e muitos indecisos se posicionarem. Daí termos que aguardar as futuras pesquisas para fazer uma melhor avaliação do quadro eleitoral para Presidente. Pena que a situação de Lula, tentando conduzir o processo eleitoral de seu partido de dentro de uma prisão, nos lembre as centenas de chefes de gang que comandam seus asseclas de dentro de presídios de segurança máxima. (LGLM)