Partidos do centrão se dividem em coligações regionais que sustentam Lula, Ciro, Alvaro Dias, Marina Silva, Meirelles e Bolsonaro
(João Pedro Pitombo e Carolina Linhares, na Folha)
A aliança do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) com os cinco partidos do centrão — DEM, PP, SD, PR e PRB— mais os demais aliados PTB, PSD e PPS não se refletiu em apoio desses partidos nos Estados.
Levantamento da Folha aponta que, dos 216 diretórios desses partidos nos 27 estados, apenas 96 estarão em palanques que apoiam Alckmin ao Planalto.
Nos demais casos, os aliados de Alckmin estão em palanques que apoiam Lula (PT), Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos) Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB) e Jair Bolsonaro (PSL).
Os partidos liberaram seus filiados para que formatassem os palanques que lhe fossem mais convenientes nos estados, sem obrigatoriedade de apoio ao presidenciável escolhido.
Entre os oito partidos aliados ao tucano, o DEM é o mais fiel e estará em palanques que apoiam Alckmin em 22 estados. Mas terá dissidências em estados importantes como Maranhão, Ceará e Paraíba.
O mais infiel é o PR, que subirá em palanques do presidenciável tucano apenas em nove estados. O partido também é o que tem a rede de aliados mais elástica: dividirá palanques que apoiam Lula na Bahia, Pernambuco e Alagoas e estará nos que apoiam Bolsonaro no Espírito Santo e no Amapá.
O Nordeste é a região onde há maior infidelidade dos aliados de Alckmin. Somente na Bahia, PSD, PP e PR firmaram aliança com o governador Rui Costa (PT), candidato à reeleição, e vão apoiar a candidatura do ex-presidente Lula ou de Fernando Haddad, caso o ex-prefeito de São Paulo venha assumir a candidatura petista.
“O nosso partido teve bom senso em aceitar nossa decisão. Estamos nesta aliança [com o PT] desde 2010 e decidimos juntos apoiar o ex-presidente Lula”, afirma o senador Otto Alencar (PSD-BA).
Já no Maranhão e no Ceará, todos os cinco partidos do centrão apoiaram, respectivamente, Flávio Dino (PCdoB) e Camilo Santana (PT).
O caso mais emblemático, contudo, é o do Piauí. O senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP e responsável pela costura do apoio de seu partido a Alckmin, se aliou ao governador Wellington Dias (PT) e diz que votará para presidente no candidato petista.
Até mesmo o cantor e ex-deputado federal Frank Aguiar (PRB), que disputará o Senado em chapa adversária ao PT do Piauí, não apoiará Alckmin: “Minha intenção pessoal é votar no Lula por tudo que ele fez pelo país”.
Também há os casos em que rivalidades regionais jogaram aliados de Alckmin no palanque de outros presidenciáveis.
Adversário dos tucanos em Goiás, o senador Ronaldo Caiado (DEM), que concorre ao governo do estado, formou uma aliança de 13 partidos, que vai de Ciro a Bolsonaro, passando por Alvaro Dias. E promete abrir seu palanque a todos eles.
“Aqui em Goiás não se nacionaliza a campanha, não tem essa vinculação. Cada um manda no seu quadrado. Ninguém mete a cara para dizer o que goiano tem que fazer. Aqui não tem tutela, somos independentes”, afirma.
Caiado, que disputará a eleição contra José Eliton (PSDB), diz que sua equipe está desenvolvendo um sistema digital para consultar seus eleitores e escolher qual presidenciável vai apoiar.
Tamanha independência, contudo, não se sustentou em estados mais estratégicos como Minas Gerais, o segundo em número de eleitores.
Lá, Rodrigo Pacheco (DEM) chegou a ser confirmado como candidato ao governo em convenção no domingo (5). Um dia depois, apareceu ao lado dos caciques Rodrigo Maia (DEM) e do próprio Alckmin e anunciou que iria concorrer ao Senado na chapa de Antonio Anastasia (PSDB).
Segundo Maia, não houve intervenção, mas “um pedido muito forte” para unificar o palanque de Alckmin em Minas.
No PSD, que lança candidatos a governador em sete estados, o palanque a Alckmin ainda não está garantido na maioria dos casos. Em cinco estados do Nordeste, o partido estará em palanques que apoiam o PT.
“Sempre há o esforço de unificar os palanques, mas o prazo é curto”, justifica o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.
Ele classifica a legislação partidária brasileira como “uma excrecência” e comemora o fato de que as coligações proporcionais estarão banidas nas próximas eleições.
“A possibilidade de coligações proporcionais incentiva as majoritárias. E acaba ficando uma verdadeira salada de interesses partidários, uma mistura de partidos com posições ideológicas diferentes. Não é uma legislação saudável”, afirma.