Deputado não pode fugir do debate e petista tem de provar que é mais que um poste de Lula
(Leandro Colon, colunista da Folha)
Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) chegam ao segundo turno eleitoral escolhidos pela maioria dos votos válidos registrados nas urnas eletrônicas e seguras.
É a democracia, considerada a melhor forma de governo por 69% dos brasileiros, segundo o Datafolha. Regime mais justo que qualquer modelo autoritário idolatrado por Bolsonaro e boa parte de seus eleitores.
O deputado larga em boa dianteira, impulsionado por uma onda bolsonarista impressionante no Sudeste. Teve mísero tempo de propaganda eleitoral, ficou fora dos debates da TV em setembro e não fez campanha nas ruas após o atentado a faca.
Demonstrou resistência a crises causadas pelos principais auxiliares de sua equipe. Um prometeu recriar um imposto nos moldes da CPMF e outro colocou sob risco o 13º salário.
Nem mesmo revelações graves sobre a relação de Bolsonaro com uma ex-mulher atrapalharam a vida do candidato. Ameaça de morte contra ela, suspeitas de furto de um cofre de banco e de ocultação de patrimônio, além da existência de uma funcionária fantasma da Câmara.
Nada mexeu com um eleitorado que surfou nas fake news e mostrou-se disposto a bancar o prontuário do passado e do presente de Bolsonaroem nome de uma obsessão ideológica por impedir a volta do PT. Um PT que escondeu sua gorda ficha corrida da corrupção debaixo do tapete na aposta de que o lulismo sozinho seria capaz de fazer Fernando Haddad deixar de ser o “Andrade”.
O PT foi laçado pela soberba nas duas últimas semanas. Acreditou que apenas o nome de Lula faria o candidato petista deslanchar e inclusive ultrapassar o capitão reformado. Por pouco não tomou uma histórica derrota já no primeiro turno.
Espera-se agora que o candidato do PSL não fuja do debate com o do PT. O país precisa de um encontro que ainda não ocorreu. Pode ser mais uma oportunidade para Haddad enfim provar que é mais que um poste de Lula e fazer autocrítica sincera e inédita sobre os desvios éticos e crimes cometidos pelo seu partido.