Terremoto nas urnas ainda terá abalos secundários sobre partidos

By | 13/10/2018 8:18 pm

 

Com caciques fracos, votação de projetos pode ter negociação custosa no varejo

(Bruno Boghossian, Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA))

 

O terremoto que derrubou velhos políticos e provocou uma redistribuição de forças no Congresso no domingo ainda deve produzir abalos secundários. O poder de caciques, líderes e partidos ficou abalado.  A lógica das futuras campanhas eleitorais e da composição de governos será posta à prova.

A estrutura das siglas, a hierarquia e a disciplina se tornaram acessórios nessa disputa. Jair Bolsonaro (PSL) se lançou à Presidência por uma legenda nanica e conseguiu 49 milhões de votos. Em muitos estados, candidatos esnobaram orientações de dirigentes e fizeram campanha com rivais de seus próprios partidos.

Deputados e senadores alinhados com os ideais de uma sigla sempre foram exceções. Ainda assim, as legendas conseguiam garantir a fidelidade de seus quadros com a distribuição de algumas recompensas, como cargos em governos e na estrutura partidária, além do financiamento de suas eleições.

Desta vez, o dinheiro das legendas valeu menos para as campanhas dos candidatos do que as ondas provocadas por figuras como Bolsonaro e Lula. Alguns deputados eleitos pelo PSL mal devem conhecer os integrantes do comando da sigla.

O próximo governo precisará formar maioria em um Legislativo composto por muitos políticos que estão filiados a suas legendas por mera formalidade. O intrépido Kim Kataguiri, recém-eleito deputado pelo DEM, ignorou sua legenda para se lançar à presidência da Câmara. “Não preciso da autorização de ninguém. Meu partido é o MBL”, disse.

Como a influência de líderes sobre as bancadas deve diminuir, a aprovação de projetos dependerá de negociações custosas no varejo, um a um. Na melhor hipótese, parlamentares poderiam cruzar fronteiras partidárias para votar em bloco alguns temas, mas se dispersariam depois.

Por maior que seja o desgaste das siglas, elas dão ao eleitor alguns atalhos para identificar políticos que falam sua língua. Com a degradação dessas estruturas, pode ser difícil encontrar uma mensagem no vozerio.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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