(Painel da Folha)
Guerra fria em gestação Sucesso entre eleitores do PSL, o “sim” de Sergio Moro a Jair Bolsonaro bateu quadrado no Congresso. Integrantes de diversos partidos, da esquerda à direita, passando pelo centrão, dizem que a escolha do presidente eleito para o Ministério da Justiça foi vista como uma tentativa de emparedar o Legislativo, como se o agora ex-juiz fosse uma espada na cabeça de parlamentares. Deputados e senadores lembram, porém, que fora do Judiciário Moro ficará exposto, suscetível a CPIs e convocações.
Para a torcida Politicamente, é unânime, Bolsonaro marcou mais pontos com seu eleitorado e fortaleceu o discurso de que seu governo será intolerante com a corrupção ao levar Moro para a Esplanada.
Refém das escolhas Durante toda esta quinta (1º), após a resposta de Moro, políticos repisaram um ditado dos bastidores do poder: “Nunca nomeie alguém que não possa demitir”. Agora, Bolsonaro tem dois superministros que, se decidirem deixá-lo, farão estrago: Moro, claro, e Paulo Guedes, o guru da economia.
Tipo exportação Para o PT e para Fernando Haddad, que concorreu à Presidência pela sigla, a decisão de Moro dá força à ação que Lula move na ONU contra sua condenação.
Tipo exportação 2 Após a resposta de Moro, Haddad chegou a dizer que o ex-presidente “ganhou hoje a causa” no organismo internacional.
Presente de grego O convite de Bolsonaro a Moro, com a perspectiva de posterior indicação ao STF na vaga de Celso de Mello, que se aposenta em 2020, teria ultrajado o decano. Segundo uma pessoa próxima, ele se sentiu ofendido. Detalhe: a resposta de Moro veio no dia do aniversário de Mello.
Nego Após a publicação do Painel, o ministro Celso de Mello divulgou nota, na manhã desta sexta-feira (2), em que nega ter feito qualquer comentário sobre as especulações em torno da ida de Moro para a corte. Leia o texto do decano aqui.
Até o fim Diante das especulações de que os dois ministros que devem deixar o STF ao longo do próximo governo poderiam antecipar a aposentadoria, um membro da corte deu a seguinte resposta: “Esquece, ninguém sai”.
Fila Ao todo, 233 juízes podem disputar o posto de Moro. Depois que a exoneração for publicada, será aberto um edital, e os interessados em herdar os processos da Lava Jato poderão se inscrever. A escolha é feita com base na antiguidade. Quem estiver há mais tempo no cargo leva.
Comentário do programa – A anunciada ida de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça incomoda os políticos muito mais pelas decisões que ele vai tomar, a partir de empossado, do que pelas decisões judiciais que tomou até agora. O que os políticos brasileiros mais desejariam era acabar com a Lava Jato e serem anistiados dos processos a que respondem. A ida de Moro para o Ministério da Justiça, entretanto, sinaliza um reforço na luta contra corrupção, já que Sérgio Moro vai controlar as polícias federais e outras instituições encarregadas do combate à corrupção. Os petistas vão “bramar” aos quatro ventos que Moro lutava por um cargo no governo Bolsonaro, quando o que moveu o juiz da Lava Jato foi o interesse em continuar a combater a corrupção dentro do próprio governo. As decisões do juiz federal que comandava a Lava Jato em Curitiba e que incomodaram a tanta gente, vão continuar valendo e não tem ONU que consiga derrubá-las, com o que sonham os petistas. Lula deve continuar preso e muitos outros se lhe seguirão, inclusive provavelmente o próprio Temer (hoje tão preocupado em “paparicar” Bolsonaro), assim que sair do Governo e perder o foro privilegiado que impediu fosse processado em dois processos já em curso e em um terceiro já bem adiantado. Mesmo que não faça um grande governo, só o fato de continuar o combate à corrupção, se isto realmente acontecer, já garantirá a Bolsonaro um lugar na história. As pesquisas já mostram o apoio a Bolsonaro na decisão de convidar Sérgio Moro para um fortalecido Ministério da Justiça, no comando de todas as áreas envolvidas na segurança e no combate à criminalidade, inclusive a corrupção. Jamais votaria em Bolsonaro, mas tenho que reconhecer se ele efetivamente continuar o combate a corrupção iniciada com participação efetiva do Judiciário de que fazia parte o juiz Sérgio Moro. Vamos continuar criticando tudo quanto Bolsonaro fizer em prejuízo dos trabalhadores brasileiros, mas o combate à corrupção não deixará de ser uma atenuante aos seus desacertos. (LGLM)