Guru de Bolsonaro vai assumir superministério da Economia, que une Fazenda, Planejamento e Mdic
(Talita Fernandes , Mariana Carneiro e Nicola Pamplona, na Folha em 30.out.2018)
O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), decidiu criar o superministério da Economia.
Não houve anúncio sobre o destino dos ministérios ligados às áreas de energia, transporte e saneamento, que também podem ser agregados para formar o superministério da Infraestrutura.
As definições em relação à infraestrutura envolvem negociações mais longas porque a equipe de Bolsonaro quer indicar militares para alguns cargos estratégicos.
A nova pasta da Economia reunirá os atuais ministérios da Fazenda, do Planejamento e do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e será comandada pelo economista Paulo Guedes.
Após pressão do setor industrial, Bolsonaro chegou a descartar a inclusão do Mdic no superministério. Mas voltou atrás, o que foi comemorado por Guedes —que ficou irritado ao ser questionado sobre a mudança de plano.
“Está havendo uma desindustrialização há mais de 30 anos, nós vamos salvar a indústria brasileira apesar dos industriais brasileiros”, disse.
A proposta de junção consta do plano de governo apresentado por Bolsonaro à Justiça Eleitoral.
O anúncio de sua criação foi feito nesta terça-feira (30) por Guedes e Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, após reunião para tratar da transição de governo.
O encontro foi realizado na casa do empresário Paulo Marinho, no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro.
DEFESA DA INCORPORAÇÃO DO MDIC
Guedes foi enfático na defesa da incorporação do Mdic à Fazenda. Afirmou haver um objetivo na medida: reduzir a carga tributária de forma sincronizada com uma política de abertura comercial.
O futuro ministro afirmou que a abertura no governo Bolsonaro será gradual para não prejudicar a indústria, que, em sua avaliação, está usando o Mdic como trincheira para se defender de mudanças necessárias.
“O Ministério da Indústria e Comércio se transformou numa trincheira da Primeira Guerra Mundial. Eles [industriais] estão lá com arame farpado, lama, buraco, defendendo às vezes protecionismo, subsídio, desonerações setoriais, que prejudicam a indústria brasileira —em vez de lutarem pela redução de impostos, simplificação e uma integração competitiva na economia internacional.”
Essa guerra setorial, em sua avaliação, favorece apenas setores mais organizados e prejudica o país: “Quem tem lobby consegue desoneração e quem não tem vai para o Refis [programa de renegociação de dívidas tributárias]”.
A redução da carga tributária e a simplificação dos impostos teriam como objetivo interromper esse círculo vicioso e permitir o ganho de competitividade por meio da abertura comercial, de acordo com Guedes.
“Não vamos fazer uma abertura abrupta para prejudicar a indústria brasileira. Ao contrário, vamos retomar o seu crescimento com juros baixos, reformas fiscais e desburocratização”, disse.
“A razão de o Ministério da Indústria e Comércio estar próximo da economia é justamente para isso. Não adianta a turma da Receita ir baixando os impostos devagar, e a turma da indústria abrir muito rápido. Isso tudo tem de ser sincronizado, com uma orientação única”, afirmou Guedes.
Em relação à superpasta, o futuro ministro disse que ainda não começou a tratar de nomes para chefiar as estatais.
Guedes afirmou que não convidou quadros que estão no governo Michel Temer para ficar na nova gestão.
Mansueto de Almeida, secretário do Tesouro, e Marcos Mendes, secretário especial da Fazenda, são cotados para permanecer.
Sobre a subvenção do diesel, Guedes afirmou que uma opção foi elaborada, mas ainda não deu tempo de levá-la ao presidente eleito.
Comentário do programa – Durante a campanha, Bolsonaro falou tudo o que os empresários gostariam de ouvir. Por isso, se empenharam de corpo e alma em sua campanha. Mas parece que não vão poder tudo. Na realidade, os empresários só querem o que favorável a eles, mas nunca querem pagar o preço que isso lhes cobra. Os industriais são um desses casos, como bem expressou Paulo Guedes, futuro Ministro da Economia: “Eles [industriais] estão lá com arame farpado, lama, buraco, defendendo às vezes protecionismo, subsídio, desonerações setoriais, que prejudicam a indústria brasileira — em vez de lutarem pela redução de impostos, simplificação e uma integração competitiva na economia internacional.” Ou seja, procuram benefícios próprios, perdendo de vista o interesse de todos. (LGLM)