Grande parte das afecções que acometem a saúde passa sozinha
(Hélio Schwartsman, Jornalista, foi editor de Opinião, na Folha, onde tem coluna permanente)
Ninguém duvida de que a homeopatia funcione. A questão é que quase tudo funciona, incluindo xamanismo, florais de Bach, cristais coloridos, reiki e até mesmo não fazer nada. Para nossa sorte, grande parte das afecções que acometem a saúde passa sozinha.
O problema que se apresenta não é determinar as drogas e terapias que funcionam, mas sim aquelas em que faz sentido alocar recursos públicos. E aí os critérios têm de ser elevados. Para obter certificação por uma agência reguladora, um medicamento precisa mostrar, em estudos controlados, que sua ação é superior à de placebos, regressões naturais ou de outras drogas já licenciadas para tratar aquela moléstia.
O mais traiçoeiro desses elementos é o efeito placebo. Durante muito tempo, ele foi tratado meio pejorativamente pela medicina, quase como se fosse uma manifestação histérica. À medida, porém, que cientistas começaram a estudar o fenômeno mais a fundo, foi-se descobrindo que ele é real e poderoso, sendo capaz de desencadear reações fisiológicas mensuráveis.
Hoje, sabemos que placebos ativos (que causam reações) são mais eficazes que os inertes e que a forma de administração, o preço e até a cor da pílula fazem diferença. Já se descobriu até uma enzima, a COMT, e uma variante genética, a rs4680, que parecem influenciar a resposta individual de cada paciente ao efeito placebo.
O leitor arguto pode se perguntar por que, dado que o placebo é assim tão poderoso, a medicina não faz uso generalizado dele. Na verdade, ela faz. Qualquer droga que você consuma já vem com seu quinhão de efeito placebo. Espera-se que ela tenha também efeitos extraplacebo e são estes que justificam que o Estado pague por elas.
Embora pacientes melhorem com homeopatia, não é o caso de colocar dinheiro público nisso, da mesma forma que não contratamos cirurgiões psíquicos nem fazemos concurso para bruxas de Estado.
Comentário do programa – Como diz o articulista, grande parte das doenças curam por si mesmo. Muitas vezes você nem sabe que está doente, ao sentir uma indisposição passageira. E se cura sem nem saber que esteve doente. Muitas destas doenças que se curam por si mesmas são curadas por medicamentos que não tem nenhum princípio ativo (os chamados placebos), por sugestão, pela fé que você tem no médico ou no remédio que ele prescreve, por uma corrente de orações. Ou seja, curados pela fé. Claro que as doenças que dependem de antibiótico, de um medicamente mais poderoso ou de uma cirurgia, dificilmente são curados só pela fé. Se não os santos não morriam. Claro que há casos de doenças graves que dependem realmente de milagres, o que justifica muitas canonizações de santos. Os milagres de Jesus, por exemplo, geralmente curavam doenças graves ou até ressuscitavam mortos. Mas aí eram milagres mesmo. E milagres até hoje acontecem, mas se tornam cada vez mais raros. De qualquer maneira, diante de uma doença, vale a pena acreditar. No médico, no remédio, na sugestão e nos poucos milagrosos que ainda aparecem. Mas nos casos mais graves nunca deixe de procurar um médico. Sua perícia, com ajuda divina, podem fazer milagres. (LGLM)