Um caso à parte (Ou, como diríamos: Nem tudo está completamente perdido) (com comentário do programa)

By | 02/12/2018 5:41 am

 

O vice-presidente eleito é um poderoso contrapeso à voracidade dos demais

(Janio de Freitas, Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha)

 

O único erro nas escolhas de Jair Bolsonaro, até agora, é irreparável e prenuncia um poderoso contrapeso para a voracidade direitista dos demais escolhidos, tão coincidentes com as posições do presidente eleito.

 

A cada dia o general e vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, se caracteriza mais, em muitos sentidos, como um caso à parte na cúpula do futuro governo. Condição que, fora dali, tem até suscitado expectativas distensionantes.

 

Escolha talvez não seja a palavra adequada para a inclusão do general na chapa que o leva ao poder. Uma informação com boa origem, mas ainda sob ressalva, indica que Bolsonaro foi “aconselhado” na área militar, quando já tinha seu escolhido, a ceder a vice a Mourão.

 

A desafinação com as ideias de Bolsonaro, sobretudo nas relações internacionais, e com sua conduta desatinada, bem conhecida no Exército que o dispensou, estavam entre os primeiros motivos para a iniciativa do “conselho”. O complemento, com o nome, veio do conceito de Mourão nos altos escalões militares (o general foi eleito neste ano para a presidência do Clube Militar).

 

Ainda antes da eleição, Bolsonaro pediu à sua volta que silenciassem, embaraçado com a franqueza do vice contrário a afirmações suas e a vazamentos de intenções de Paulo Guedes. O silêncio durou pouco. Houve quem atribuísse as discordâncias a truque eleitoral, atenuando um pouco o extremismo direitista do candidato a presidente.

 

A divergência continua, porém. E, mais do que isso, adota uma segurança afirmativa que não se assemelha a arroubos. Mostra-se não só em contradição com medidas previstas pelos planejadores do governo, como desqualificantes para o próprio Bolsonaro. Francas e ditas com naturalidade.

 

“Às vezes o presidente tem uma retórica que não combina com a realidade”, diagnóstico comprovado e reiterado, agora, ao Financial Times e republicado em Toda Mídia, da Folha. Ainda: “A China não está comprando o Brasil”, desmentido frontal ao argumento maior de Bolsonaro para propagar o afastamento brasileiro na relação com a China (Bolsonaro é adepto da hostilidade belicista de Trump aos chineses).

 

Mas Mourão não fica só em considerações de aparência pessoal. Antecipa o que, diz, virá a ser. À parte a posição de Moro ou contra ela.

 

“Tenho certeza absoluta de que nós não vamos brigar” [com a China]. A mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, já reafirmada por Bolsonaro, “é uma decisão que não pode ser tomada de afogadilho, de orelhada”. Sobre o fim do Mercosul, também dado como decisão, “antes de pensar em extinguir, derrubar, boicotar, temos que fazer os esforços necessários para que atinja os seus objetivos”.

 

O Mercosul continua, pois, seja qual for o desejo comum a Bolsonaro, Paulo Guedes, ao chanceler medievo. E vai por aí. Ou vão por aí, o grupão para um lado, Mourão para o outro.

 

O revestimento da dissociação é, da parte do vice, uma habilidade política nas formulações que, também nisto, contrasta com a batalha de Bolsonaro para coordenar palavras, por poucas que sejam.

 

A exposição das posições de Mourão é, em geral, acompanhada de umas frases que aparam a contestação. E tudo se passa sem cerimônia, no clima dos que conversam à vontade. Não é o clima em que os quatro Bolsonaros e seus principais circunstantes convivem.

 

São muito poucos os elementos para imaginar os futuros possíveis, ou não, dos embates que se insinuam. Ainda assim, pode-se aventurar a probabilidade de que os desdobramentos sejam influenciados, ou mesmo decididos, pelas forças das respetivas retaguardas. Não as partidárias. As militares.

 

Comentário do programa – Ainda bem que ainda há inteligência entre os militares. E a análise de Jânio de Freitas nos dá um pouco de esperança de que nem tudo está perdido. Por ironia do destino vamos ser obrigados a torcer por um general. Mas, em respeito à verdade, já tivemos, mesmo durante a ditadura, militares com inteligência acima da média como Castelo Branco, Ernesto Geisel e Golberi do Couto e Silva, entre outros. E um mínimo de respeito ao sentimento nacional de respeito a democracia. A nossa esperança é que um general reformado consiga enquadrar o capitão reformado.(LGLM)

Comentário

Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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