A partir da posse, saberemos a realidade entre o discurso e a prática de Bolsonaro (com comentário nosso)

By | 16/12/2018 4:54 am

 

(Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha)

15/12/2018  14h00

 

Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, no cargo de alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, disse que vai acompanhar o Brasil em relação ao tema. Há muita expectativa, dentro e fora do país, como serão tratadas as minorias depois da posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

 

É uma dúvida pertinente. Sua postura durante décadas de vida pública e também ao longo da campanha sempre foi de desdém em relação aos movimentos identitários, o que acendeu o alerta de que as minorias venham a perder direitos. Bolsonaro coleciona frases e posicionamentos que não deixam dúvida sobre sua natureza machista, racista e homofóbica. Mas apenas a partir da posse saberemos a realidade entre o discurso e a prática.

 

Terminada a eleição, passamos por uma calmaria e temos a chance de tirar a cabeça para fora de nossas bolhas limpinhas. E a dura verdade é que o Brasil precisaria ser um país muito melhor para que pudéssemos afirmar que estamos a caminho do retrocesso, a palavra mais pronunciada por eleitores de centro-esquerda nos últimos meses. Tão alardeado por gente de classes privilegiadas, retrocesso é a realidade de sempre da maioria pobre do país.

 

Mesmo com todos os avanços sociais conquistados, o Brasil tem desempenho medíocre em distribuição de renda, igualdade de gênero, direitos LGBT, educação, combate à violência. O que fica claro com a onda conservadora que levou ao poder um presidente autoritário é que muitas das conquistas têm alicerces frágeis, que serão colocados à prova.

 

Mas nada justifica tamanha histeria nas eleições que, além de produzir falsos ataques, deu a impressão de que vivíamos num país civilizado, prestes a voltar à Idade Média. O temido empoderamento dos eleitores radicais de direita não aconteceu e ainda não voltamos a vê-los fazendo ameaças de que “Bolsonaro vai matar viado” e “negro vai voltar para a senzala”.

 

É o futuro governo quem dará o tom de como os radicais vão se comportar e como a resistência, já anunciada, irá reagir. Ele não só será cobrado, mas responsabilizado, porque boa parte da sociedade não aceitará que o país ande para trás o pouquinho que conseguimos avançar.

 

anúncio de Damares Alves como ministra das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos foi recebido com ressalvas. Em sua primeira entrevista, ela deu declarações polêmicas, mas também outras que deveriam nos deixar um pouco aliviados. Sobre o casamento gay, disse que é um direito civil garantido. Se colocou ao lado dos indígenas, inclusive ao contestar que a Funai seja subordinada ao Ministério da Agricultura e declarou guerra à pedofilia.

 

Agora é torcer para que, como presidente, Bolsonaro seja diferente do candidato que não respeita os direitos humanos. Será o estelionato eleitoral mais celebrado da história.

 

Comentário do programa – Na maioria das mudanças que pretende fazer, Bolsonaro depende da aprovação do Congresso. Até que ponto ele terá condições manobrar o novo Congresso saído das eleições de 2018.(LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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