(Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha)
Em 2000, este repórter trabalhava como correspondente da Folha em Nova York e foi assistir a uma aula na Universidade Columbia de renomado professor de jornalismo cuja especialidade ele definia como “futurismo”, uma tentativa acadêmica de antever tendências na mídia.
Suas apresentações pareciam espetáculos teatrais. Antecedido por som e luzes, ele subiu ao palco naquela manhã e anunciou: “Trago em meu bolso a mídia do futuro, pela qual vocês em alguns anos receberão uma infinidade de informações todas as manhãs em casa!”.
Sacou triunfante um CD-ROM e foi recebido por um “óóóó” entusiasmado da plateia.
Relembro o ridículo do professor, ao apostar como solução do futuro num suporte que nem existe mais, para dizer quão perigosas são as previsões no jornalismo.
Como escreveu Otavio Frias Filho (1957-2018), diretor de Redação da Folha, morto prematuramente em agosto, em um texto intitulado “Factóides”, publicado em 2001:
“A realidade é o que resta das previsões políticas depois de devastadas pelo imprevisto”.
Ainda assim, aqui estamos, tentando desenhar um esboço de 2019 na neblina do fim de 2018. Parece razoável supor que o próximo ano será de esperança.
Espera-se que:
- → o presidente eleito,Jair Bolsonaro, aja segundo seus discursos de vitória e diplomação, não de acordo com a retórica de campanha e suas declarações extremistas do passado;
- → ele faça um bom governo, para os 210 milhões de brasileiros, não apenas para os que o elegeram, respeitando a Constituição e o estado democrático de direito;
- → a economia volte a crescer, e o desemprego, a cair, com inflação e os juros em níveis civilizados;
- → uma reforma consistente da Previdência seja aprovada –logo;
- → a corrupção seja contida, mas igual energia seja despendida para enfrentar o verdadeiro mal que assola o país: a incompetência e a má gestão;
- → o mundo derrube muros, não construa novas barreiras –físicas ou virtuais;
- → o politicamente correto não cerceie o discurso livre; a onda conservadora não cale a voz das minorias;
- → a justificada preocupação com a segurança pública não atropele as liberdades individuais;
- → o mundo digital seja norteado pelas regras de bom senso;
- → o jornalismo profissional siga sendo valorizado, como mostrou campanha espontânea de apoio a assinaturas da Folha iniciada por leitores depois de ataques do presidente eleito.
Sobretudo, findo 2019, espera-se que a esperança não tenha sido em vão.