Um escândalo didático

By | 23/12/2018 5:04 am

 

Caso Coaf mostra desde já que Bolsonaro só é mito na cabeça de seus seguidores mais cegos

(Hélio Schwartsman, colunista da Folha)

 

Imagine, dileto leitor, que estejamos em 2021. Já transcorreu um pouco mais da metade do mandato presidencial de Jair Bolsonaro. Seu plano econômico, capitaneado pelo ex-ministro Paulo Guedes, fracassou. O governo não conseguiu equilibrar as contas públicas, o desemprego aumentou, empresas estão quebrando e a inflação vem aumentando resolutamente a cada mês.

 

Numa situação dessas, a notícia de que a mulher do presidente recebeu um cheque de R$ 24 mil do ex-assessor de um dos filhos, cuja movimentação bancária é incompatível com seus rendimentos declarados, teria boa chance de resultar em impeachment.

 

Fernando Collor, vale lembrar, caiu por causa de um Fiat ElbaDilma, devido a pedaladas fiscais. Mas é importante não confundir os gatilhos das deposições, que podem ser motivos banais ou graves, com o contexto político-econômico que as determinou, isto é, com crises graúdas. Em 2005, com a economia em forma, Lula sobreviveu ao mensalão.

 

Como Bolsonaro acaba de ser eleito e ainda não teve tempo de produzir seus próprios desastres econômicos e políticos, é improvável que o Coafgate venha a causar-lhe grandes problemas proximamente. Acredito que autoridades irão levar a investigação em banho-maria, para utilizá-la como trunfo político em caso de emergência.

 

Embora ainda não haja elementos fáticos para afirmar nada com segurança, a operação flagrada pelo Coaf cheira a “pedágio”, a prática ilegal, mas corriqueira entre parlamentares, de apropriar-se de parte dos salários de seus assessores.

 

Mesmo que não dê em nada, o escândalo é didático, pois mostra desde já que Bolsonaro só é mito na cabeça de seus seguidores mais cegos. O padrão ético do futuro presidente e seus familiares é, como o da maioria dos homens, produto do meio em que vivem, que, no caso é o baixo clero da política, repleto de “pedágios”, funcionários-fantasmas e outras espertezas antirrepublicanas.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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