Oficial de currículo invejável é conhecido por suas duras opiniões, que lhe custaram a chance de chefiar o Exército
(Igor Gielow, na Folha)
Decano do grupo de militares que cercou o capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro em sua vitoriosa campanha à Presidência, Augusto Heleno Ribeiro Pereira odeia ser chamado de eminência parda do mandatário que assumirá no dia 1º.
Nega ser político, mas politicamente virou o conselheiro-chefe da corte bolsonarista, sendo indicado para ocupar o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Membro mais influente fora do círculo familiar de Bolsonaro, Heleno rejeita ser um Golbery do Couto e Silva, general das sombras que mandava e desmandava no fim dos anos 1970 e começo dos 1980, na ditadura militar.
Aqui ele tem razão: sua visão política sempre foi dita à luz do dia, o que teve um preço. Ele passou pelo Gabinete Militar de Fernando Collor, mas sua carreira decolou numa gestão que abominava, a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Foi, com Guedes e Onyx Lorenzoni (Casa Civil), um dos primeiros a ser nomeado para o ministério ainda na campanha —no caso para a Defesa. Acabou no GSI para ficar mais próximo do núcleo decisório do governo.
Bolsonaro atribuiu a ele a indicação do novo titular da Defesa, também general da reserva Fernando Azevedo e Silva. Heleno desconversa.
Heleno era a escolha de Bolsonaro para o cargo de vice na chapa de Bolsonaro, mas uma picuinha eleitoral do PRP, partido ao qual filiou-se em abril deste ano, lhe tirou a legenda.
Com isso, Bolsonaro pediu ajuda ao único aliado, o PRTB, que lhe deu o polêmico Mourão —cujo linguajar é menos diplomático do que o usado hoje por Heleno.
Durante a campanha, foi o general que aplacou a ira da família de Bolsonaro contra a tentativa de protagonismo que Mourão ensaiou após o atentado que tirou o candidato da campanha de rua.
Como o vice, Heleno é muito mais articulado do que o novo presidente ao expor ideias. Seu contato com a mídia, em que pese criticá-la sempre que possível e até responsabilizá-la pelo atentado, sempre foi franco e irrestrito.
Essa proximidade de perfil e o gosto pelo comando sugerem arestas futuras na corte. Amigos de Heleno dizem que ele sabe que não teve voto, então irá jogar pelas regras. O ar de Brasília colocará à prova a fama de que a relação entre ele e Bolsonaro é inoxidável.