Por mais que governantes tenham evitado divulgar a existência dos grupos, a realidade se impôs
Em apenas uma semana, mais de 200 ataques foram registrados em cidades do Ceará. O vandalismo atingiu ônibus, automóveis, agências bancárias, delegacias e prédios públicos. Incêndios e disparos, além de ondas de boatos, assustaram a população do estado, fecharam lojas, reduziram o público nas praias e afugentaram turistas.
Os transtornos foram orquestrados por facções criminosas, que já acumulam longo histórico de atos de violência pelo Brasil. O marco mais expressivo dessa espécie de terrorismo foram os acontecimentos que atemorizaram São Paulo em 2006, patrocinados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).
Desde então, essa e outras organizações, como o Comando Vermelho, ampliaram suas áreas de atuação não apenas em território brasileiro, mas também em países vizinhos com significativa produção de drogas ilícitas.
Por mais que governantes e setores da opinião pública tenham evitado divulgar a existência dessas facções, a realidade se impôs —e uma série de livros e estudos acadêmicos passou a alertar para as dimensões do problema.
Não por acaso, o novo ministro da Justiça, Sergio Moro, que se notabilizou por desbaratar esquemas poderosos de corrupção, anunciou como um dos principais objetivos de sua pasta o combate a essa modalidade de crime.
Acertadamente, Moro pretende criar condições para asfixiar as finanças desses grupos e reduzir a influência deles nos presídios.
Quanto a esse aspecto, não é improvável que o ex-juiz tenha de reavaliar algumas linhas anunciadas pelo presidente para a área de segurança, a começar pela disposição de aumentar o aprisionamento num contexto de superlotação e abandono jurídico de grande parte dos encarcerados —muitos nem sequer condenados.
No Ceará, os ataques foram uma reação à iniciativa do governo estadual de enfrentar o descontrole nas instituições prisionais.
Camilo Santana (PT), que inicia o segundo mandato no comando do estado, anunciou a criação da Secretaria de Administração Penitenciária, para a qual nomeou Luís Mauro Albuquerque, quadro com relevante atuação no setor. Foi no dia seguinte à nomeação que os ataques começaram.
Com dificuldades para conter a onda de violência, o governo petista pediu ajuda federal. Como deve ser, o Ministério da Justiça determinou o envio de tropas da Força Nacional de Segurança.
Será de monta o desafio a ser enfrentado por Moro e pelo novo governo nessa área. Não há, contudo, alternativa senão tratá-lo como uma das prioridades nacionais.
Comentário do programa – Entendemos que, apesar do preço que estão pagando, as autoridades cearenses estão no caminho certo. Ao separar os presos por facções elas só estavam valorizando estas facções e facilitando o trabalho de recrutamento de novos participantes feito por elas. Se os presos se estraçalharem uns aos outros, estão facilitando o trabalho da Justiça, uma vez que a maioria deles é irrecuperável. Será “cobra engolindo cobra”. Basta juntá-los por artigo do Código Penal. 121 com 121, 157 com 157 e assim por diante. (LGLM)