Onde está a inteligência (com comentário nosso)

By | 13/01/2019 6:09 am

 

A melhor medida que Jair Bolsonaro tomou até agora foi o cala a boca dirigido aos seus circunstantes

(Janio de Freitas, jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha)

 

A melhor medida que Jair Bolsonaro tomou até agora, apesar de infrutífera, foi o cala a boca dirigido aos seus circunstantes. Inaugurado com o vice Mourão, não parou de repetir-se com vários outros, por reconhecida necessidade e total inutilidade.

 

 

Um erro de princípio, aliás, contribuiu para o fracasso: Bolsonaro não se incluiu na conveniência do mutismo. E as asneiras e inverdades destrinchadas pelo noticiário não abarcam a safra diária.

 

O general Augusto Heleno, por exemplo, diz que “fizeram um auê disso aí sem nada”, sendo o “disso aí” a possibilidade de instalação de uma base militar americana no Brasil. O “auê” foi a simples notícia proveniente de Bolsonaro.

 

O general mostra sua firmeza: “Ele falou comigo que não falou nada disso. Foi um comentário quando falaram de base russa, não sei quê, aí saiu esse assunto, de repente é base americana.”

 

A tal base russa foi uma hipótese da guerra verbal contra a Venezuela. Mas se “aí saiu esse assunto” que é a base americana, o general diz, de modo indireto, que o assunto foi falado.

 

E, de fato, Bolsonaro disse no SBT que poderia negociar com os Estados Unidos a instalação aqui de uma base americana.

 

Se a ideia foi uma leviandade a mais ou se teve algum propósito definido, negar sua ocorrência na TV não é inteligente. E atribuí-la a um “auê” da imprensa é uma tentativa de tapear a opinião pública. O que em poucos dias já mostra mais uma deformidade dos novos governantes.

 

Onyx Lorenzoni demite em massa na assessoria da Presidência: “É a despetização do governo”. Daí decorrentes, dois títulos da Folha informam sobre o resultado: “’Caça a petistas’ de Onyx desarticula todo o corpo técnico da Casa Civil” e “Exonerações de Onyx paralisam Comissão de Ética da Presidência” (dias 7 e 8).

 

As demissões tão citadas em postagens de Bolsonaro e tão exploradas por Lorenzoni são uma farsa com face dupla.

 

Quem tinha vínculo com o PT foi substituído, junto a muitos outros, por vinculados a Geddel Vieira Lima, Moreira Franco, Eliseu Padilha, Carlos Marun e, claro, Temer e seu compra-e-vende com deputados e senadores.

 

As demissões estão feitas sem critério algum, para abrir o máximo de vagas aos vinculados à nova turma do poder. Várias nomeações do gênero já foram noticiadas, casos com algum atrativo particular. O dispositivo técnico está arruinado.

 

A extinção da Justiça do Trabalho, disse Bolsonaro também no SBT, “está sendo estudada”. Porque há “excesso de proteção” ao assalariado. Sua convicção: “Tem que ter a justiça comum” para o assalariado reclamante. “Até um ano e meio atrás, eram em torno de 4 milhões de ações trabalhistas por ano. Ninguém aguenta isso.”

 

Extinguir a Justiça do Trabalho, para eliminar o que Bolsonaro considera insuportável, é só uma obtusidade. Por sua receita, apenas acrescentaria milhões de processos ao entupimento da Justiça Cível e da Criminal, inviabilizando-as em definitivo. E isso é chamado de reforma.

 

O que Bolsonaro deseja está na eliminação de direitos. Tornados leis e regulamentos porque o patronato brasileiro, envenenado pelos legados escravocratas e pela concentração dos recursos financeiros, burlava com frequência até os mínimos deveres humanitários.

 

Esse patronato, por sua vez, deixou herança “cultural”. E a ela se deve a quase totalidade dos milhões de pedidos à Justiça do Trabalho para verificação de direitos talvez relegados —isto é o processo trabalhista. Mas Bolsonaro não pode compreender.

 

Comentário do programa – Bolsonaro foi eleito com apoio maciço dos empresários, animados com suas promessas de acabar com a Justiça do Trabalho e com o Ministério do Trabalho, que impedem que os patrões soneguem os direitos dos trabalhadores. Ele já esquartejou o Ministério do Trabalho e vai intentar agora contra o Ministério Público do Trabalho e a Justiça do Trabalho. Os trabalhadores vão pagar a conta da campanha eleitoral que o elegeu com esta ameaça aos seus direitos. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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