Planalto age para que suspeita sobre Flávio Bolsonaro não se torne crise de governo (com comentário nosso)

By | 20/01/2019 9:03 am

 

Assessores defendem que filho do presidente conceda entrevistas para dar transparência ao caso

(Gustavo Uribe e Ricardo Della Coletta, na Folha)

 

Com o agravamento das suspeitas contra o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o Palácio do Planalto iniciou estratégia para evitar que o episódio se transforme em uma crise de governo.

 

A orientação recebida por integrantes da equipe ministerial é de que, a partir de agora, evitem comentar o tema em público, tratando-o como uma questão particular do filho do presidente Jair Bolsonaro.

 

A ideia é tentar, assim, blindar a gestão federal das suspeitas, reduzindo o risco delas contaminarem a imagem do presidente e afetarem a sua aprovação popular, ainda em alta no início da administração e à véspera da viagem do presidente ao Fórum Econômico Mundial, que se realizará na próxima semana em Davos, na Suíça.

 

Em outra frente, para tentar arrefecer as suspeitas, a equipe do Planalto sugere que o senador eleito conceda novas entrevistas a veículos de imprensa, dando explicações sobre o episódio e municiando aliados com argumentos para que saiam em sua defesa.

 

Na sexta-feira (18), um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou movimentações atípicas de Flávio. Ele recebeu em sua conta bancária 48 depósitos em dinheiro no valor total de R$ 96 mil, depositados apenas em cinco dias.

 

Eles foram feitos no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) sempre no valor de R$ 2 mil.

 

Segundo reportagem do Jornal Nacional, o documento afirma que o fato de terem sido feitos de forma fracionada desperta suspeita de ocultação da origem do dinheiro.

 

Na mesma noite, foi exibida uma entrevista de Flávio à Rede Record, na qual ele fez críticas ao Ministério Público e se defendeu das acusações.

 

Neste sábado (19), o presidente do PSL, Luciano Bivar, saiu em defesa de Flávio e disse ter “absoluta convicção” da retidão do senador eleito.

 

“Pelo o que eu conheço, ele (Flávio) é uma pessoa decente. O Jair teve sorte de ter três filhos que se fizeram pelas próprias competências”, disse.

 

Apesar da declaração, a avaliação entre parlamentares do partido é de que o relatório do Coaf só aumenta o desgaste do episódio.

 

Além disso, fragiliza uma das argumentações utilizadas pelo filho de presidente: a de que as movimentações atípicas eram um problema de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, e portanto caberia apenas a ele se explicar.

 

Parlamentares também avaliam, reservadamente, que toda a gestão do caso Coaf, da parte de Flávio, não conseguiu estancar o prejuízo para o governo. No curto prazo, o diagnóstico é de que o senador eleito chega fragilizado e enfraquecido para o início do seu mandato.

 

Para além disso, a divulgação do novo relatório fez com que alguns aliados cobrassem explicações do senador eleito. “Você tem um problema agora que já merece dele (Flávio) explicações claras. Ele vai ter que se explicar”, diz o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos expoentes da bancada evangélica.

 

“Agora, também tem que ser justo. Se houver ilícito, não é nenhum ilícito da prática de senador [seria anterior ao mandato]. Ele vai ter que responder como deputado estadual no exercício da função”, acrescenta, argumentando que o caso deveria ser apurado pela Justiça estadual.

 

Para o deputado, no entanto, os novos indícios que afetam o senador eleito não podem ser utilizados para atingir o presidente. “Também não acho justo imputar um erro do filho ao pai, ou vice-versa. Cada um responde por si, cada um tem o seu CPF”, ressaltou.

 

Na sexta-feira (18), antes mesmo da divulgação do relatório do Coaf, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o episódio é uma tentativa de minar o governo federal por meio do que ele classifica como um terceiro turno das eleições presidenciais.

 

Comentário do programa – Esta é uma prática comum no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores. Salários de assessores nunca são pagos integralmente aos que constam como seus verdadeiros destinatários. O assessor recebe um determinado valor em sua conta bancária, mas tem que devolver uma parte do dinheiro para alguém que faz uma redistribuição deste dinheiro. O destino do dinheiro é diverso. Em alguns casos, vão remunerar outros assessores que não constam da folha de pagamento. Um amigo meu foi assessor de imprensa de um deputado e todo mês recebia seus vencimentos em dinheiro, diretamente do chefe de gabinete. Em outros casos, o dinheiro recolhido é devolvido para o próprio deputado ou senador, o que parece que era feito no caso do filho de Bolsonaro. Afinal de onde vinham os noventa e seis mil reais depositados na conta dele, em cinco dias, em depósitos de dois mil reais, feitos na agência bancária que funcionava na própria Assembleia Legislativa? Aqui o irregular era a destinação do dinheiro. Pior é a situação no caso de funcionários fantasmas que não prestavam o serviço pelo qual eram pagos e simplesmente devolviam a maior parte do dinheiro que recebiam, para a caixinha comum. E o caso traz uma agravante. Se o dinheiro repassado pelo motorista de Flávio Bolsonaro tinha esta origem espúria, a sujeira atinge aqueles vinte e quatro mil reais depositados na conta de Michele, esposa de Jair Bolsonaro. Que depois de alardear-se como um paladino na luta contra a corrupção, vê a corrupção cercá-lo por todo o lado, vindo de parte da própria família. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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