Em vitória para Bolsonaro, Davi Alcolumbre é eleito presidente do Senado

By | 03/02/2019 5:56 am

Resultado representa uma vitória do governo, mas deixa feridas que podem ser problemáticas para a gestão Bolsonaro

(Daniel Carvalho , Ranier Bragon , Thais Bilenky e Marina Dias, da Folha)

 

Depois de muita confusão, de recurso ao Supremo Tribunal Federal e da anulação de uma votação sob suspeita de fraude, o plenário do Senado elegeu na noite deste sábado (2), em votação secreta, Davi Alcolumbre (DEM-AP), 41 anos, como presidente da Casa até janeiro de 2021. Ele  recebeu 42 dos 77 votos.

 

A vitória se deu após renúncia do até então favorito, Renan Calheiros (MDB-AL), que se retirou da disputa sob o argumento de que pressões antidemocráticas lhe suprimiram votos —ele chegou a citar os senadores José Serra (PSDB-SP), Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

 

O resultado representa uma vitória do governo, mas deixa feridas que podem ser problemáticas para a gestão de Jair Bolsonaro.

 

A candidatura de Alcolumbre foi bancada pelo ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni (DEM), que obtém fôlego para seguir na articulação política do governo.

 

Renan e aliados, porém, têm ainda relativo poder no Senado, o que pode representar problemas já que para a aprovar a principal medida do início de sua gestão, a reforma da Previdência, é preciso o apoio de pelo menos 60% dos deputados federais e dos senadores.

 

O governo tentará trabalhar também em outros temas prioritários que dependem do Congresso, como o pacote de combate à corrupção e a criminalidade que está sendo montado pelo ministro Sergio Moro (Justiça).

 

O resultado deste sábado também consolida nas mãos do DEM, até então uma legenda mediana, um dos maiores poderes da Esplanada dos Ministérios —comandará a Câmara (com Rodrigo Maia, reeleito na sexta) e o Senado, além de três ministérios do governo Bolsonaro.

 

Onyx também tentou no início montar um nome alternativo a Maia na Câmara, mas se afastou quando o colega do DEM conseguiu consolidar apoio.

 

Os senadores empossados nesta sexta (1º) passaram mais de 13 horas nesta sexta e sábado em sessões que motivaram diversos discursos, dos próprios senadores, se dizendo envergonhados com o que estava acontecendo.

 

Houve uma sucessão de manobras antirregimentais, confusões, idas e vindas e até uma votação anulada sob suspeita de fraude.

 

O pano de fundo foi a disputa entre Renan —político de bastidores que soma 40 anos de trajetória política, 24 deles no Senado, Casa que já presidiu por quatro vezes— e o grupo governista comandado por Onyx Lorenzoni (DEM), antigo desafeto.

 

Para barrar as pretensões do emedebista, Onyx trabalhou o nome de Alcolumbre, político que há 15 anos habitava o chamado “baixo clero” do Congresso. A mulher do ministro da Casa Civil foi empregada do gabinete de Alcolumbre.

 

Desde esta sexta, o senador do Amapá e aliados tentaram passar por cima do regimento do Senado e fazer uma votação aberta para escolha, o que praticamente eliminava as chances de sucesso de Renan. O emedebista é alvo da Lava Jato e de diversas campanhas públicas contra a chamada “velha política”. Ou seja, não teria chances em uma votação aberta.

 

Aliados de Renan inviabilizaram a sessão de sexta, operação que contou com o “sequestro” da pasta de condução dos trabalhos pela senadora Kátia Abreu (PDT-TO). Após o término da sessão ela disse ter deixado a pasta de volta sobre a Mesa do plenário.

 

Na madrugada deste sábado, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, atendeu a pedido de aliados de Renan e mandou o Senado seguir o regimento e realizar a votação secreta, como estabelece o regimento e como sempre foi feito.

 

A sessão foi retomada pouco antes das 12h deste sábado. Na primeira votação em cédulas de papel houve mais uma confusão.

 

Após a abertura da urna e checagem dos papéis, constatou-se a existência de 82 cédulas, sendo que só há 81 senadores.

 

Realizou-se, então nova votação. Nesse momento, o PSDB decidiu mostrar a cédula e declarar todos os seus votos em Davi Alcolumbre. Flávio Bolsonaro, que também não havia revelado o voto no primeiro escrutínio, fez o mesmo. Ele é investigado por movimentações suspeitas em suas contas e já era cobrado em redes sociais por um suposto acordo de apoio a Renan em troca de escapar do Conselho de Ética.

 

Renan apontou essas mudanças de posição de Flávio e do PSDB como razões para sair da disputa.

 

Logo após deixar às pressas o plenário, ele negou que vá entrar na Justiça e deixou em aberto qual será sua relação com o governo Jair Bolsonaro.

 

“Eu retiro a postulação porque entendo que o Davi não é o Davi, é o Golias. Davi sou eu. Ele é o Golias, atropela o Congresso. O próximo passo é o Supremo Tribunal Federal sem o cabo e sem o sargento”, afirmou Renan em entrevista, fazendo alusão a uma declaração de outro filho do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Em uma palestra Eduardo havia dito que não era necessário nem um jipe, basta um soldado e um cabo para fechar o STF.

 

Segundo o senador do MDB, Flávio foi pressionado a abrir seu voto no segundo escrutínio.

 

“Estou saindo porque o voto foi declarado na forma do regimento como secreto. Eles abriram o voto. Na primeira votação, houve um equívoco, um voto a mais e, por conta disso, eles abriram o voto do PSDB para inibir quatro possibilidades de votos que tínhamos. Qual a lisura? E no final o filho do presidente fez questão de abrir o voto”, afirmou.

 

Político com mandato desde 2001, quando tinha 23 anos, Alcolumbre foi vereador até 2002, deputado federal de 2003 a 2014 e senador desde então.

 

Em todos esses anos, quase nunca participou de movimentações políticas de relevo. O maior feito político de sua carreira foi desbancar em 2014 o candidato de José Sarney (MDB-AP) e se eleger senador pelo Amapá.

 

Além de Renan e Alcolumbre, registraram-se como candidatos e foram até o final Esperidião Amim (PP-SC), Angelo Coronel (PSD-BA), Regguffe (sem partido-DF) e Fernando Collor (PROS-AL).

 

Quatro dos 81 senadores não votaram: Renan, Jader Barbalho (MDB-PA), Eduardo Braga (MDB-AM) e Maria do Carmo (DEM-SE).

 

O presidente do Senado é o terceiro na linha sucessória da Presidência da República e tem, entre outros poderes, o de definir a pauta de votações do plenário.

 

O resultado da eleição no Senado foi o seguinte:

  • Davi Alcolumbre(DEM-AP) – 42 votos
  • Esperidião Amin(PP-SC) – 13 votos
  • Angelo Coronel (PSD-BA) – 8 votos
  • Reguffe (sem partido-DF) – 6 votos
  • Renan Calheiros(MDB-AL) – 5 votos
  • Fernando Collor(Pros-AL) – 3 votos

 

Eleição dos demais cargos da Mesa será na quarta-feira

(Agência Senado)

 

Depois de mais de oito horas de reunião preparatória neste sábado (2), os senadores adiaram para a próxima semana a escolha do restante dos cargos da Mesa. Os cargos de primeiro e segundo vice-presidente, além de quatro secretários e quatro suplentes, serão eleitos na terceira reunião preparatória do Senado quarta-feira (6), às 15h. O mandato dos novos ocupantes da Mesa será de dois anos.

 

As atribuições da Mesa do Senado estão previstas na Constituição federal e no Regimento Interno do Senado. Na ausência do presidente cabe ao primeiro e ao segundo-vice-presidentes da Mesa substituí-lo, nessa ordem.

 

Ao primeiro-secretário compete rubricar a listagem especial com o resultado da votação realizada através do sistema eletrônico, realizar a leitura em Plenário da correspondência oficial recebida pelo Senado e de todos os documentos que façam parte do expediente da sessão. Além disso, ele assina e recebe a correspondência do Senado e é responsável pela supervisão das atividades administrativas da Casa, entre outras competências.

 

O segundo-secretário é incumbido de lavrar as atas das sessões secretas, proceder-lhes a leitura e assiná-las depois do primeiro-secretário. O terceiro e quarto-secretários são responsáveis por fazer a chamada dos senadores, nos casos previstos no Regimento, contar os votos e auxiliar o presidente na apuração das eleições. Finalmente, os quatro suplentes de secretários substituem os secretários, na ausência destes.

 

Comissão Diretora

Os senadores eleitos para a Mesa integram também a Comissão Diretora da Casa, órgão que trata das questões administrativas, da organização e do funcionamento do Senado. Além disso, é da responsabilidade da Comissão Diretora dar redação final às propostas de iniciativa do Senado e aquelas originadas na Câmara dos Deputados e alteradas por emendas aprovadas pelos senadores.

 

A comissão é encarregada ainda do exame de requerimentos de tramitação conjunta de matérias correlatas e de recursos a decisão do presidente do Senado vinculando projetos com conteúdo similar.

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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