Em reunião, ministro foi informado que, por enquanto, segue no cargo. Presidente foi convencido a aguardar investigação da Polícia Federal
(Gustavo Uribe e Talita Fernandes, na Folha)
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) pretende adotar a estratégia de isolar o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, até que investigação aberta pela Polícia Federal demonstre que ele não cometeu irregularidade no escândalo das candidaturas laranjas do PSL, revelado pela Folha.
Em reunião nesta sexta-feira (15), Bebianno foi informado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que o presidente suspendeu o seu afastamento do posto. A ideia é aguardar o avanço da apuração para definir se ele permanecerá ou deixará a função
Segundo auxiliares presidenciais, ao longo do dia, Bolsonaro foi convencido por ministros e deputados de que a saída do ministro neste momento poderia prejudicar a relação entre Executivo e Legislativo, sobretudo em relação à reforma previdenciária, que deve ser enviada na quarta-feira (20).
Encurralado desde quarta-feira (13), Bebianno passou os dois últimos dois dias em reuniões com deputados e ministros, numa tentativa de esfriar a crise de governo. Nesse movimento, conseguiu o apoio da cúpula militar e da maior parte da bancada federal do PSL, que acabaram demovendo Bolsonaro.
Com a permanência temporária de Bebianno, e diante de seu desgaste de imagem, o presidente foi aconselhado, como definiu um assessor palaciano, a manter o ministro “no banco de reserva”, tornando-o um auxiliar de “segunda classe”.
A ideia, apoiada inclusive pelos filhos de Bolsonaro, é de que ele seja submetido a um processo de esvaziamento, excluindo-o de reuniões, agendas, viagens e eventos para não “contaminar o governo” até que a Polícia Federal chegue a uma conclusão.
Bebianno presidiu o PSL entre janeiro e outubro de 2018. Após a Folha revelar que o esquema ocorreu durante o período, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, acusou o ministro de ter mentido ao declarar que havia tratado do tema com o presidente.
A crítica, feita nas redes sociais, foi compartilhada no perfil oficial de Jair Bolsonaro, que afirmou, em entrevista à TV Record, que se Bebianno estiver envolvido no esquema, poderia “voltar às suas origens“, o que ampliou a pressão para que o ministro pedisse demissão do cargo.
A postura de Carlos foi considerada inadmissível pela cúpula militar do governo. O maior crítico foi o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, que defendeu em conversas reservadas o afastamento do filho das redes sociais do presidente.
O presidente, porém, não tomou uma decisão sobre o tema. A avaliação no Palácio do Planalto é de que Carlos, que tem um temperamento considerado difícil, pode até, temporariamente, reduzir o tom das críticas a integrantes do governo nas redes sociais, mas que é impossível afastá-lo definitivamente.
O diagnóstico é de que o presidente se colocou em uma situação delicada diante da crise ao ter compartilhado a manifestação do filho. Segundo relatos, o presidente não esperava que Bebianno fosse insistir tanto em seguir no posto.
Caso Bebianno caia ao fim do processo, o governo avalia duas possibilidades: ou entregá-la a um parlamentar do PSL, tentando reduzir o dano com o episódio, ou extingui-la, passando as atribuições para a Casa Civil ou Secretaria de Governo.
Comentário do programa – Esta história de dinheiro investido em candidaturas laranjas do PSL está “fedendo a queimado”. Um partido que se queria paladino da lisura e da honestidade estaria metido até as orelhas nas suspeitas de desvios do Fundo Partidário. E como fica o presidente eleito pelo partido que se apresentava como um guerreiro contra a desonestidade? (LGLM)