O anúncio da renúncia de Bonifácio pegou a todos de surpresa. E a primeira pergunta que se fazia era o que tinha determinado a sua decisão. A carta em que comunica sua renúncia ao presidente da Câmara de Vereadores, como manda a praxe administrativa, ele foi lacônico. Depois distribuiu com a imprensa uma carta onde justifica os seus motivos. Políticos, administrativos e de foro íntimo.
Carta em que Bonifácio explica os motivos da sua renúncia
RENÚNCIA
Consciente do chamado da justiça para cumprir uma interinidade que poderia ser interrompida a qualquer momento, dei o melhor mim a cada dia como se fosse o último da nossa gestão.
O pensamento foi direcionado exclusivamente para restabe’ecer a estima de um povo maltratado pelos acontecimentos políticos administrativos dos últimos anos. Nessa missão que me confiada contei com o apoio de pessoas íntegras a quem agradeço imensamente.
Nossa gestão buscou reconhecer direitos ao tempo em que realizou economias em diversas frentes, a exemplo de combustiveis, serviços, limpeza, iluminação, locação, enfim… rescindiu contratos e passou a licitar serviços em atendimento pleno à legislação vigente.
Nossa gestão desagradou muita gente com interesses não republicanos. Sofreu ataques injustamente. Mantivemos a resiliência e o equilbrio porque sabíamos que estávamos fazendo a coisa certa e de consciência tranquila.
Dei o exemplo, recebi do Poder Público o líquido do meu salário.
Infelizmente, deparei-me com uma realidade doente, culturalmente, em se tratando da briga pelo poder. Onde já não havia reciprocidade de todas as forças que poderiam atuar para o bem da cidade. Falo da cidade, pois desde o primeiro dia do nosso mandato interino deixei claro que não havia pretensão de promoção pessoal.
Chegamos num momento que, por tudo que envolve a briga insana pelo poder, já não vejo as mesmas condições para continuar avançando, mesmo retornando a cidade para os trilhos. A eleição que se aproxima contamina uma oportunidade e passa a ser objetivo principal de muitos.
Sei que restabelecemos a governabilidade diante de caos estabelecido, destravamos projetos, muitas obras a iniciar e iniciando e muitas licitações em fase conclusiva, nos preocupamos por algum tempo a sanar todas as inconsistências dos projetos, viabilizando-os para a execução.
Acredito que a partir desse ponto, um novo choque e novas ideias trarão mais benefícios para a cidade do que persistir em remar contra uma correnteza mais forte do que as minha forças. Nunca quis e nem quero benefício próprio. Agradeço a todos os que nos ajudaram até aqui e que Patos não desperdice o que conquistamos no restabelecimento da moral com a coisa pública.
Bonifácio Rocha de Medeiros
Comentário do programa – Concordamos plenamente com Bonifácio Rocha. Ele levou a peito recuperar a confiança dos patoenses na administração pública, depois dos problemas que a atropelaram nos últimos anos. Dois prefeitos constitucionais afastados por suspeitas com relação à aplicação dos recursos públicos. Para executar esta recuperação da confiança ele contou realmente com o apoio de pessoas íntegras. Aproveitou algumas da administração de Dinaldinho e nomeou outras que merecessem a sua confiança. Respeitou o direito de quem tinha direito e realizou economias indispensáveis para o equilíbrio das contas públicas como as de combustíveis, serviços, limpeza, iluminação, locação de veículos. “Rescindiu contratos e passou a licitar serviços em atendimento pleno à legislação vigente”. Este um dos motivos das pressões que sofreu durante seus oito meses de mandatos e, principalmente, nos últimos dias. A prática costumeira é utilizar as licitações para atender interesses pouco repuclicanos.Beneficiar determinadas pessoas, em prejuizo do erário. Isto mexeu com interesses e originou pressões que se tornaram insuportáveis para um cidadão de vida limpa e sem interesses inconfessáveis. “Nossa gestão desagradou muita gente com interesses não republicanos. Sofreu ataques injustamente. Mantivemos a resiliência e o equilbrio porque sabíamos que estávamos fazendo a coisa certa e de consciência tranquila”. Os ataques foram de parte de pessoas que têm interesses não republicanos. Pessoas que tiveram os interesses contrariados. Gente acostumada a se aproveitar da administração para se locupletar. “Dei o exemplo, recebi do Poder Público o líquido do meu salário”. Em outras palavras, só levou da administração o seu salário líquido ou seja com os descontos de Previdência e Imposto de Renda. O que se viu por trás das críticas, foi a disputa pelo poder, atual e futuro, de gente que só pensa em se locupletar agora e preparar o terreno para futuras eleições. Pessoas que deviam estar unidas com ele, procurando fazer o bem da cidade e só pensavam em si. Tudo isso junto causou o impasse que o levou à renúncia. Não por covardia, mas por não conseguir ir adiante. Consciente do que avançou na administração, recuperando a governabilidade, destravando projetos e iniciando obras, espera que sejam aproveitados estes avanços no restabelecimento da moral no uso da coisa pública.
Bonifácio deixou nas entrelinhas um fato que permeia todo o problema da administração municipal e contra o qual ele lutou enquanto pode. Qualquer que seja o administrador de Patos, só saneia as contas públicas se fizer uma severa redução da Folha de Pagamento. Todas as economias que fez durante a a sua administração barravam no custo mensal da Folha de Pagamento. Manteve-a atualizada, sem pedaladas, sem os costumeiros desvios de recursos de outras áreas. Os fornecedores de seu período foram pagos em dia. Mas com economias que terminaram impactando áreas como Saúde e Educação, apesar dos esforços dos seus Secretários de Saúde e Educação. A redução da Folha é medida antipática e, aparentemente antissocial, mas imprescindível a quem queira “tocar o barco para a frente”. Embora não confesse claramente em sua carta, as resistências a estes cortes nas folhas de comissionados e contratados, foram um dos motivos para a sua renúncia. Não cheguei a conversar com Bonifácio imediatamente antes nem depois de sua renúncia, mas vinha acompanhando de perto a administração e por isso cheguei a estas conclusões. (Luiz Gonzaga Lima de Morais)