Quando o piso vira teto (com comentário nosso)

By | 28/04/2019 6:22 am

 

Sigilo sobre estudos da reforma da Previdência escondia gordura bilionária

(Julianna Sofia, jornalista, secretária de Redação da Sucursal de Brasília)

 

O estratagema para esconder os estudos e pareceres que serviram de fundamento para a reforma da Previdência afinal tinha objetivo prosaico. O governo de Jair Bolsonaro esquivou-se, até onde pode, de abrir os microdados para não ser obrigado a revelar que as mudanças nas aposentadorias embutem uma gordura de centenas de bilhões.

 

Ao franquear o acesso aos números, surpreendeu até analistas mais atentos sobre o tamanho da economia da nova Previdência. Em vez de R$ 1,072 trilhão de ganho fiscal com as alterações, a expectativa é atingir uma cifra ainda maior: R$ 1,236 trilhão. O argumento técnico é a atualização de parâmetros e o período de cálculo do impacto —o intervalo de dez anos será considerado a partir de 2020, e não mais 2019.

 

Com tamanha adiposidade, o espaço para acordo com congressistas é bastante elástico. Imagine se tivessem tomado conhecimento disso os incautos da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)! Lá, a PEC foi aprovada nesta semana com um placar folgado de 48 a 18 votos.

 

Dados na mesa, sabe-se agora que a pressão contra pontos polêmicos da proposta tem potencial de estrago limitado e absorvível. Caso venham a ser retiradas pelo governo as modificações no BPC, na aposentadoria rural, no abono salarial e nas regras para professores, durante a votação na comissão especial, a reforma mesmo assim garantirá um alívio acima de R$ 900 bilhões.

 

O valor é bem superior ao resultante do texto aprovado pela comissão especial da PEC previdenciária de Michel Temer em 2017. Após várias concessões, a proposta assegurava uma economia de R$ 600 bilhões —ok, é preciso considerar que de lá para cá as condições fiscais se deterioraram de forma expressiva.

 

Na quinta (25), o presidente Bolsonaro afirmou que o piso para negociação aceito por Paulo Guedes (Economia) é de R$ 800 bilhões. Do ponto de vista estratégico, uma obtusidade. O capitão reformado imagina ter estabelecido um piso. Na realpolitik, pode tratar-se de novo teto.

 

Comentário do programa – Bolsonaro mais uma vez mostra o seu despreparo. Quem vai sentar numa mesa de negociação não diz, logo no início, qual o seu limite mínimo para negociação. Seria a mesma coisa de você ir vender um carro, pedir dez mil reais por ele e dizer que vende até por seis. O comprador vai oferecer quatro para comprar por cinco. Qualquer besta, como eu, sabe disso. Por outro lado, ao esconder os cálculos de ganhos feitos pelo Governo, ele escondia a margem de negociação que tinha para enfrentar os parlamentares. Mas outras coisas estão escondidas por trás de tudo isso. A reforma não vai salvar a Previdência. Ela vai apenas abrir mais buracos dos que os que existem atualmente. E mais uma vez, os buracos novos só vão beneficiar os grandes empresários. E nós,  “os bestas”, vamos pagar a conta, Por exemplo, uma previdência capitalizada sem custos para as empresas, joga prejuízos nas costas dos trabalhadores e os lucros nas contas das empresas do mercado financeiro. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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