Centrão usa mudança do Coaf para tentar esvaziar poder de Moro

By | 12/05/2019 6:35 am

 

Parlamentares agem para restringir trabalho de auditores fiscais e podem votar projeto contra abuso de autoridade

(Daniel Carvalho, na Folha)

 

A mobilização de partidos do chamado centrão para tirar o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) do Ministério da Justiça e manter a restrição ao trabalho de auditores fiscais nos últimos dias evidenciou uma articulação no Congresso para frear o que parlamentares consideram abusos.

 

Dirigentes partidários também começaram a se articular para submeter a votação projeto que pune abuso de autoridade, como mostrou o Painel nesta sexta-feira (10).

 

O assunto é tratado em uma proposta que está no Senado sob a relatoria do líder do DEM na Casa, Rodrigo Pacheco (MG). A matéria ainda não tem data para ser votada.

Na quinta-feira (9), integrantes de PP, PSD, DEM, PR, MDB, DEM e PSDB somaram-se a nomes de PT, PDT e PSB para levar o Conselho para o Ministério da Economia, tirando-o da Justiça.

 

A vitória do centrão se deu na comissão que analisou a MP 870, responsável pelo redesenho de ministérios do governo Jair Bolsonaro e suas atribuições.

 

Deputados e senadores têm explicitado a intenção de esvaziar os superpoderes do ministro Sergio Moro. O ex-juiz é tido como um dos alicerces morais do governo Bolsonaro, que, embora tenha pouco mais de cinco meses, acumula sucessivos desgastes.

 

O Coaf é considerado por Moro como estratégico para as ações de combate à corrupção de seu ministério.

 

“Se queremos enfrentar facções, milícias, precisamos ter uma estrutura forte do Estado. E essa estrutura deve ficar sim sob a égide do Ministério da Justiça, que tem a competência, a expertise. Para a felicidade do povo brasileiro hoje, tem a figura do [ex] juiz Sergio Moro”, defendeu o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), em uma das sessões da comissão.

 

Parlamentares reagiram à tentativa de personificação.

 

“É absolutamente inapropriado dizer que, se não funcionar debaixo do poder do ministro Sergio Moro, não vai funcionar”, disse o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL).

O líder do DEM na Casa, Elmar Nascimento (BA), foi na mesma linha.

 

“Sob a égide do discurso de combate à corrupção nasceram todos os Estados fascistas do mundo. Por que é que vai se dotar o Ministério da Justiça do instrumento que poderá oferecer perseguição a quem quer que seja de forma aleatória de um órgão que tem funcionado tão bem no Ministério da Economia?”, indagou Nascimento.

 

Criado em 1998, o Coaf é um órgão de inteligência financeira que recebe informações de setores obrigados por lei a informar transações suspeitas de lavagem de dinheiro.

 

Até o fim do ano passado, o órgão funcionava no Ministério da Fazenda, pasta que foi hipertrofiada e substituída pelo Ministério da Economia.

 

Foi o Coaf que, no ano passado, identificou movimentações atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

 

Outro ponto que gerou polêmica na MP foi a inclusão de um parágrafo segundo o qual a competência do auditor da Receita Federal “limita-se, em matéria criminal, à investigação dos crimes contra a ordem tributária ou relacionados ao controle aduaneiro”.

 

O texto diz que indícios de outros crimes identificados pelos auditores não podem ser compartilhados, sem ordem judicial, com órgãos ou autoridades a quem é vedado o acesso direto às informações bancárias e fiscais.

 

O jabuti (tema estranho à proposta) foi incluído pelo relator da MP e líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

 

“A limitação de atuação dos auditores fiscais ao rol taxativo de crime específico contra a ordem tributária e o controle aduaneiro fulmina a investigação e a eventual punição de quem comete crimes complexos”, criticou Olímpio.

 

Bezerra argumenta que o objetivo da emenda é vedar que um fiscal, valendo-se do acesso que tem a informações bancárias e fiscais do contribuinte, compartilhe com autoridades que não têm a mesma prerrogativa, indícios de crimes não tributários.

 

“Este comportamento do qual se tem notícia atualmente representa uma burla ao controle judicial que se impõe sobre as demais autoridades”, disse Bezerra.

 

O texto que define a estrutura do governo Bolsonaro está sob ameaça do calendário. Na próxima semana, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), cumprem agenda nos Estados Unidos, o que pode paralisar as atividades no Congresso.

 

A medida provisória da reestruturação caduca no dia 3 de junho e só deve ser votada nas duas Casas depois da apreciação de outras duasMPs que vencem antes.

 

Comentário do programa –O COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) é um órgão de inteligência financeira criado em 1998. Ele recebe informações de setores obrigados por lei a informar transações suspeitas de lavagem de dinheiro, como bancos e corretoras, e encaminha os casos ao Ministério Público. O órgão tem trabalhado em conjunto com a Polícia Federal. Ou seja é importante fornecedor de subsídios para a abertura de processos por lavagem de dinheiro e distribuição de propinas. Não sei por que a surpresa pelo fato de deputados e senadores quererem o COAF longe das mãos de Sérgio Moro. Onde se viu bandido querer facilitar as coisas para a Justiça julgar os seus próprios crimes? A não ser na delação para diminuir a própria pena. Todos os projetos de Sérgio Moro para punir crimes de colarinho branco serão bombardeados pelo Congresso, onde como há muito se dizia que existem uns quatrocentos picaretas. E mesmo entre “as caras novas” eleitas por conta do “fenômeno” Bolsonaro já despontam os picaretas, criadores de “laranjas” e promotores de “rachadinhas”. “Laranjas” usadas para desvio de dinheiro do Fundo Partidário em Minas e Pernambuco e “rachadinhas” para comer dinheiro de funcionários de certos gabinetes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

 

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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