(Publicado no Patos Online)
A cidade de Patos construiu ao longo do tempo a tradição de um São João cada vez mais grandioso. A ponto de alguns se gloriarem de fazermos um dos melhores São João do Brasil, tentando rivalizar com Caruaru, Campina Grande e outros tão famosos quanto. Mas isto passou a custar cada vez mais caro para o município. Estruturas de palco e camarotes caríssimas. Artistas cada vez mais caros, a ponto de um Xande de Aviões custar trezentos mil reais e Wesley não sair por menos de quinhentos mil reais. Além de sertanejos desconhecidos que cobram os “olhos da cara”. Houve uma tentativa de privatização da festa, mas isto exigia um investimento pesado do município, enquanto as empresas promotoras levavam todo o lucro. Ninguém queria arcar com todo o custo, exigindo uma contrapartida muito cara do município com poucos retornos para isto. Fortunas foram feitas por estes empreendedores, que “faziam a festa com o chapéu alheio”.
A tentativa de retorno da festa ao controle do município coincidiu com dois movimentos que terminaram onerando cada vez mais a administração municipal. A crise financeira impôs uma retração nos investimentos privados no patrocínio da festa (Banco do Brasil, Caixa Econômica e Ambev “correram da parada”) e os sucessivos escândalos na utilização dos patrocínios do Ministério do Turismo fizeram com que as verbas públicas fossem minguando, até praticamente estancarem na atual administração federal.
Por conta disso, o orçamento da festa para este ano, mesmo tendo passado por uma tentativa de enxugamento promovida pela atual administração, continuou a ser proibitivo. Como realizar um São João que custaria cerca de três milhões de reais, sem garantia de patrocínios externos, numa Prefeitura que não vem nem conseguindo pagar em dia os salários dos seus servidores?
Além disso, dificuldades surgiram na montagem da estrutura para a realização da festa. Segundo consta, as empresas no Estado com capacidade para montar o palco, camarotes e outras estruturas estavam arredias aos contratos com a prefeitura de Patos por conta de problemas que teriam surgido na quitação dos contratos anteriores. Empresários de artistas, também se mostravam reticentes em assinar contratos, com medo de que também tivessem problemas para receber os cachês.
Diante destas dificuldades e dos problemas financeiros por que passa o município, com servidores recebendo com atraso, com uma dívida bilionária com fornecedores e prestadores de serviços, como investir três milhões de reais na realização do São João?
Sales Júnior teve a coragem de anunciar o cancelamento dos shows de São João deste ano, muito mais pelas dificuldades que encarava do que por vontade própria. Afinal, que administrador ia querer romper uma tradição de mais de vinte anos, que vem desde a administração de Dinaldo Wanderley, aumentando de tamanho a cada ano? Sales e equipe tiveram lucidez e coragem para tomar a decisão. E para isso tiveram o respaldo de entidades que só tinham a ganhar com a realização do evento, como comércio, serviços, quadrilhas e pequenos comerciantes. Era doloroso, mas era necessário.
Segundo a anúncio feito por Sales, somente a parte cultural vai ser mantida. Mas, segundo fomos informados, ainda se pensa numa alternativa para os grandes shows que eram previstos. Fazer, com uma estrutura física mais enxuta, um São João Autêntico. Para isso estariam sendo contatados possíveis patrocinadores, para uma série de shows com artistas locais e regionais que iriam para o Terreiro do Forró, por um certo número de dias, no período tradicional, fazer um São João Autêntico, sem sertanejos, mas com muito forró.
Uma outra alternativa que podia conviver com o Terreiro do Forró, seria uma série de forrós realizados em locais de tradicional realização destes shows ou em praça pública, com trios da região, com uma divulgação maciça, feita por todos os órgãos de comunicação. Uma demonstração disso é o Sol João, realizado há alguns anos pela TV Sol, levando forró e cultura junina às praças dos principais bairros da cidade.
Não podemos deixar morrer a tradição do São João. Mas um São João Autêntico que reunia jovens, adultos e idosos, como sempre se curtiram as festas juninas no Nordeste e nas cidades com grandes colônias de nordestinos. Em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, os nordestinos fazem um São João talvez muito mais autêntico do que o que vinha sendo feito em muitas cidades do Nordeste, onde se gastam fortunas para contratar “sertanejos”, enquanto os valores da terra ganham pouco e recebem com atraso.
Esperamos que o comércio, indústria e serviços de Patos, que tanto apostam nos dividendos da festa, colaborem com a prefeitura na realização de um São João Autêntico, que lhes dará, em contrapartida, a publicidade que acompanhará o evento. Nossos empresários, em sua maioria, não veem publicidade como investimento, mas precisam aprender com os seus colegas de cidades como Caicó, Sousa e Cajazeiras, para falar nas mais próximas. (LGLM)
PS – Surgiu há pouco um boato de que uma empresa “de fora” viria fazer o São João de Patos, por conta própria. Se fizer o São João sem nenhuma despesa para a Prefeitura será benvinda. Mesmo que cobre ingresso, afinal vai assistir quem gostar da programação. Desde, repetimos, que isto não custe nada para a administração municipal, ao contrário das festas terceirizadas de antigamente em que a Prefeitura dava a infraestrutura para as empresas lucrarem com a festa. (LGLM)
Comentário do programa – Há quem garanta que houve pressão de políticos locais para que o São João Oficial foi cancelado, para dar vez a empresários de fora, interessados em fazer o São João de Patos, de forma privada, cobrando ingresso. Outros insinuam que teria havido incentivo financeiro para inviabilizar o nosso São João. (LGLM)