Convenção do PSDB consolida ascensão de Doria, que articula visando à Presidência
(Editorial da Folha)
Em convenção nacional realizada nesta sexta (31), o PSDB elegeu novo presidente e formalizou as mudanças por que vem passando desde as eleições do ano passado.
A derrota acaçapante da candidatura presidencial do ex-governador Geraldo Alckmin e o triunfo do ex-prefeito da capital João Doria na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes selaram uma nova fase na vida do partido —que foi punido pelo eleitorado e saiu das urnas menor do que entrou.
Colhida pela onda bolsonarista, a sigla, que se apresentava como opção mais ao centro do espectro político, perdeu força e viu crescer o apelo de posições mais à direita, em particular no pleito paulista.
Ao perceber para onde os ventos sopravam, Doria, que já prometia linha-dura na segurança e mostrava-se fervoroso crítico do PT, não hesitou em dar novos passos para associar sua imagem à do então presidenciável Jair Bolsonaro.
Chegou, nesses esforços, a ver-se repelido numa incursão ao Rio de Janeiro com objetivo de encontrar-se com o candidato do PSL.
Ao final da disputa, a guinada à direita foi recompensada e o novo governador tornou-se a figura de proa de seu partido. De olho na próxima etapa, a corrida presidencial de 2022, Doria sabe que desta vez Bolsonaro estará do outro lado.
Tratou, portanto, nos últimos meses, de ajustar rumos e lançar as bases para uma possível aliança eleitoral de centro-direita.
Convidou integrantes do governo de Michel Temer (MDB) para suas secretarias, passou a marcar posições em contraste com algumas medidas anunciadas por Bolsonaro e tem mantido boa relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Dessa maneira, Doria vai articulando em torno de si representantes de partidos tradicionais que já foram aliados do PSDB em outras ocasiões. Não por acaso, nomes de peso do MDB e do DEM, como o ex-senador Romero Jucá (RR) e o próprio Maia, estiveram presentes à convenção tucana.
Como esperado, comemorou-se no evento a vitória de um aliado do governador para a presidência nacional da sigla —o ex-deputado federal e ex-ministro das Cidades (2016) Bruno Araújo (PE), 47.
Apesar das previsíveis divergências e tensões entre os recém-chegados e a velha guarda da legenda, o tom das manifestações de Doria e Araújo foi conciliador. Ambos rejeitaram inclinações para a direita mais radical e reafirmaram que o partido vai seguir linha político-ideológica de centro.
V
A ver se nos próximos anos o governador conseguirá apresentar resultados administrativos palpáveis —e se concretizará as declaradas intenções agregadoras.
Aparentemente obcecado pela conquista da Presidência, Doria já deu mostras de oportunismo político, talento para a autopromoção e descompromisso com promessas de campanha —como a de concluir o mandato na prefeitura.
Comentário do programa – Doria se prepara para concorrer contra Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais. Vamos esperar para ver seu desempenho, até lá no Governo de São Paulo. Vamos ver se se credencia como um presidente viável tanto sob o ponto de vista político, como do ponto de vista administrativo. Bolsonaro a nosso ver não promete muito e pode se batido, numa tentativa de reeleição, por um candidato que se mostre mais preparado do que ele. (LGLM)