A banda

By | 28/07/2019 7:42 am

 

(da série de crônicas de Misael Nóbrega, UMA POR DIA… em 26/07/2019)

 

O amanhecer banhava aquele outubro de dois mil e três feito uma dádiva divina. Ao abrir a janela de minh’alma, fui agraciado com uma formosura análoga. A banda de Chico Buarque de Holanda, passava em minha rua, “cantando coisas de amor”. Por instantes, lembrei dos soldadinhos da minha infância, à Rua Capitão Ló… – Será que fugiram da caixa de sapatos, onde repousavam eternos, para marchar em pleno arrebol?

 

A cadência melódica era ditada pelo maestro, que destacado dos demais, abanava a sua batuta para extrair os mais perfeitos acordes. Logo atrás, carregando aqueles instrumentos de fabricar sonhos, vinham os músicos… – Enfileirados, de forma igual. A pancada mais forte no bombo marcava os passos (direita, esquerda; direita, esquerda).

 

A cidade que me viu nascer tem uma filarmônica, testemunha de muitas narrativas – A qual batizaram de 26 de julho – Mas, que também poderia se chamar: guardiã dos nossos segredos. Quantas histórias não existiam ali, passadas de gerações em gerações.

 

Vejo rostos jovens, como uma poesia que se renova, a manejar trompas e trombones – E lembrei: Afonso “Bacalhau”, Assis “Casca de bala”, Valdemar “do pandeiro”, Edson “maestro” Morais, Hermes Brandão, “Valdim” de Misael – Que viveram e morreram na banda de música… E hoje são personagens memoráveis desse folclórico conjunto de partituras.

 

Devemos admitir: o novo sempre vem.

 

O que fazem esses destemidos senão embelezar as auroras? Em cada dobrado, a devoção à uma cidade… – em respeito e admiração, recíprocos. Quem dera, este concerto acontecesse, todas as vezes, em que pensamos em morrer. Ao ouvir a celebração da existência, não teríamos razões para desistir… Sugeri, interiormente, que a sinfônica parasse, pois meu coração necessitava de um pouco mais daquele regozijo. Lá, rá, lá… Solfejei. Revigorado, os vi dobrarem a esquina, em busca de outra alma infausta.

 

– Que venha novembro!

 

 

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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