(da série de crônicas de Misael Nóbrega, UMA POR DIA… em 26/07/2019)
O amanhecer banhava aquele outubro de dois mil e três feito uma dádiva divina. Ao abrir a janela de minh’alma, fui agraciado com uma formosura análoga. A banda de Chico Buarque de Holanda, passava em minha rua, “cantando coisas de amor”. Por instantes, lembrei dos soldadinhos da minha infância, à Rua Capitão Ló… – Será que fugiram da caixa de sapatos, onde repousavam eternos, para marchar em pleno arrebol?
A cadência melódica era ditada pelo maestro, que destacado dos demais, abanava a sua batuta para extrair os mais perfeitos acordes. Logo atrás, carregando aqueles instrumentos de fabricar sonhos, vinham os músicos… – Enfileirados, de forma igual. A pancada mais forte no bombo marcava os passos (direita, esquerda; direita, esquerda).
A cidade que me viu nascer tem uma filarmônica, testemunha de muitas narrativas – A qual batizaram de 26 de julho – Mas, que também poderia se chamar: guardiã dos nossos segredos. Quantas histórias não existiam ali, passadas de gerações em gerações.
Vejo rostos jovens, como uma poesia que se renova, a manejar trompas e trombones – E lembrei: Afonso “Bacalhau”, Assis “Casca de bala”, Valdemar “do pandeiro”, Edson “maestro” Morais, Hermes Brandão, “Valdim” de Misael – Que viveram e morreram na banda de música… E hoje são personagens memoráveis desse folclórico conjunto de partituras.
Devemos admitir: o novo sempre vem.
O que fazem esses destemidos senão embelezar as auroras? Em cada dobrado, a devoção à uma cidade… – em respeito e admiração, recíprocos. Quem dera, este concerto acontecesse, todas as vezes, em que pensamos em morrer. Ao ouvir a celebração da existência, não teríamos razões para desistir… Sugeri, interiormente, que a sinfônica parasse, pois meu coração necessitava de um pouco mais daquele regozijo. Lá, rá, lá… Solfejei. Revigorado, os vi dobrarem a esquina, em busca de outra alma infausta.
– Que venha novembro!