Adeus Lagoa dos Patos! (com áudio)

By | 03/11/2019 7:12 am

Se preferir, ouça o áudio!

Diz a tradição que a nossa cidade deve o seu nome a uma lagoa existente na margem do Rio Espinharas e que ficava cheia ao fim de cada inverno, atraindo milhares de patos selvagens. Do nome que se dava à lagoa teríamos ganhado o nome Patos.

 

Ainda hoje há controvérsia sobre onde seria exatamente esta lagoa, embora seja dominante a versão de que se localizaria na margem da Alça Sudeste, entre a Alça e o Rio Espinharas.

 

A nossa cidade, infelizmente, é desprovida de marcos históricos só nos restando como testemunhos da nossa história um pouco mais remota, a Igreja da Conceição, a antiga Estação Ferroviária, o casarão da Praça João Pessoa (preservado por Zé Mota) e um marco de um observatório erguido por cientistas americanos na década de quarenta para observar um eclipse da lua.

 

Alguns agitadores culturais têm desenvolvido nos últimos anos uma campanha para erguer um portal no local onde existiu a Lagoa dos Patos. Ideia meritória que até hoje não foi posta em prática.

 

Entramos neste assunto porque está tramitando na Prefeitura de Patos um projeto de loteamento que engloba justamente a área onde se acredita existiu a Lagoa dos Patos. Pelo projeto, a antiga lagoa seria terraplenada para o loteamento e uma área menor em outro local, dentro do mesmo loteamento seria destinada a lembrar a Lagoa.

 

Até aí, nada demais. Não se pode atravancar o progresso. Mas surge um problema do qual a administração municipal não pode fugir e deve levar em consideração antes de aprovar o projeto, sob pena de ser responsabilizada, no futuro, pelas consequências. O aterramento vai intervir num acidente natural, uma lagoa, e tem que se levar em conta para onde e como serão drenadas as águas que afluíam para a antiga lagoa.

 

Talvez fosse o caso de a administração municipal pedir uma manifestação da SUDEMA sobre a necessidade ou não de um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) já que se fará uma intervenção irreversível em um acidente natural.

 

Nós temos um exemplo recente de como um projeto de intervenção na natureza pode resultar em problemas se não for bem dimensionado. É o canal do Frango. Foi uma intervenção normal, feita aparentemente dentro de todas as exigências legais, mas está mais do que provado que o canal foi subdimensionado. O entorno do canal nunca tinha sido vítima de inundações, e estas passaram a acontecer, sempre que a cidade recebe uma chuva mais forte.

 

Ou seja, segundo alguns especialistas, o canal teria que ter sido construído com mais profundidade e mais largura afim de absorver toda a água que normalmente, em invernos dentro dos padrões da região, afluem para o leito do antigo riacho do Frango. Claro que ninguém pode prever as “trombas dágua”, difíceis de acontecer na região, mas os invernos mais intensos poderiam ter a vasão do riacho, depois da intervenção prevista. Não se pode perder de vista, que a vasão antes da construção do canal é menor do que a vasão que ocorrerá depois da urbanização da área, já que a absorção da água da chuva pelo terreno adjacente diminui e muito. Como todo mundo sabe, toda água que cai nunca rua pavimentada escorre para os escoadouros naturais.

 

Claro que o exemplo do Canal do Frango é muito diferente do simples aterramento de uma lagoa, mas a imprevidência, em um caso e no outro, poderá trazer consequências danosas. Os habitantes do entorno do Canal do Frango poderão a cada inverno cobrar da Prefeitura indenização pelos prejuízos sofridos em eventuais inundações. Além da despesa da administração para acudir os prejudicados pela enxurrada. Afinal, as inundações são consequências da construção do canal em um projeto subdimensionado.

 

A administração municipal tem todo interesse na arrecadação que um novo loteamento, em uma região promissora para a construção civil como é o entorno da Alça, vai lhe trazer para o futuro, mas não pode perder de vista os prejuízos que a população pode sofrer por conta de um projeto mal elaborado que a edilidade aprove. E a cidade tanto agradecerá aos empresários pelo arrojo do empreendimento, como à administração municipal por cuidar para evitar futuros problemas.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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