(contém texto de Rienze Araújo)
Outro dia me referi, no meu programa REVISTA DA SEMANA, ao casarão da Praça João Pessoa, um dos únicos marcos históricos da cidade de Patos. O casarão era conhecido com a casa de dona Marica. No mesmo dia, por coincidência, me deparei no Facebook com uma postagem de Rienze Araújo, neto de Dona Marica, falando sobre esta grande figura humana. Vou aproveitar agora para divulgar o texto, para que os mais novos conheçam esta que foi uma das pessoas que ajudou a escrever a história de Patos, dando a nossa cidade várias figuras ilustres, contemporâneas da minha geração, além de uma plêiade de netos e bisnetos, que honram a nossa terra. (LGLM)
Nascida em 1877, Maria Firmino Ayres de Araújo, completaria 100 anos em 29 de Dezembro de 1977. Depois de haver exercido liderança política no município de Patos e nos seus antigos Distritos, onde sempre aliciou eleitores para as campanhas de Solon de Lucena, João Suassuna, João Pessoa sendo eleitora e amiga particular de João Agripino Filho, por quem lutou em diversas campanhas.
Filha do Coronel da Guarda Nacional Firmino Ayres Albano da Costa, Maria Firmino Ayres de Araújo (Marica na intimidade), nasceu na Fazenda Bela Vista, no ano da seca de 1877, casando em 1908 com o médico José Peregrino de Araújo Filho, que era filho do Bacharel em Direito José Peregrino de Araújo. Seu sogro foi deputado federal pela Paraíba na época do Império e Governou o Estado da Paraíba de 1900 a 1904, cuja tradição política resultante dos Ayres com Araújo vem sendo mantida desde o início do século, onde sempre se fez ouvir a palavra da centenária de Dona Marica, que hospedou governadores, chefes políticos e um Presidente da República em sua residência na Praça João Pessoa, em Patos, antiga Praça Nossa Senhora da Conceição.
POLÍTICA
Seu marido, José Peregrino de Araújo Filho, foi o primeiro Médico a instalar consultório em Patos, de pois de haver concluído o curso de Medicina no Rio de Janeiro. Foi prefeito de Patos de 1913 à 1928, sendo posteriormente eleito deputado constituinte de 1934 à 1937, quando houve o golpe do Estado Novo dado pelo ex-presidente Getúlio Vargas. José Peregrino era uma das pessoas mais respeitáveis da região, falando Francês corretamente e dispondo de grande influência política, que dividia com sua esposa Dona Marica, coordenadora das grandes lutas liberais travadas em Patos. Antes da emancipação política dos Distritos de Patos, ( Santa Terezinha, Passagem, São José do Bomfim, Quixaba e Salgadinho ) a liderança política era exercida por dona Marica que não faltava com sua assistência aos habitantes daqueles distritos, chegando a armar homens para evitar a entrada de Lampião na Capital das Espinharas. Solon de Lucena, João Suassuna e João Pessoa antes e depois das lutas político-eleitorais, sempre foram seus hóspedes constantes, nas longas viagens que empreendiam pelo sertão do Estado. Na residência de dona Marica, se tomavam as decisões mais importantes em favor daquela região.
DONA MARICA E O PRESIDENTE
Em 1926, recebeu na casa em que morou (construída em 1915) a visita do Ex-Presidente da República Washington Luís, quando lhe ofereceu um banquete na sala de refeições juntando as mesas em for de “U”, enquanto lamentava não haver espaço suficiente para formar o “W”, letra inicial do Presidente. Em uma de suas viagens ao Recife, conheceu o Brigadeiro Eduardo Gomes, de quem fora aviador por alguns anos o seu filho Brigadeiro Firmino Ayres de Araújo.
AMIZADE COM JOÃO AGRIPINO
Amiga pessoal dos pais do ex-governador João Agripino Filho, sobretudo da sua genitora Maria Angelina Mariz Maia, sempre fez campanha para o antigo ministro de Minas e Energia, chegando a participar de alguns dos seus comícios em 1965, inclusive um na Fazenda Santo Estevam, de sua propriedade. A amizade com a Família Mariz e Maia vinha dos velhos tempos, especialmente com José Marques da Silva Mariz e com Manuel Marques de Souza Mariz, este pai do escritor Celso Mariz, de quem Dona Marica foi amiga de infância.
CORDEIRO DE FARIAS
No governo de Castelo Branco, o Ministro do Interior general Cordeiro de Farias esteve em sua casa na companhia do então governador João Agripino Filho, que a apresentou aquele ministro como uma das mulheres mais corajosas do sertão Paraibano.
ANTONIO SILVINO
Foi comadre e amiga de Antônio Silvino. Esta amizade era uma consequência da amizade já existente entre aquele Homem do Cangaço e seu pai , o Coronel Firmino Ayres Albano da Costa. Dona Marica era madrinha de uma filha de Antônio Silvino, chamada Maria das Dores. O batizado aconteceu em Mamanguape, e a sua afilhada depois foi morar na cidade do Rio de Janeiro.
FILHOS E NETOS
Teve seis filhos homens e uma filha. Esta faleceu nos primeiros anos de vida. São seus filhos: Severino Ayres de Araújo (Médico), Osman Ayres de Araújo (Médico), Hiran Ayres de Araújo (Médico), Firmino Ayres de Araújo (Brigadeiro), Odmar Ayres de Araújo (Funcionário da CEF) e Walter Ayres de Araújo (Dentista). Entre netos e bisnetos teve aproximadamente uma centena. O seu filho Brigadeiro Firmino Ayres de Araújo, inaugurou o aeroporto de Patos em 1942 como Tenente da Aeronáutica e ali fez o primeiro pouso estimulando a criação do Aeroclube local, hoje Aeroporto Brigadeiro Firmino Ayres de Araújo.
ÚLTIMO VOTO
Votou pela última vez em 1974, aos 97 anos de idade. Seu voto foi a descoberto. Levada para secção do Colégio Estadual de Patos, pela sua nora Deolinda Araújo Neta, ao se aproximar da mesa do presidente da secção, perguntou e afirmou: “Meu filho, como é que risco os nomes de Aluízio Campos e Edvaldo Mota? O de Claudio Leite já sei”. Seu voto foi tomado em separado e a junta apurou. Todos em Patos conhecem a longa história e proezas de líder política que sempre foi Marica Firmino, figura das mais queridas e respeitadas, cujo exemplo de educação aos filhos e de proteção aos mais fracos são citados por quantos se referem aos bons tempos vividos por aquela cidade do alto sertão Paraibano.
Comentário nosso – Quem nos dera que alguém fosse escrevendo a história dos ilustres patoenses que fizeram a história de Patos. Era uma forma de preservarmos a memória de nossa cidade. Damião Lucena já o fez com várias destas figuras históricas, mas há mais gente que precisa ter a sua vida contada para que se perpetue a memória dos nossos antepassados que fizeram a pujante cidade de Patos. O Instituto Histórico Patoense, inclusive, pode dar importante contribuição neste sentido. Que tal, por exemplo, dar como tarefa a cada sócio do Instituto escrever a história de uma ou várias figuras históricas da cidade? E a prefeitura depois poderia financiar um livro reunindo estas histórias. (LGLM)