Grandes problemas para Bolsonaro

By | 22/12/2019 8:50 am

Presidente terá dificuldade em se esquivar do caso que envolve Flávio Bolsonaro

(Editorial da Folha)

 

Ao se recusar a comentar a nova etapa das apurações sobre o filho Flávio, Jair Bolsonaro afirmou que não trataria de “pequenos problemas” que não lhe diriam respeito.

 

O presidente pode até estar certo em sua segunda asserção, na hipótese de que a investigação sobre a ligação do clã familiar com esquemas de desvio de dinheiro público e milícias do Rio de Janeiro nada encontre envolvendo seu nome.

 

Do ponto de vista político, contudo, a tática está fadada ao fracasso. É o próprio mandatário, afinal, quem promove a todo tempo a confusão entre o que diz respeito ao cargo e o interesse de sua família.

 

Além disso, as agruras do hoje senador Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio de Janeiro trazem marcas de seu pai.

 

Apura-se eventual desvio de dinheiro público de servidores de seu gabinete —por meio de um expediente, de triste fama no Legislativo nacional, em que parte dos salários de funcionários é recolhida pelo parlamentar para uso próprio.

 

No centro do caso está seu ex-assessor Fabrício Queiroz, figura que esteve ao lado do atual presidente da República desde os anos 1980. Segundo o Ministério Público do Rio, ele recebeu R$ 2 milhões de 13 colegas de então.

 

A Promotoria descobriu ainda que o gabinete empregara parentes de milicianos, estabelecendo uma perigosa ligação. Pagamentos detectados envolveram ainda a mulher do presidente, Michelle.

 

Até aqui, Queiroz era o alvo principal das investigações. A operação deflagrada na quarta-feira (18) moveu o foco sobre Flávio Bolsonaro, que poderia ter lavado com sua mulher R$ 638,4 mil do esquema por meio de imóveis.

 

Paralelamente, há a apuração sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, em 2018. Um dos suspeitos de ordenar o crime é um ex-policial, hoje foragido, cujas mãe e mulher foram contratadas por Queiroz como servidoras do gabinete.

 

Tais ligações nada provam, mas certamente tornam o ambiente político mais desconfortável para o presidente e sua família.

 

O senador, que nega quaisquer irregularidades, conseguiu durante meses obstar a apuração devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal que questionou o uso de dados oriundos do órgão de controle financeiro —o antigo Coaf, desidratado pelo presidente, em outro ato pouco impessoal.

 

Que as autoridades conduzam o caso com a devida tempestividade a partir de agora. Apenas explicações críveis e transparentes podem relegar o problema ao tamanho desejado por Bolsonaro.

Comentário

Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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