Precisamos preservar a PF (veja comentário no final da matéria)

By | 26/04/2020 5:57 am

Ingerência de Bolsonaro explicita urgência de tratar órgão como ente de Estado

(Editorial da Folha)

 

O estupefaciente pronunciamento de despedida de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública jogou luz sobre uma velha conhecida da política brasileira: a interferência do governo em órgãos que deveriam ser de Estado.

 

Segundo o relato do ex-ministro, Jair Bolsonaro o fez saber da intenção de alterar o comando da Polícia Federal. A tosca negativa do presidente em sua réplica agora será objeto de exame na Justiça, caso prospere o inquérito pedido pela Procuradoria-Geral da República.

 

Como não apresentou razões objetivas, afirmou Moro, Bolsonaro foi inquirido acerca de uma justificativa para o fato. O presidente disse, conforme a versão, que era meramente uma questão política.

 

Ato contínuo, falou sobre a necessidade de poder ligar diretamente para o diretor, consultar relatórios de inteligência. E acerca do temor com o desenrolar das investigações do Supremo Tribunal Federal de seu interesse.

 

Tais apurações são conhecidas: versam sobre a fábrica de fake news que acompanhou a ascensão do bolsonarismo no país e, agora, sobre os atos golpistas prestigiados pelo presidente em pessoa.

 

Além disso, tira o sono do mandatário máximo a arqueologia das práticas de seu clã no Rio, por meio dos inquéritos centrados nas relações com práticas ilegais e personagens ligados a milícias.

 

A autonomia de fato da PF é uma conquista relativamente recente. Foi provada ao longo dos anos do PT no poder, quando, mesmo subordinada a ministros da Justiça que por vezes agiam como advogados do presidente, a entidade apurou inúmeros casos de corrupção.

 

Em 2018, um diretor-geral simpático às agruras do então presidente Michel Temer (MDB) durou apenas 99 dias no cargo. Apesar deste exemplo virtuoso, é necessário ressaltar que autonomia não significa ausência de controle, prestação de contas e transparência.

 

A memória de episódios de abuso como a Operação Satiagraha, em 2004, traz lição cautelar.

Isso dito, urge aproveitar a gravidade da situação atual para implementar um sistema que garanta as características de entidade de Estado inerentes ao trabalho da PF.

 

Um diretor submetido a sabatina no Senado, a exemplo do que se faz no americano FBI, seria desejável, talvez também com mandato.

 

O reforço da musculatura de corregedoria, também. E uma apuração exemplar dos fatos relatados por Moro, para que a história não venha a se repetir como farsa.

 

Enquanto isso, medidas como a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de preservação dos delegados federais que investigam o caso das fake news constituem, sim, paliativos importantes.

 

Comentário nosso – Diante do fato de que Bolsonaro estar nomeando para a Polícia Federal um diretor da sua confiança, quem vai apurar as denúncias feitas por Bolsonaro, cuja apuração foi solicitada ao Supremo Tribunal Federal pelo Procurador Geral da República? (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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