Demonizado pelo presidente na campanha, grupo ganha convite para ocupar postos de segundo e terceiro escalões no governo
(Ranier Bragon e Julia Chaib, na Folha)
Líderes de partidos do chamado centrão afirmam que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enquadrou nos últimos dias ministros que resistiam em ceder cargos de suas pastas ao grupo, deixando claro que quem se opuser pode ser demitido do governo.
Segundo relato desses parlamentares, a atitude de Bolsonaro se deu em dois atos: primeiro, forçou a demissão de Sergio Moro (Justiça), que no começo da gestão chegou a ser considerado “indemissível”, justamente em um contexto de que tem a palavra final sobre cargos-chave. Antes da exoneração, ele havia deixado claro em reunião com todos os ministros que a prerrogativa de fazer nomeações no governo era dele.
Depois, reafirmou a quem ficou, em encontros coletivos e a sós, que ele irá distribuir postos de segundo e terceiro escalão ao centrão e que não aceitará recusas. A conduta do presidente foi confirmada por integrantes do governo à Folha.
Demonizado na campanha por Bolsonaro como sendo exemplo do que chama de velha política, formada por parlamentares adeptos ao “toma lá, dá cá”, o centrão reúne cerca de 200 dos 513 deputados e virou a esperança do presidente de, pela primeira vez, ter base de sustentação no Congresso.
Ao mesmo tempo em que promoveu uma ruptura pública com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro passou a procurar um a um líderes e presidentes de partidos do grupo, formado principalmente por PP, PL, Republicanos, PTB e PSD —esse último nega fazer parte, mas integra oficialmente o bloco do centrão na Câmara, liderado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL).
O repasse de cargos ao centrão perpassa secretarias estratégicas em ministérios e vai do Porto de Santos à Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
O grupo aceitou de pronto as ofertas —ainda não entregues, devido à burocracia federal para as trocas e o prosseguimento de acertos específicos— e saiu em defesa do presidente no Congresso, rechaçando a possibilidade de abertura de processo de impeachment contra ele, situação que passou a ser aventada com mais força após a participação de Bolsonaro em atos de rua favoráveis ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Para evitar esse risco, Bolsonaro precisa ter ao seu lado pelo menos 172 dos 513 deputados federais.
Em outra frente, o centrão também apoiou a queda de Moro, mas aí a rixa do grupo com o ex-xerife da Lava Jato é antiga. A operação baseada em Curitiba levou ao banco dos réus vários dos líderes do grupo, sob acusação de desvio de recursos da Petrobras.
A Folha ouviu relatos de líderes do centrão e de ministros de Bolsonaro, que falaram sob condição de anonimato.
Segundo eles, o presidente já foi cobrado pela relativa demora nas nomeações e, como resposta, disse a ministros que eles têm que abrigar os indicados pelo centrão, sob pena de perder apoios.
Integrantes do Planalto informaram que os trâmites para que os nomes sejam publicados no Diário Oficial são demorados e que os indicados devem ser formalizados a partir da próxima semana.
Comentário nosso – No desespero depois de ameaçado por vários pedidos de impeachment, Bolsonaro recorre agora àqueles que ele considerava o rebotalho da política brasileira, os políticos do Centrão. Com promessas de verbas e nomeação de indicados por eles, ele tenta garantir os votos suficientes para impedir que seja condenado em um processo de impeachment. Fica provado agora que ele é na realidade um oportunista. (LGLM)