(Luiz Gonzaga Lima de Morais)
Dois fatos ocuparam a atenção dos patoenses nos últimos dias. O primeiro deles. A ameaça de arrombamento de um açude, no distrito de Palmeira, em Imaculada, que poderia obrigar parte da população da vizinha cidade de Olho D’água a abandonar temporariamente suas casas. Por que a preocupação dos patoenses? Por conta da grande colônia de olho-d’aguenses existente em Patos, que se preocupam com os seus amigos e parentes residentes naquela cidade. O outro assunto é o anúncio de que o prefeito tinha acertado com os empresários patoenses a abertura do comércio a partir desta segunda feira, 04 de maio. A decisão do prefeito, anunciada após reunião com os empresários na ACIAP, na segunda-feira, agradava aos empresários, mas preocupava grande parte da população com medo da disseminação do coronavírus.
Vamos analisar as duas questões separadamente. O açude Pedra Lisa fica no distrito de Palmeira, do município de Imaculada, em cima da serra de Teixeira. Mas o sangradouro do açude deságua em um riacho que desce a serra e vai passar margeando a cidade de Olho D´água. Os moradores desta cidade das margens do riacho teriam certamente as suas casas invadidas, se por acaso acontecer o arrombamento do açude.
Quando a obra de construção do açude foi iniciada pelo então governador Ricardo Coutinho foi saudada como solução para o problema de abastecimento d’água do distrito de Palmeira. Mas, ao mesmo tempo, representava “uma verdadeira bomba” que iria ameaçar agora a população de Olho D’água.
E agora perguntariam os senhores, de quem a culpa pelo problema? Do governo do Estado e de quem elaborou o projeto de construção do açude. Um reservatório projetado para acumular quatro milhões de metros cúbicos d’água, recebeu seis milhões de metros cúbicos, ficando patente que foi mal dimensionado e seu sangradouro construído sem capacidade para dar vazão ao volume d’água acumulado, que é justamente a destinação de um sangradouro. Dar vazão ao excesso dágua quando ultrapassar a capacidade do açude e salvá-lo nas emergências. No fim a responsabilidade é do Governo do Estado.
O episódio me lembra uma história antiga de uns cinquenta anos, quando o DER construiu um pontilhão na estrada que vai de São José do Bonfim a Mãe D’água. O engenheiro responsável pela obra explicava a um curioso como acontecera o dimensionamento do pontilhão. Que o riacho tinha nos invernos um caudal de tantos metros de largura e o pontilhão fora construído para dar vazão ao volume d’água que passaria por ali. Um doido que estava por perto, ouvia tudo e fez uma observação que fez rir os dois interlocutores: “Vocês sabem a água que passa, mas não sabem a água que vem”. Não deu outra. No primeiro inverno o riacho destruiu o pontilhão. Veio mais água do que os engenheiros esperavam.
O comentário do doido se aplicaria muito bem aos engenheiros que construíram o açude Pedra Lisa. Eles sabiam o volume que caberia no açude, mas não sabiam a quantidade de água que o riacho traria no inverno de 2020. Se tivessem pelo menos construído um sangradouro que permitisse descartar o excesso desmedido d’água, não estariam abalando o Corpo de Bombeiros para tentar minimizar o desastre e tirando o sono dos ”ribeirinhos”.
Para sorte de todos, o Corpo de Bombeiros e outros órgãos estaduais montaram um esquema de trabalho para tentar salvar o açude e acudir os moradores de Mãe Dágua se o açude arrombasse. Os céus também ajudaram. Parou de chover. Uma solução definitiva é aumentar o sangradouro do açude, para o caso de novas cheias do tamanho da que veio este ano.
Com relação à abertura do comércio de Patos, a partir desta segunda-feira, mais uma vez fora criado um impasse. É a segunda vez que a prefeitura anuncia a redução das restrições à presença da população nas ruas, atendendo ao pleito, em si, justo dos empresários. Eles estão sem faturar e muitos empregados ameaçados de virar desempregados. Mas, por outro lado, a liberação poderia provocar uma disseminação mais rápida do coronavírus, provocada pelas aglomerações que certamente ocorreriam. O prefeito garantia que os empresários estavam conscientes de suas responsabilidades e tomariam todas as providências para só atenderem quem estivesse obedecendo às medidas de prevenção como o uso de máscara e da desinfecção pelo álcool gel. Mas uma pergunta não quer calar. Grande parte da população não acredita na eficácia das medidas propostas pela Organização Mundial da Saúde e do nosso Ministério da Saúde. Alguns chegam a dizer que a pandemia é uma mentira da Rede Globo, fazendo eco à inconsequência e ao exemplo do próprio Presidente da República. E aqui a pergunta. Quem ia fiscalizar se os clientes das empresas vão estar usando máscara e materiais de desinfecção? Os próprios empresários (muitos talvez no conforto e segurança de suas casas), a Vigilância Sanitária, a Guarda Municipal, a Polícia Militar?
O Governo do Estado vem determinando o cumprimento do isolamento social, pelo menos nas atividades que não sejam essenciais e que não permitam em si a aglomeração. Inclusive prorrogou decreto anterior autorizando a abertura apenas de estabelecimento que oferecem serviços essências. O Tribunal de Justiça já havia negado esta semana um pedido de liminar do Clube de Diretores Lojistas de Campina Grande que exigia do prefeito daquela cidade a liberação total do comércio.
A nosso ver deve prevalecer sempre a orientação da Secretaria de Estado da Saúde que sabe do nível de contaminação no Estado, do risco de aumentar a contaminação se o isolamento for relaxado e, principalmente, da capacidade de o nosso sistema de Saúde internar e tratar os atacados pelo coronavírus. 50% dos leitos de UTI no Estado já estão ocupados. Será que vai haver leito para todo o mundo?
Alguém me perguntou: O STF disse que Estados e municípios têm autoridade para determinar a execução das medidas orientadas pelo Ministério da Saúde, por que meu município não pode liberar o funcionamento do comércio? Na minha opinião, deve prevalecer a determinação do Governo do Estado, pois é ele, através da Secretaria de Estado da Saúde que controla a evolução da pandemia e a capacidade do sistema de saúde do Estado (público e privado) para enfrentar o acolhimento e tratamento de todos que forem contaminados.
Exemplos existem pelo mundo afora. Quem tomou as providências de isolamento mais cedo, está tendo menos problemas do que quem só cuidou mais tarde> E os Estados Unidos são exemplo mais gritante. Maior potência ocidental, a mais rica, com a medicina mais avançada, vendo morrerem duas mil pessoas por dia. NO Brasil mesmo, Estados que afrouxaram o isolamento, como Santa Catarina, voltaram atrás, por que os casos de COVID-19 triplicaram em apenas uma semana.
O pleito dos empresários e de parte dos trabalhadores é muito justa. Mas será que a vida deixou de ser o maior bem humano?