Umas e outras…

By | 03/05/2020 8:39 am

 

(Luiz Gonzaga Lima de Morais)

 

Dois fatos ocuparam a atenção dos patoenses nos últimos dias. O primeiro deles. A ameaça de arrombamento de um açude, no distrito de Palmeira, em Imaculada, que poderia obrigar parte da população da vizinha cidade de Olho D’água a abandonar temporariamente suas casas. Por que a preocupação dos patoenses? Por conta da grande colônia de olho-d’aguenses existente em Patos, que se preocupam com os seus amigos e parentes residentes naquela cidade. O outro assunto é o anúncio de que o prefeito tinha acertado com os empresários patoenses a abertura do comércio a partir desta segunda feira, 04 de maio. A decisão do prefeito, anunciada após reunião com os empresários na ACIAP, na segunda-feira, agradava aos empresários, mas preocupava grande parte da população com medo da disseminação do coronavírus.

 

Vamos analisar as duas questões separadamente. O açude Pedra Lisa fica no distrito de Palmeira, do município de Imaculada, em cima da serra de Teixeira. Mas o sangradouro do açude deságua em um riacho que desce a serra e vai passar margeando a cidade de Olho D´água. Os moradores desta cidade das margens do riacho teriam certamente as suas casas invadidas, se por acaso acontecer o arrombamento do açude.

 

Quando a obra de construção do açude foi iniciada pelo então governador Ricardo Coutinho foi saudada como solução para o problema de abastecimento d’água do distrito de Palmeira. Mas, ao mesmo tempo, representava “uma verdadeira bomba” que iria ameaçar agora a população de Olho D’água.

 

E agora perguntariam os senhores, de quem a culpa pelo problema? Do governo do Estado e de quem elaborou o projeto de construção do açude. Um reservatório projetado para acumular quatro milhões de metros cúbicos d’água, recebeu seis milhões de metros cúbicos, ficando patente que foi mal dimensionado e seu sangradouro construído sem capacidade para dar vazão ao volume d’água acumulado, que é justamente a destinação de um sangradouro. Dar vazão ao excesso dágua quando ultrapassar a capacidade do açude e salvá-lo nas emergências. No fim a responsabilidade é do Governo do Estado.

 

O episódio me lembra uma história antiga de uns cinquenta anos, quando o DER construiu um pontilhão na estrada que vai de São José do Bonfim a Mãe D’água. O engenheiro responsável pela obra explicava a um curioso como acontecera o dimensionamento do pontilhão. Que o riacho tinha nos invernos um caudal de tantos metros de largura e o pontilhão fora construído para dar vazão ao volume d’água que passaria por ali. Um doido que estava por perto, ouvia tudo e fez uma observação que fez rir os dois interlocutores: “Vocês sabem a água que passa, mas não sabem a água que vem”. Não deu outra. No primeiro inverno o riacho destruiu o pontilhão. Veio mais água do que os engenheiros esperavam.

 

O comentário do doido se aplicaria muito bem aos engenheiros que construíram o açude Pedra Lisa. Eles sabiam o volume que caberia no açude, mas não sabiam a quantidade de água que o riacho traria no inverno de 2020. Se tivessem pelo menos construído um sangradouro que permitisse descartar o excesso desmedido d’água, não estariam abalando o Corpo de Bombeiros para tentar minimizar o desastre e tirando o sono dos ”ribeirinhos”.

 

Para sorte de todos, o Corpo de Bombeiros e outros órgãos estaduais montaram um esquema de trabalho para tentar salvar o açude e acudir os moradores de Mãe Dágua se o açude arrombasse. Os céus também ajudaram. Parou de chover. Uma solução definitiva é aumentar o sangradouro do açude, para o caso de novas cheias do tamanho da que veio este ano.

 

Com relação à abertura do comércio de Patos, a partir desta segunda-feira, mais uma vez fora criado um impasse. É a segunda vez que a prefeitura anuncia a redução das restrições à presença da população nas ruas, atendendo ao pleito, em si, justo dos empresários. Eles estão sem faturar e muitos empregados ameaçados de virar desempregados. Mas, por outro lado, a liberação poderia provocar uma disseminação mais rápida do coronavírus, provocada pelas aglomerações que certamente ocorreriam. O prefeito garantia que os empresários estavam conscientes de suas responsabilidades e tomariam todas as providências para só atenderem quem estivesse obedecendo às medidas de prevenção como o  uso de máscara e da desinfecção pelo álcool gel. Mas uma pergunta não quer calar. Grande parte da população não acredita na eficácia das medidas propostas pela Organização Mundial da Saúde e do nosso Ministério da Saúde. Alguns chegam a dizer que a pandemia é uma mentira da Rede Globo, fazendo eco à inconsequência e ao exemplo do próprio Presidente da República. E aqui a pergunta. Quem ia fiscalizar se os clientes das empresas vão estar usando máscara e materiais de desinfecção? Os próprios empresários (muitos talvez no conforto e segurança de suas casas), a Vigilância Sanitária, a Guarda Municipal, a Polícia Militar?

 

O Governo do Estado vem determinando o cumprimento do isolamento social, pelo menos nas atividades que não sejam essenciais e que não permitam em si a aglomeração. Inclusive prorrogou decreto anterior autorizando a abertura apenas de estabelecimento que oferecem serviços essências. O Tribunal de Justiça já havia negado esta semana um pedido de liminar do Clube de Diretores Lojistas de Campina Grande que exigia do prefeito daquela cidade a liberação total do comércio.

 

A nosso ver deve prevalecer sempre a orientação da Secretaria de Estado da Saúde que sabe do nível de contaminação no Estado, do risco de aumentar a contaminação se o isolamento for relaxado e, principalmente, da capacidade de o nosso sistema de Saúde internar e tratar os atacados pelo coronavírus. 50% dos leitos de UTI no Estado já estão ocupados. Será que vai haver leito para todo o mundo?

 

Alguém me perguntou: O STF disse que Estados e municípios têm autoridade para determinar a execução das medidas orientadas pelo Ministério da Saúde, por que meu município não pode liberar o funcionamento do comércio? Na minha opinião, deve prevalecer a determinação do Governo do Estado, pois é ele, através da Secretaria de Estado da Saúde que controla a evolução da pandemia e a capacidade do sistema de saúde do Estado (público e privado) para enfrentar o acolhimento e tratamento de todos que forem contaminados.

 

Exemplos existem pelo mundo afora. Quem tomou as providências de isolamento mais cedo, está tendo menos problemas do que quem só cuidou mais tarde> E os Estados Unidos são exemplo mais gritante. Maior potência ocidental, a mais rica, com a medicina mais avançada, vendo morrerem duas mil pessoas por dia. NO Brasil mesmo, Estados que afrouxaram o isolamento, como Santa Catarina, voltaram atrás, por que os casos de COVID-19 triplicaram em apenas uma semana.

 

O pleito dos empresários e de parte dos trabalhadores é muito justa. Mas será que a vida deixou de ser o maior bem humano?

Comentário

Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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