Especialistas afirmam que dado aponta possível subnotificação de casos de coronavírus.
Por Gabriel Barreira e Felipe Grandin, G1 Rio
O número de internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) desde meados de março, quando o estado do Rio registrou a primeira morte por coronavírus, é quase 20 vezes maior do que o mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Fiocruz.
SRAG é uma doença respiratória causada por um vírus que exige internação e pode ser causada por coronavírus, influenza, entre outros. A diferença de um ano para outro aponta a subnotificação dos casos de coronavírus, segundo especialistas.
Da 11ª semana a 18ª semana de 2020, encerrada no último sábado (2), foram internadas 8.557 pessoas com síndrome respiratória aguda grave. No mesmo período de 2019, tinham sido apenas 435, mesmo com aumento de casos de H1N1.
A média de casos de SRAG considerando essas semanas nos últimos cinco anos foi de 361.
Marcelo Gomes é coordenador do Infogripe, da Fiocruz, responsável por reunir os dados. O programa foi criado em 2009 para detectar os casos da pandemia de H1N1 daquele ano e acabou se deparando com uma nova realidade 11 anos depois: o novo coronavírus.
Segundo ele, a maioria dos casos de internação por SRAG são de pacientes com coronavírus.
“Mesmo se levássemos em consideração os anos que tiveram surtos de H1N1, como o ano passado, não tiveram números parecidos de internações com o que temos hoje”, explica.
O aumento expressivo, segundo o infectologista Edimilson Migowiski, esconde a subnotificação de casos de Covid-19.
Ele estima que já sejam mais de 20 milhões de pessoas com a doença no Brasil, ou seja, quase 20 vezes mais do que os mais de 1 milhão de pacientes confirmados com a doença segundo o Ministério da Saúde.
“A Covid-19 tem estreita relação com a síndrome respiratória aguda grave. Há um aumento grande de casos de pessoas que necessitam de hospitalização, diferentemente do ano passado. É traumático o número de pessoas na fila de espera de unidade intensiva”, diz.
Coordenador do estudo, Marcelo Gomes afirma que quase todos os casos registrados de SRAG pelo Infogripe serão testados. Ainda assim, até mesmo alguns pacientes com coronavírus não passarão às estatísticas com o diagnóstico correto. Isso ocorre por conta de testes com o que chama de “falso negativo”.
“Dentre os negativos tem muito falso negativo. O que está por trás dessa não-detecção? Quando foi feita essa coleta, como foi feita essa coleta, como foi armazenada, como foi o transporte até o laboratório? E, finalmente, como foi feito o teste? Por que o teste não é 100%”, diz.
Gomes pontua ainda que, por conta dos laboratórios sobrecarregados, muitos dos pacientes que estão com a doença só terão a confirmação dela dentro de alguns dias. O atraso no resultado pode atrapalhar o planejamento de políticas públicas.
Por causa dos atrasos nos registros, o sistema Infogripe, da Fiocruz, faz uma projeção de quantos casos existem na realidade. O cálculo é baseado no histórico de atraso de cada secretaria e outros fatores, como a progressão dos casos.
De acordo com essa projeção, o número de mortes entre 17 de março e 27 de abril seria de 942. Naquele dia, no entanto, o governo do Rio tinha apenas 677 mortes confirmadas.
E há ainda um agravante, que esconde ainda mais as subnotificações: no Brasil, são testados quase que exclusivamente os pacientes em estado crítico.
“Se a gente pensar em total de infectados por coronavírus, tem o fator que no Brasil a gente está dando prioridade a testar somente os hospitalizados e aí há subnotificação também”.
Comentário nosso – Em outras palavras, esta pesquisa da FIOCRUZ confirma as suspeitas do cientista da USP. Muita gente está morrendo de COVID 19 mas não consta das estatísticas por que não foram testadas. E ainda tem gente despreparada e desinformada dizendo que as mortes são invenção da imprensa. (LGLM)