(José Álvaro Moisés, Professor de Ciência Política Da USP)
Nelson Teich não é mais ministro da Saúde. Sua entrevista não deu pistas claras sobre as razões que levaram o governo a perder dois auxiliares em área estratégica de políticas públicas em pouco mais de um mês. A perda ocorre quando o número de mortes causadas pelo coronavírus está perto de ultrapassar 15 mil e o de contaminados da mais grave pandemia experimentada pelo país – e talvez pela humanidade – está quase superando 220 mil casos. O que levou dois colaboradores tidos como competentes a abandonarem o barco em tão curto espaço de tempo, e em meio a um auge da crise?
A primeira resposta é conhecida: Bolsonaro em nenhum momento deu ouvidos aos seus ministros sobre a necessidade de isolamento social como meio de impedir o colapso do sistema de saúde. Em alguns momentos, foi mais longe e humilhou seus auxiliares em público. Nos últimos dias, contudo, os indícios apontaram em outra direção: sem que haja qualquer comprovação científica de sua eficácia, o presidente pressionou os ministros a adotarem o uso da cloroquina. Mandetta já tinha feito ressalvas a isso em protocolo que irritou o presidente, e Teich, ao ser supostamente forçado, não aceitou manchar a sua carreira. O governo, então, ficou acéfalo na área da saúde.
O foco são políticas públicas fundamentais, que deveriam envolver decisões e procedimentos transparentes, em especial diante da ameaça à vida das pessoas. Na ausência, não é de estranhar que em alguns meios surjam perguntas duras: a quem interessa a adoção desse medicamento sem a certificação devida? Que laboratórios produzem ou têm interesse na sua adoção? São questões de evidente interesse público que aguardam esclarecimento.
Comentário – Você sabe por que os dois ministros da Saúde (Mandetta e Teich se demitiram? Por que Bolsonaro queria que eles autorizassem o uso da hidroxicloroquina para os acometidos do novo coronavírus, ainda no início do tratamento, e eles só admitiam o uso do medicamento em fase avançada da doença, na fase do “tudo ou nada”. E assim mesmo exigiam que o remédio fosse prescrito pelo médico que assistia o doente e que o próprio doente autorizasse o seu uso. E por que isto? Por que a cloroquina, segundo as pesquisas pode matar o doente. E não há nenhuma pesquisa que justifique o seu uso na fase inicial da doença. O uso tem que ser absolutamente controlado. (LGLM)