Com demissão repentina, presidente só deve definir na próxima semana nome de substituto para a pasta
(Gustavo Uribe eTalita Fernandes, na Folha)
Desde a semana passada, o presidente Jair Bolsonaro já afirmava a amigos e aliados que o oncologista Nelson Teich demonstrava sinais de incômodo e insatisfação à frente do Ministério da Saúde.
O presidente acreditava, no entanto, que se tratava de uma reação normal para quem havia assumido há menos de um mês um novo cargo e que não havia chance de ele deixar o posto.
Por isso, o pedido de demissão feito nesta sexta-feita (15) por Teich pegou Bolsonaro de surpresa e o deixou atordoado. Com a mudança inesperada, o presidente ainda não tem um nome definido para o comando da pasta.
No dia anterior ao pedido de demissão, Bolsonaro e Teich haviam se reunido no Palácio do Planalto.
O presidente saiu da reunião com a expectativa de que haveria mudança no protocolo para autorizar a utilização da cloroquina no início do tratamento para o novo coronavírus.
E ele esperava que Teich concordasse com a mudança em novo encontro marcado para esta sexta-feira (15). O ministro, no entanto, quebrou rapidamente a expectativa de Bolsonaro.
Logo no início da reunião, Teich já disse, de acordo com relatos feitos à Folha, que a mudança não era correta e não tinha amparo cientifico.
Antes mesmo de Bolsonaro argumentar, Teich afirmou que pretendia deixar o cargo. Como resposta, o presidente lamentou e disse que buscará um nome para substituí-lo que seja afinado ao seu discurso.
Caso o ministro não aceitasse a mudança na regra, o presidente avaliava iniciar um processo de fritura contra ele, repetindo o expediente adotado com o antecessor, Luiz Henrique Mandetta.
Teich, no entanto, não quis esperar chegar a esse ponto. De acordo com servidores da pasta, ele ressaltou que não colocaria a perder a sua trajetória profissional.
Pego de surpresa, Bolsonaro começou nesta sexta-feira (15) a analisar nomes para a pasta. Em paralelo, pediu a técnicos do governo que, antes da nomeação de um novo ministro, já deixem preparada a mudança do protocolo.
Em conversas de bastidor, ele disse que quer alguém que, além de concordar com a aplicação da cloroquina, passe uma imagem de credibilidade diante da crise sanitária.
Em análise, estão nomes de médicos e militares. A expectativa é de que Bolsonaro converse com alguns dos cotados no sábado e no domingo e só tome uma decisão na próxima semana.
Na lista de nomes técnicos, são citados a imunologista Nise Yamaguchi, o oftalmologista Claudio Lottenberg e o presidente da AMB (Associaçao Médica Brasileira), Lincoln Lopes Ferreira.
Na relação de militares, os dois nomes favoritos são o do diretor de Saúde da Marinha, o contra-almirante Luiz Froes, e o secretário-executivo do Ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello.
Os dois últimos contam com o apoio da cúpula militar do Palácio do Planalto, mas enfrentam resistência junto aos comandantes das Forças Armadas,
A avaliação é de que um militar à frente de uma pasta sensível em meio a uma pandemia pode afetar a imagem das Forças Armadas caso a gestão não seja bem-sucedida.
A dificuldade é achar alguém que possa atender o que o presidente quer: apoiar o uso da cloroquina no início do tratamento e ser flexível com o isolamento social.
Comentário – Bolsonaro tem uma “carta na manga”. O deputado emedebista Osmar Terra, desacreditado junto aos colegas médicos e suficiente subserviente ao chefe para fazer tudo o que ele quiser. (LGLM)