Manobra canhestra (veja comentário)

By | 14/06/2020 8:18 am

 

Corretamente devolvida, MP que mudava nomeação de reitores soava a intervenção 

(Editorial da Folha de São Paulo, em 12.jun.2020 às 23h15)

 

Acertou o presidente do Senado e do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ao devolver sem votação da Casa a medida provisória 979, que daria ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, o poder de nomear reitores e vice-reitores de universidades e institutos federais durante a pandemia.

 

Tão logo se tornou público, o texto foi tachado de inconstitucional pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Consta da Carta de 1988 que as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial.

 

A premissa da MP era que o distanciamento social impediria o processo, previsto em lei, de escolha de dirigentes das instituições federais de ensino por meio de consulta interna e formação de lista tríplice. Ao governo caberia, de acordo com a propositura, nomear líderes enquanto as atividades presenciais estiverem suspensas.

 

O MEC ignora ou finge ignorar que tais procedimentos têm sido mantidos virtualmente durante o período de quarentenas.

 

Debates e consultas foram promovidos eletronicamente para compor a lista tríplice da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, por exemplo, em abril e maio. A Universidade Federal Rural do Semi-Árido realizará sua consulta interna online na segunda-feira (15).

 

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Ao questionar a viabilidade de um processo remoto na universidade pública, Weintraub contradiz seu próprio discurso. Desde o início da pandemia, o ministro tem defendido que as instituições de ensino mantenham atividades administrativas e aulas a distância.

 

Gestada em um governo abertamente hostil ao meio acadêmico, a MP dificilmente pode ser vista como algo diferente de uma tentativa canhestra de intervenção.

 

Não há dúvidas de que o processo de escolha de reitores precisa ser debatido. A história recente mostra que cientistas renomados e docentes populares internamente nas instituições não são, necessariamente, bons gestores.

 

Universidades de excelência britânicas e dos EUA, por exemplo, integram ex-alunos e empresários na escolha de seus dirigentes, muitas vezes prospectados fora dos estabelecimentos. Esse debate, no entanto, não cabe em uma medida provisória editada em tempos de emergência e outras prioridades.

 

Comentário nosso – A Folha tem razão em defender uma mudança na forma de escolha dos dirigentes universitários, sem tirar da universidade o direito de fazer esta escolha, sob pena de lhes tirar a autonomia. Nós temos exemplos na história recente da Paraiba de dirigentes de Universidades que foram verdadeiros desastres. E Patos sofreu um exemplo disso, quando foi prejudicado na escolha da localização da Faculdade de Medicina da UFCG. Quando tinha todas as condições técnicas e geográficas de acolher aquela escola, foi prejudicada pelos interesses políticos do reitor de então na região de Cajazeiras. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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