(Jozivan Antero, no Patos Online)
O cantor e músico Pinto do Acordeon, 78 anos, veio a óbito na madrugada desta terça-feira, dia 21/07, após vários dias internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Pinto do Acordeon enfrentava câncer, problemas renais e era diabético.
Em 2019, Pinto Acordeon apresentou problemas nos rins e foi internado em hospital particular de João Pessoa. Ele realizou hemodiálise e pouco dias depois foi submetido a um cateterismo.
Em 2015, Pinto do Acordeon teve parte de uma das pernas amputada por conta de complicações causadas por diabetes. Anteriormente, o cantor já havia sido internado e submetido a uma angioplastia.
A morte de Pinto do Acordeon deixa uma lacuna na Música Popular Brasileira (MPB) e no autêntico forró. O cantor abriu durante vários anos as festividades juninas na cidade de Patos.
Comentário nosso – Pinto recebeu homenagens póstumas, em João Pessoa, onde foi vereador, Em Santa Luzia e em Patos. Aqui uma grande multidão se reuniu no Terreiro do Forró para uma homenagem em que suas músicas foram cantadas com grande emoção. No Parque da Paz onde foi sepultado houve uma última homenagem prestada pelos artistas do Forró que conviveram com ele durante toda a vida, já que Pinto tinha residência em João Pessoa e, em Patos, onde sempre se reencontrava com os amigos.
Damião Lucena nos conta um pouco da história de Pinto do Acordeon:]
Pinto do Acordeon:
“Francisco Ferreira de Lima ou, simplesmente, Pinto do Acordeon, nasceu em Conceição, no Vale do Piancó, em 18 de fevereiro de 1948. O filho de Francisco Moreno e Dona Josefa, que ainda criança despertou para o mundo da música e, aos 13 anos, já fazia forró na sua região, fez dos estudos iniciais até o curso de admissão em sua terra natal e foi colega da conterrânea Elba Ramalho.
Foi à dificuldade de sobrevivência da família, com uma prole de doze irmãos, que o trouxe a Patos no ano de 1964. Aqui chegando, o “Nêgo Pinto”, como era mais conhecido, com o aval de Wilson Braga, conseguiu comprar uma sanfona ao empresário Cazuza. Os primeiros bailes sertanejos foram tocados no Circulo Operário, concorrendo com Agamenon Borges, o melhor sanfoneiro da época. Para ele, viver no Sertão não foi fácil. Dos membros da família surgiram os integrantes do grupo musical com a meta inicial de conseguir o sustento, enquanto vislumbravam novos horizontes de sucesso.
Nas campanhas eleitorais, “Pinto do Acordeon”, passou a ser um dos mais solicitados, chegando a tocar para a situação e oposição. Uma de suas particularidades residia nas letras e improviso que, na maioria dos casos, com termos cômicos, conseguia rebaixar o opositor do contratante e, no dia seguinte, mediante nova contratação, enaltecê-lo, desmanchando o que fizera anteriormente.
Não menos guerreiro que o filho tocador, Francisco Moreno e dono Josefa tocavam o ofício de artesão para o complemento das despesas. Em 1968, Pinto conhece a jovem Madalena Alves Figueiredo, membro da tradicional família Pedra de Santa Terezinha, durante um baile na localidade conhecida por Mata-Burros, um dos bairros da cidade de Patos. A troca de olhares decretou o namoro e, em 1972, o casamento, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no bairro Belo Horizonte.
Outro lado interessante do artista reside no campo folclórico. Festeiro, como sempre foi, certa noite entrou na bebedeira com diversos amigos e, lá pelas tantas, preocupado com o avançar da hora, com medo de represália da recém esposa ensaiou uma saída, sob a alegação de que Madalena estava sozinha. Edvaldo Motta, um dos mais assíduos parceiros, pediu que demorasse e tocasse mais um pouco, lhe dando uma justificativa plausível: “Você diz a ela que agente estava no velório do maestro Edson Morais”. Surpreso com a notícia, que inclusive constava da hora do enterro concordou e, ao chegar em casa as 4h, no momento em que era questionado, fez o relato e combinou a ida ao sepultamento. Por volta das 9h seguiu com a companheira à residência do “saudoso”, onde foi cumprimentado por ele, que se encontrava saudável e cheio de vida, o que originou o primeiro grande barraco da vida matrimonial.
Voltando ao lado artístico, o maior trunfo na vida de “Pinto do Acordeon” foi o fato de ter conhecido e ganhado a simpatia de Luiz Gonzaga, graças ao prestígio do empresário Gabriel Luiz Gomes (Gabi do Fumo Dubom), compadre e amigo pessoal do artista nacional. Com o Rei do Baião teve a oportunidade de se apresentar, por diversas vezes, pelo Brasil afora. Por conta desta grande amizade, foi presenteado com uma sanfona branca.
O primeiro sucesso de Pinto foi “Me Botando Pra Roer”. O primeiro LP foi gravado em 1976, abrindo a série de 12 vinis, além de mais de uma dezena de CD’s e DVD’s até meados da segunda década do Século XXI. No seu currículo de compositor constam várias composições gravadas por Fagner, Elba Ramalho, Trio Nordestino, Flávio José, Jorge de Altinho, Dominguinhos e muitos outros nomes nacionais. Sua projeção em nível de Brasil teve o grande suporte com a música “Neném Mulher”, integrante da trilha sonora da novela Tiêta, da Rede Globo de Televisão, exibida entre 1989 e 1990. Outro sucesso de referência foi “Arte Culinária”, em parceria com Lindolfo Barbosa.
Do casamento com Madalena nasceram sete filhos: Cicinho, Moisés, Alexandrina, Samuel, Priscila, Elis Regina e Madalena, todos desenvolvendo atividades iniciais no campo artístico, os quais, até a primeira década do Século XX, já haviam o presenteado com 19 netos. Na década de 90, Pinto do Acordeon enfrentaria problemas de saúde, sendo submetido a uma cirurgia cardíaca, na cidade do Recife, obtendo sucesso e voltando aos palcos.
Em 1989, Pinto disputou uma vaga de vereador em Patos e ficou na primeira suplência, não assumindo por conta de uma diferença de dois votos com Dinoá Medeiros, o último eleito. Mais tarde, em duas legislaturas, foi vereador pelo município de João Pessoa, nas administrações de Chico Franca e Cícero Lucena, contando com o apoio decisivo da Colônia de Patos. No ano de 2003, faleceu a mãe Josefa Ferreira Lima e, cinco anos depois, o patriarca Francisco Moreno.
Em 2008, Pinto do Acordeon participou do Festival de Montreux, na Suíça, dedicado ao Forró, ao lado de Chico César, Aleijadinho de Pombal, Flávio José e Trio Tamanduá, ocasião em que foi lançado o filme “Paraíba meu Amor”, no qual estrelou sob a direção de Bernard Robert-Charrue.
Mesmo com sua transferência para a Capital do Estado, Francisco Ferreira de Lima manteve residência em Patos, para passar a maior parte do seu tempo, consolidando uma partícula cultural importante da história do município, mantendo a patente de Pinto que encanta porque canta.”