Misael Nóbrega de Sousa (24/09/2029)
Nem bem adentrei à Sólon de Lucena, antiga “Rua Grande” de meus pais, pude ver os parques de diversões que se instalam ali, por tradição; e, que hoje, seduz, também, as ruas adjacentes. É quando castelos se erguem no centro da cidade/mãe, materializando a alegria. O cenatório é de um grandioso sonho. Geringonças se amontoam sob a jura do melhor divertimento. Os brinquedos estão ficando mais modernos, e as crianças menos crianças.
Maçã do amor; cachorro-quente; algodão-doce; balões infláveis; barraca de tiros; jogos de azar; o sino da igreja; as novenas; a procissão… – Ela ainda estava lá. Não diria, acanhada; resignada, sim! Mas, talvez eu que estivesse diferente.
Paro no carrossel e não resisto à lembrança. Conservaria ainda a mesma mágica? E procurei, em cada menino que volteava ao redor do mundo, os rostos de minha infância: O “Parque Lima” era o playground de antigamente. Bichinhos artesanalmente construídos com o madeiro sagrado das idades puerícias. E aqueles cavalinhos, que nem existem mais, levavam-nos para qualquer lugar, mesmo que fincados no eixo da resignação. Ainda, reminiscente, resgato da memória, o aviãozinho de latão… – Que sem luzes nem nada, conduzia-nos para fora da órbita, numa viagem imaginária. E, por fim, a roda-gigante, meio acanhada, é bem verdade, – mas que nos colocava acima das casas e isso bastava para entrever o futuro.
Despertei daquela nostalgia com os acordes da filarmônica 26 de julho. E antes de entrar na igreja para receber as bênçãos de Nossa Senhora da Guia, parei para ouvir a banda tocar… – Como uma “retreta” do que já foi dito. De 14 a 24 de todos os setembros, a bicentenária “Festa da Guia”, acolhe os devotos das paróquias vizinhas. Período em que acorrem às preces para a igreja Matriz, Catedral dos filhos de Deus, onde cada novena é oferecida à comunidade na forma da eucaristia. Ao final da noite, todos retornam para as suas casas, tocados pela Virgem Santíssima, porém, sem deixar de notar o pavilhão, que fica no coração da festa, e os bancos de azar. O religioso e o profano coexistem naquele ambiente: ora lúdico; ora litúrgico… – E as jogatinas se espalham pelo corredor desmedido, conservando as tradições.
Aprendi com o escritor de “A Bagaceira” que “Ninguém se perde no caminho da volta”. E o paraibano Jose Américo de Almeida, justifica: “porque voltar é uma forma de renascer”. A festa de setembro é também de renovação. Muito embora, não apenas espiritual, mas social. Compatrícios elegem no calendário anual aquela data na vida deles. E retornam para os parentes e amigos, pautados na certeza do abraço e da fé.
Ah! Festa de felicidade circular… – Feito esse brinquedo que agora vejo a encorajar os beijos adolescentes dos filhos e netos de minha geração. Já estou quase do outro lado… – E o que já era um retrato esmaecido, vai ficando ainda mais no passado. Porém, o que seria de nós se não fosse o renovamento? Obrigado, festa de setembro! Se antes faltava coragem de olhar para trás, agora estou mais confiante por seguir em frente…