Brasil aposta em poucas vacinas contra a Covid-19 e fica para trás em corrida como prova de incompetência do Governo Bolsonaro(Com comentário nosso)

By | 06/12/2020 6:28 am

Países ricos têm acordos para mais imunizantes e mais eficazes; só nos EUA são seis tipos

(Gabriel Alves e Ana Bottallo, na Folha)

 

Ao apostar as fichas em poucas candidatas, o Brasil está ficando para trás na corrida das vacinas contra a Covid-19, e a população corre o risco de ficar sem os imunizantes por mais tempo ou ter acesso apenas àqueles não tão bons.

 

A grande favorita do governo federal é a produzida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) em parceria com a AstraZeneca. Embora o imunizante tenha saído na frente na corrida, uma vez que já vinha sendo testado para outros coronavírus, sua média de eficácia foi de 70%, tirada a partir de dois valores —62%, que seria o oficial, e 90%, relativo ao grupo que recebeu apenas metade da dose planejada na primeira das duas injeções.

 

Ao analisar e divulgar esses dados, a AstraZeneca não soube explicar por que uma dose menor da vacina se traduziu em mais eficácia e, depois de receber questionamentos de todos os lados, admitiu erro e deve conduzir novos estudos.

 

No Brasil, a vacina deverá ser produzida pela Fiocruz, que firmou com os produtores um acordo para transferência de tecnologia. O país é também signatário do consórcio da OMS, o Covax Facility, que oferece vacinas para até 10% da população de países em desenvolvimento, com 42 milhões de doses garantidas.

 

No caso da vacina de Oxford, o mais seguro é apostar que tenha eficácia de 62%. E é isso que o Brasil até agora pode almejar, já que não fechou acordos com as candidatas de maior eficácia apresentada até então, como as das farmacêuticas americanas Pfizer e Moderna (95% e 94,1%, respectivamente), formuladas a partir de RNA do vírus, tecnologia até então inédita em imunizantes aprovados para uso médico.

 

A Pfizer, que já concluiu seus estudos e recebeu sinal verde do Reino Unido, tem acordos para fornecimento de até 600 milhões de doses para os EUA, 120 milhões de doses para o Japão, 200 milhões para a União Europeia e 60 milhões para a América Latina (excluindo o Brasil).

 

Outra aposta do governo americano, a Moderna tem acordo para o fornecimento de 100 milhões de doses para o país. Para a União Europeia, foram contratados 160 milhões de doses, e há acordos similares com Canadá, Japão e Qatar.

 

Os países mais ricos, que já fizeram acordos para compra de doses dessas duas fabricantes, garantiram também vacinas de pelo menos outras quatro fabricantes.

 

Enquanto os EUA firmaram acordo com a Pfizer, Moderna, AstraZeneca, Janssen, Novavax e Sanofi, o Canadá lidera em doses per capita, com a compra de pelo menos nove doses por habitante. A Europa encomendou cerca de metade das vacinas prometidas por três farmacêuticas(Pfizer, Moderna e AstraZeneca) e possui ainda diversas produções locais, como das farmacêuticas Janssen, na Bélgica, da Sanofi/Pasteur, na França e Curevac, na Alemanha.

 

Uma das barreiras para a distribuição das vacinas da Pfizer e da Moderna em países tropicais e com menos recursos seria a necessidade de armazenamento e transporte a baixas temperaturas, de até -70°C, e o preço, que pode chegar a R$ 190 por dose. Uma dose do imunizante da AstraZeneca deve custar até R$ 22, com a vantagem de poder ser armazenada em geladeira (entre 2°C e 8°C).

 

A chinesa Coronavac, da empresa Sinovac, por sua vez, é a aposta do governo paulista de João Doria (PSDB) e motivo de embate entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ainda não foram divulgados dados que atestem a eficácia da vacina, mas já há promessa do governador de oferecer a imunização a partir de janeiro.

 

Os testes da Coronavac são feitos em parceria com o Instituto Butantan, que, assim como a Fiocruz, também tem acordo para produção do imunizante no país. A expectativa da instituição, com tradição na área de vacinas, é de divulgar os dados de eficácia nas próximas semanas, até o dia 15 de dezembro.

 

Eficácia em última análise é a medida de quão boa é uma vacina, do seu potencial de proteger contra a infecção. Em um ensaio clínico, ela é medida pela proporção da redução de casos da doença entre o grupo que recebeu o imunizante e o que recebeu o placebo.

 

Não existe um valor mínimo universal de eficácia a ser alcançado, mas, sim, uma ponderação em relação a cada doença e circunstância. A proteção pode ser de 40% a 60%, no caso da gripe, ou superior a 97%, contra o sarampo.

 

A primeira obrigação de uma candidata a vacina é conseguir resolver um problema de saúde pública melhor do que as alternativas disponíveis até então (no caso da Covid-19, não há nada que freie a pandemia) sem causar um volume de efeitos colaterais que anule o lado positivo.

 

Antes da avaliação das vacinas em estudo para comprovação de eficácia e aprovação, as agências de saúde, como a OMS (Organização Mundial de Saúde) e o CDC (Centro de Controle de Doenças) dos EUA estabeleceram o limite mínimo de 50% de eficácia.

 

A eficácia das vacinas também pode variar de acordo com a proteção que elas fornecem: prevenir a infecção (o vírus não entra no organismo), proteger contra a manifestação dos sintomas (o vírus até consegue entrar no organismo, mas não causa sintomas) ou proteger contra o quadro grave da doença, evitando, assim, hospitalizações e mortes.

 

No caso da vacina da Pfizer, já aprovada pelo Reino Unido, a eficácia foi bem maior, de 95%. Para chegar a esse número, é necessário comparar o número de infectados no grupo que recebeu a vacina com o número de infectados no grupo que recebeu placebo.

 

Com base em informações fornecidas pela farmacêutica e algumas estimativas relacionadas ao número total de 8.000 voluntários, havia 162 infecções num grupo de 4.025 pessoas que recebeu o placebo (4,02%) e oito infecções num grupo de 3.975 que recebeu a vacina (0,20%).

 

Ao comparar esses dois números e juntá-los numa conta (veja cálculo no infográfico), chega-se a 95%. Isso quer dizer que 95% das infecções no grupo vacinado foram evitadas —152 no nosso exemplo.

 

A vacina da Pfizer consiste de duas doses espaçadas em 28 dias e utiliza RNA, um trecho do material genético do vírus, notadamente aquele responsável por codificar a proteína S (das espículas que formam a “coroa” do patógeno). A ideia é estimular a defesa por meio do sistema imune para quando, em contato com o vírus verdadeiro, garantir proteção.

 

Na comunicação de seus resultados, a farmacêutica afirmou que sua vacina teve bons resultados em proteger contra a doença. Ao todo, mais de 41 mil pessoas já receberam as duas doses da Pfizer, no contexto de ensaios clínicos.

 

Após o período de estudos clínicos, avalia-se a efetividade da droga, quando a vacina passa a ser utilizada na população. Em um ensaio, sob condições de experimentação, com grupo controle e acompanhamento médico, a eficácia encontrada pode ser diferente dos resultados reais. É por isso que a fase 3 é tão decisiva para uma vacina.

 

Quando passa a ser usada em larga escala, a eficácia de uma vacina tende a diminuir. “Sempre temos perda de efetividade, porque o esquema de vacinação é em duas [ou mais] doses, a pessoa não retorna para tomar a segunda, ou porque não há homogeneidade na cobertura vacinal”, afirma Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do grupo Sabin.

 

Voltando ao exemplo da vacina da gripe, a eficácia do imunizante é na faixa de 40% a 60% e, por esse motivo, o governo federal passou a ampliar o público-alvo das campanhas para tentar aumentar a proteção da população e diminuir a incidência.

 

“Esse é outro cálculo que deve ser levado em consideração. Uma vacina com eficácia de 50% deve ser aplicada em 100% da população para atingir uma proteção de 75%. Se uma vacina possui eficácia acima de 90% [como é o caso do imunizante da Pfizer], a quantidade de pessoas vacinadas para garantir proteção é menor”, explica Garrett.

 

A expectativa é que em breve estudos sejam publicados em revistas científicas, após o escrutínio de pesquisadores. Só aí, provavelmente, toda essa informação poderá ser analisada dentro de um contexto adequado, com menos dúvidas e mais respostas.

 

No Brasil, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, já sinalizou que são “uma, duas ou três” as opções de vacinas que devem ser incorporadas ao plano nacional de imunização contra a Covid.

 

O governo federal, sem citar os laboratórios, indicou que a vacina da Pfizer está fora do perfil desejado para o país, por não ser termoestável (necessita das baixas temperaturas para acondicionamento).

 

Em comunicado publicado nesta sexta-feira (4), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) chamou de “anêmico” o plano para uma campanha nacional de imunização apresentado nesta semana pelo Ministério da Saúde.

 

Resta saber se o país terá uma ou duas opções de vacina com eficácia aquém do esperado, ou se vai propor acordos para a compra de vacinas de alta eficácia e de última geração.

 

Opinião do programa –  Mais uma demonstração da INCOMPETÊNCIA do governo Bolsonaro. Por despreparado que seja um governante, uma boa equipe pode salvar a sua administração. Mas a equipe de Bolsonaro é tão despreparada quanto ele.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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