Recuo necessário – Covid volta com força

By | 06/12/2020 9:04 am

Não havia alternativa ao governo do Estado a não ser retroceder na flexibilização

(Editorial do Estadão) 

 

Por razões que vão desde o esgotamento físico e emocional após nove meses de privações ao entusiasmo diante da iminência de aprovação de uma vacina segura e eficaz contra a covid-19, nas últimas semanas um grande número de pessoas passou a relaxar nos cuidados para evitar a disseminação do novo coronavírus. O resultado dessa imprudência não haveria de ser outro: vê-se que a pandemia está mais ativa do que nunca.

 

O número de casos de infecção pelo novo coronavírus deu um salto e a ocupação dos leitos de UTI em hospitais de várias cidades do País voltou a atingir patamares muito preocupantes. A média diária de mortes em decorrência da doença é cerca de metade do que foi no momento mais agudo da pandemia, mas a curva é ascendente após um período de estabilidade.

 

O Imperial College, de Londres, referência no estudo da evolução da covid-19 no mundo, revelou que a taxa de transmissão (Rt) do novo coronavírus no País está em 1,02. Uma Rt acima de 1,0 significa que o vírus circula sem controle.

 

De acordo com a SP Covid-19 Info Tracker, plataforma desenvolvida por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) para realizar projeções e monitorar a pandemia em tempo real em São Paulo, em 15 das 22 regiões do Estado a Rt está acima da média nacional, indicando uma propagação acelerada do novo coronavírus.

 

Em Campinas, por exemplo, a taxa de transmissão está em 1,74. Isto significa que cada 100 pessoas infectadas transmitem o vírus para outras 174. Em Sorocaba e Taubaté a situação é ainda mais grave. Nessas regiões, a Rt é de 1,77 e 1,80, respectivamente. É alarmante.

 

Diante de um quadro desses, não havia alternativa ao governo do Estado a não ser recuar na flexibilização das medidas do Plano São Paulo. No dia 30 passado, o governador João Doria (PSDB) anunciou que todo o Estado regrediu para a fase amarela, um pouco mais restritiva do que a fase verde, até então em vigor. Pelas novas regras, nenhum estabelecimento comercial ou educacional será fechado; por ora, haverá somente restrições de capacidade e horário de atendimento.

 

A medida é prudente e serve como alerta para a população de que, ao contrário do que muitos possam pensar, a pandemia não acabou. O recuo de fase era absolutamente necessário diante do aumento do número de casos de covid-19 no Estado. Entre a comunidade médica e científica, não parece haver discussão quanto ao acerto da medida, mas sim em relação ao momento em que foi tomada. Há quem defenda que o governo estadual deveria ter regredido nas medidas de flexibilização um pouco mais cedo, ainda antes das eleições, e há os que pensam que o momento correto é este.

 

Na capital paulista, o prefeito reeleito, Bruno Covas (PSDB), ainda não divulgou a extensão das medidas da fase amarela do Plano São Paulo que valerão na cidade. A situação da pandemia na cidade de São Paulo, de acordo com as autoridades municipais, está “sob controle”. Auxiliares do prefeito Bruno Covas enfatizam que a capital paulista não está entre os 62 municípios de São Paulo com transmissão mais acelerada do patógeno. Nos próximos dias, é esperado que a Prefeitura divulgue as eventuais alterações no plano de contenção da covid-19 no Município.

 

Há poucos dias, o epidemiologista Wanderson de Oliveira, ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, disse à Coluna do Estadão que teme uma “explosão” de casos de covid-19 no País no início de 2021. O temor se deve às festas de fim de ano, época em que familiares e amigos confraternizam, muitas vezes sem máscara e sem o devido distanciamento. É o alerta de um dos mais experientes profissionais que estiveram à frente do combate à pandemia no Brasil.

 

Não se pode baixar a guarda. O novo coronavírus já matou mais de 173 mil pessoas no País e continua fora de controle. Considerando-se que a vacina ainda não é uma realidade, é dever das autoridades e dos cidadãos levar a pandemia muito a sério.

 

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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