9 ministros caíram este ano
2º escalão também teve baixas
O governo Bolsonaro se aproxima do 3º ano de mandato com balanço de 12 ministros derrubados, 9 deles em 2020. Já no 2º escalão foram mais 7 demissões, que vão desde secretários a presidentes bancários.
A maioria das baixas aconteceu de abril a dezembro, período de grande tensão política em razão de discordâncias originárias da crise da covid-19, iniciada em março. Das 15 demissões do ano, 13 ocorreram nesse período.
Ministros
Deixaram seus cargos em 2020: Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional), Osmar Terra (Cidadania), Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), Nelson Teich (Saúde), Abraham Weintraub (Educação), Carlos Decotelli (Educação), Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). O ministro Onyx Lorenzoni deixou a Casa Civil e foi nomeado para a Cidadania.
As pastas que mais sofreram substituições foram a da Educação, com 4 ministros empossados, e da Saúde, com 3.
O Poder360 separou as principais demissões ocorridas no 2º ano de governo Bolsonaro e relembra as histórias por trás dos cartões vermelhos:
Gustavo Canuto
Canuto foi o 1º ministro a cair em 2020, apesar de seguir no governo. Ele deixou o comando do Ministério do Desenvolvimento Regional em 06 de janeiro e foi nomeado para presidência da Dataprev, onde substituiu Christiane Almeida Edington, que comandava o órgão desde fevereiro de 2019.
O ministério é chefiado hoje pelo ex-deputado Rogério Marinho (PSDB-RN).
Onyx Lorenzoni
Hoje ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni também foi alvo de uma dança das cadeiras no governo Bolsonaro. Ele chefiava a Casa Civil quando, em 13 de fevereiro, foi substituído pelo general Walter Braga Netto, que permanece no cargo até o momento.
Onyx assumiu o lugar do deputado Osmar Terra, que voltou a cumprir o mandato no Congresso.
Osmar Terra
Terra deixou o ministério da Cidadania em fevereiro, depois de sofrer desgaste devido a 1 investigação de suposta fraude.
De acordo com a Polícia Federal, a contratação da empresa Business to Technology (B2T) foi usada para desviar R$ 50 milhões de dinheiro público de 2016 a 2018.
Inicialmente foi sondado se o ex-ministro aceitaria ser embaixador do Brasil. Pensou-se na Argentina. Mas Terra demonstrou que não queria esse prêmio de consolação, pois, como Onyx, tem mandato e pôde voltar para a Câmara. Foi o que o sucedeu. .
Foi nomeado por Jair Bolsonaro como o novo líder do governo na Câmara. Ele assumiu o posto no lugar de Major Vitor Hugo (PSL-GO).
Luiz Henrique Mandetta
O ex-ministro da Saúde foi demitido do governo Bolsonaro em 16 de abril, em meio à pandemia de covid-19.
Houve pressão em torno da demissão de Mandetta, que se posicionava a favor do isolamento social e contra o uso da hidroxicloroquina em pacientes infectados pela covid-19, batendo de frente com os pensamentos do presidente Bolsonaro.
A decisão foi tomada depois que Luiz Henrique Mandetta deu entrevista exclusiva ao Fantástico, da TV Globo, em que cobrou discurso único do governo federal a respeito do isolamento social. Disse que os brasileiros estão “sem saber” se escutam o presidente da República ou o ministro da Saúde.
A pasta foi assumida por Nelson Teich, que também se demitiu menos de 1 mês depois.
Sérgio Moro
Ex-juiz federal e símbolo da Operação Lava Jato, Sérgio Moro foi escolhido a dedo por Jair Bolsonaro para comandar o Ministério da Justiça e Segurança Pública. O ex-ministro deixou o governo em 24 de abril, depois da demissão de Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da Polícia Federal.
A saída de Moro instaurou uma crise em Brasília, depois que o ex-ministro acusou o presidente da República de crimes de responsabilidade e falsidade ideológica por supostas interferências na PF e de usar sem autorização a assinatura do ex-ministro na exoneração de Valeixo publicada no Diário Oficial da União.
As declarações de Sergio Moro deram início a 1 inquérito na Polícia Federal para apurar as acusações.
Nelson Teich
Teich assumiu o ministério da Saúde 1 dia depois da demissão de Mandetta. Assim como o antecessor, também enfrentou resistências para lidar com a crise da covid-19, o que causou desgastes na relação com o presidente Jair Bolsonaro.
Teich pediu demissão da pasta em 15 de maio, depois de resistir a autorizar o uso da hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes infectados com o vírus como desejava Bolsonaro. Ele ficou
Nem a OMS (Organização Mundial da Saúde) nem o Ministério da Saúde reconhecem algum fármaco ou vacina como cura para a doença.
Teich foi o 2º ministro da Saúde a deixar o governo Bolsonaro durante a pandemia do coronavírus. A pasta hoje é chefiada pelo ministro Eduardo Pazuello, que assumiu interinamente por 4 meses e foi empossado ministro em 16 de setembro.
Abraham Weintraub
O ex-ministro da Educação anunciou a demissão em 18 de junho. Economista de formação, Weintraub estava no centro de atritos entre o Poder Executivo com o Legislativo e o Judiciário. Ele afirmou em reunião interministerial gravada em 22 de abril que, por ele, “colocava esses vagabundos na cadeia, a começar pelo STF” (Supremo Tribunal Federal).
Weintraub era um nome forte da ala ideológica do governo. Ele fazia uma crítica a Brasília, de forma geral. No comentário, mencionou especificamente o STF.
O vídeo em questão foi divulgado por decisão do ministro Celso de Mello. Isso porque, na gravação, haveria a prova de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, conforme acusação do ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública).
O ex-ministro também é alvo de inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal que investiga a propagação de notícias falsas e ataques contra a Corte.
Carlos Decotelli
Carlos Alberto Decotelli da Silva assumiu o Ministério da Educação no lugar de Weintraub. Mas entregou o pedido de demissão em 30 de junho, 5 dias depois de assumir a pasta, sendo o nome com a atuação mais breve do governo Bolsonaro.
O episódio foi resultado de um desgaste provocado pela exposição na imprensa de uma série de controvérsias em seu currículo.
Desde que foi escolhido para comandar o MEC (Ministério da Educação), foram levantados vários questionamentos sobre seu passado. Eis abaixo uma relação:
- licitação suspeita quando presidiu o FNDE;
- acusado de plágio em dissertação de mestrado;
- universidade argentina diz que ele não tem doutorado;
- ministro muda currículo pela 1ª vez depois de universidade argentina alertar sobre seu doutorado incompleto;
- universidade alemã informa que ministro não tem pós-doutorado;
- ministro muda currículo pela 2ª vez depois da informação de que não tem pós-doutorado.
O currículo de Decotelli, que depois viria a se mostrar inconsistente, foi exaltado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, mas os títulos foram posteriormente desmentidos.
Decotelli foi substituído pelo pastor Milton Ribeiro, que permanece no cargo.
Marcelo Álvaro Antônio
O ex-ministro do Turismo deixou a pasta em 09 de dezembro, sendo a demissão mais recente da Esplanada dos Ministérios.
O estopim da demissão de Marcelo Álvaro Antônio foi uma mensagem enviada por ele em um grupo de WhatsApp no qual estão ministros do governo Bolsonaro.
Na mensagem de texto, troca farpas com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Diz que o general ataca conservadores e afirma que Ramos se movimentava para “pedir sua cabeça” e entregar o cargo ao Centrão, grupo de congressistas sem posicionamento ideológico definido. Bolsonaro não teria gostado do que leu.
O agora ex-ministro responde a pelo menos duas acusações de fraudes durante a campanha eleitoral de 2018. Naquele ano, ele presidia o PSL de Minas Gerais e foi o responsável pela indicação de 4 candidatas que receberam cotas do Fundo Eleitoral, mas que tiveram desempenho pífio nas urnas.
O Ministério Público Eleitoral diz que isso foi feito para desviar dinheiro público, em favor de outras candidaturas, já que, para os procuradores, elas foram indicadas apenas para cumprir a cota mínima de mulheres, exigida pela legislação.
2º ESCALÃO
Servidores de 2ª grandeza também deixaram o governo ao longo do ano.
Roberto Alvim
Ex-secretário especial da Cultura, Roberto Alvim foi exonerado em 17 de janeiro, depois de parafrasear trechos de uma fala de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do governo nazista de Adolf Hitler, em pronunciamento oficial.
“A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada”, disse Alvim em vídeo publicado em suas redes sociais.
A fala tem semelhança com 1 discurso de Goebbels feito em 8 de maio de de 1933, no hotel Kaiserhof, em Berlim (Alemanha), para diretores de teatro.
A fala foi alvo de duras críticas, e a cabeça do secretário foi pedida pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Alcolumbre é judeu, religião professada também por pessoas em posição importante no governo, como o secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten.
A secretaria especial da Cultura foi assumida por Regina Duarte, que também deixou o governo posteriormente.
Regina Duarte
A atriz Regina Duarte foi desligada do cargo de secretária especial de Cultura em 10 de junho. O fim do casamento com o governo foi anunciado pelo próprio presidente Bolsonaro em vídeo publicado em suas redes sociais.
O chefe do Planalto afirmou que a ex-atriz “sente falta de sua família”, e que iria assumir a Cinemateca “para que possa continuar contribuindo com o governo e a cultura brasileira”. Mas o cargo nunca chegou para Duarte.
Isso porque, desde março de 2018, a instituição não é mais da alçada de controle do governo federal. O contrato, vigente até 2021, prevê a administração da instituição para a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), organização social vinculada ao Ministério da Educação.
Dessa forma, Jair Bolsonaro teria que achar uma saída jurídica para cumprir a promessa, seja contratando a artista para um cargo de confiança ou reincorporando a Cinemateca ao governo federal. Nenhuma solução foi dada e Regina Duarte se despediu do governo definitivamente.
Ministério da economia
A pasta sofreu 4 baixas importantes: Mansueto Almeida, Rubem Novaes, Caio Meagle, Salim Mattar e Paulo Uebel.
O ex-secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida deixou o cargo em 15 de julho. A saída já havia sido comunicada ao Ministério da Economia no mês anterior. O economista Bruno Funchal assumiu o cargo em que permanece até hoje.
Rubem Novaes pediu demissão da presidência do Banco do Brasil em 24 de julho, cargo que deixou efetivamente só em agosto.
Ele é defensor da privatização do Banco do Brasil. Mas a desestatização da instituição financeira não estava nos planos do presidente Jair Bolsonaro. Novaes tinha apoio do ministro Paulo Guedes, que na reunião ministerial de 22 de abril, chegou a dizer: “tem que vender essa porra logo”.
Outro nome que deixou a equipe econômica foi Caio Meagle, diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda da pasta. O motivo da saída seria a vontade de retornar para a iniciativa privada e para São Paulo com a família.
Já os secretários especiais Salim Mattar e Paulo Uebel, considerados braços direto do ministro Paulo Guedes, deram baixa da pasta em 11 de agosto.
“Hoje houve uma debandada”, disse o ministro Paulo Guedes (Economia) sobre o tema. Eis o que comentou czar da economia sobre o desfalque na equipe:
- Salim Mattar – “Ele me diz que é muito difícil privatizar. Que o establishment não deixa vir a privatização, que é tudo muito difícil, muito emperrado. Tem que ter 1 apoio mais definido, mais decisivo”, disse o ministro.
- Paulo Uebel – “Ele reclama que a reforma administrativa parou”.
Guedes agradeceu o trabalho dos secretários. Disse que Salim fico insatisfeito com o ritmo das privatizações. Também afirmou que a reforma administrativa está “parada”. O texto não será mais enviado pelo governo este ano.