Vacinação é eficácia e velocidade (com comentário nosso)

By | 27/12/2020 5:17 am

A ciência entregou para a humanidade uma arma capaz de acabar com o coronavírus: dois imunizantes com eficácia de 95%.

(Fernando Reinach*, O Estado de S.Paulo, 26 de dezembro de 2020 | 05h00)

 

A humanidade passou o ano de 2020 acuada pelo SARS-COV-2. Em 12 meses, ele surgiu, se espalhou pelo planeta, destruiu a rotina da humanidade, e nos forçou ao isolamento social. Passamos o ano na defensiva. Apesar do caos gerado pelo vírus, a máquina que os seres humanos criaram nos últimos séculos para produzir conhecimento sobre a natureza, transformar esse conhecimento em tecnologias e transformar essas tecnologias em produtos úteis para nossa sobrevivência demonstrou sua força. A ciência rapidamente isolou o vírus, descobriu como infecta nossas células, criou testes de diagnóstico, descobriu como ele passa de uma pessoa para outra, mediu sua velocidade de espalhamento e recomendou as maneiras como ele pode ser contido. Além disso, aperfeiçoou os tratamentos, desenvolveu drogas e procedimentos para tratar os casos mais graves e, ao final de exatos 11 meses, entregou para a humanidade uma arma capaz de acabar com o vírus: duas vacinas com eficácia de 95%.

 

O ano de 2021 será o ano em que a humanidade terá uma chance de passar da defesa para o ataque. Será um ano em que observaremos uma competição entre o vírus e a vacina para ver quem chega antes às pessoas que ainda não foram infectadas. Essa corrida começa com 15% a 25% da humanidade já imunizada por ter sido infectada, e vai terminar quando entre 70% e 90% da população estiver imune.

 

O vírus por enquanto está liderando, infectando aproximadamente 2 a 3 milhões de pessoas todos os dias (casos detectados são aproximadamente 800 mil por dia), matando entre 0,3% e 1% dos infectados. Nessa corrida, o vírus vai contar com as novas cepas capazes de se espalhar mais rapidamente. A vacina, que entrou na corrida faz duas semanas, já imunizou 2 milhões de pessoas e ainda imuniza, por dia, um número muito menor de pessoas do que as que são infectadas pelo vírus. O objetivo dos vacinadores é imunizar pelo menos dez vezes mais pessoas por dia do que as que são infectadas pelo vírus. E para isso podemos contar com três estratégias: diminuir o número de infectados por dia com medidas de distanciamento social, aumentar o número de pessoas vacinadas a cada dia, e usar vacinas com o máximo de eficácia possível.

 

O que isso significa para o Brasil? Nossa população é de 210 milhões de pessoas. Imagine que 15% já tenham sido infectados: 32 milhões de pessoas. Faltam imunizar 178 milhões. Atualmente o número oficial de novos casos por dia é de 60 mil, mas esse é o número de testes positivos, sabemos que o número real está entre 300 mil e 600 mil casos por dia. Se o vírus seguir num ritmo de 500 mil casos por dia, em um ano poderá infectar 182 milhões de pessoas e ganha a guerra facilmente. Agora imagine que no dia 1.º de janeiro pudéssemos, com um estalo de dedos, vacinar toda a população brasileira com uma vacina de eficácia igual a 95% ou outra com uma eficácia de 50%. No início de fevereiro, usando a vacina de 95% de eficácia, teríamos 169 milhões dos 178 imunizados e venceríamos a guerra (lembre que 15% dos vacinados já são imunes pois tiveram a doença). Mas se a eficácia da vacina for 50% teríamos somente 89 milhões de pessoas imunizadas, enquanto outros 89 milhões seriam presas fáceis do vírus ao longo do ano.

 

Mas não é isso que vai acontecer, a vacinação vai ocorrer ao longo de um ano. Imagine então que o objetivo seja vacinar toda a população ao longo de 2021. Para isso precisaríamos vacinar 575 mil pessoas todos os dias durante os 365 dias. Nesse ritmo, se o vírus continuar a infectar 500 mil pessoas por dia, e usarmos uma vacina de 95% de eficácia, o número de infectados pelo vírus será semelhante ao número de vacinados. E se a eficácia for de 50% o vírus vai infectar duas vezes mais pessoas todos os dias do que os imunizados.

 

É claro que todas essas contas são aproximações muito grosseiras que estou usando para explicar o tamanho do desafio que teremos em 2021. Existe um número grande de epidemiologistas capazes de fazer essas estimativas com mais precisão e espero que elas apareçam nos próximos dias. Aliás, essas contas deveriam servir de base para organizar o plano nacional de vacinação.

 

Em conclusão, para termos uma chance real de vencer o vírus em 2021 precisamos vacinar mais de 500 mil pessoas por dia, todos os dias, ao longo do ano, precisamos diminuir em 5 a 10 vezes o número de novos casos de infecção a cada dia, e precisamos usar vacinas com a maior eficácia possível. E para que tudo isso ocorra precisamos de um presidente e um ministro da Saúde com vontade e capazes de executar essa missão. Confesso que não estou otimista e continuo a acreditar que a estratégia do Brasil é a IRPI (imunidade de rebanho por incompetência). Espero estar errado.

 

Opinião do programa – Infelizmente temos um presidente sem nenhum compromisso com o combate à pandemia, fazendo questão de dar mau exemplo à população ao não seguir as recomendações das autoridades sanitárias. Em consequência a sua equipe segue”caninamente” o exemplo do chefe, ao não tomar as providências necessárias e oportunas para a única oportunidade de frear a mortandade provocada pela pandemia, a vacinação em massa, como se está fazendo no mundo todo.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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