Presidente recorre a retórica envolvendo militares em meio às críticas ao atraso na distribuição de vacinas no País

By | 19/01/2021 8:24 am

Bolsonaro: ‘Quem decide se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura são as Forças Armadas’

 

Sob pressão política diante do atraso na distribuição de vacinas contra a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro mandou nesta segunda-feira, 18, recados a seus críticos e afirmou que as Forças Armadas são as responsáveis por decidir se há democracia ou ditadura em um país. Depois da derrota sofrida para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que deu a largada na vacinação, e dos problemas para fazer o imunizante chegar aos Estados, Bolsonaro elogiou as Forças Armadas que, na sua avaliação, foram “sucateadas” na esteira de uma estratégia para adotar o socialismo no Brasil.

“Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não a apoiam”, afirmou o presidente, em conversa com apoiadores, no Palácio da Alvorada. Candidato a novo mandato, em 2022, Bolsonaro sugeriu, ainda, que a situação pode mudar, dependendo do resultado da disputa.

Congresso reage a fala de Bolsonaro sobre ‘democracia ou ditadura’

As declarações repercutiram mal. O tom ideológico do presidente ocorre no momento em que aumentam protestos contra o governo, como panelaços, sua popularidade cai nas redes sociais e há pressão para o impeachment. “No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar. (…) Como estariam as Forças Armadas com o Haddad no meu lugar?”, perguntou o chefe do Executivo, em referência ao ex-prefeito Fernando Haddad (PT), seu rival na campanha de 2018.

Não é a primeira vez que Bolsonaro diz que a democracia depende da vontade dos militares, mas, nos últimos tempos, subiu o tom dessa narrativa. A ameaça vai na contramão da Constituição. Pela Carta de 1988, as Forças Armadas estão subordinadas ao poder civil e não têm autonomia para decidir os rumos políticos do País.

“O pessoal parece que não enxerga o que o povo passa, para onde querem levar o Brasil. Para o socialismo. Por que sucatearam as Forças Armadas ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo”, disse o presidente, que é capitão reformado do Exército, no diálogo com eleitores.

Bolsonaro abriu nova polêmica justamente quando se discute a instalação de uma Comissão Representativa do Congresso, neste mês de recesso parlamentar, para votar a convocação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e projetos relacionados à pandemia do coronavírus.

Maia diz que Bolsonaro flerta com ‘acirramento na relação com as instituições’

“O presidente flerta, mais uma vez, com o acirramento na relação com as instituições, o que é muito grave. É uma frase recorrente, muito próxima de desrespeitar a Constituição. Agora volta, no meio da pandemia, num sinal de desespero em relação à completa falta de gestão do seu governo e do seu Ministério da Saúde”, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-SP), ao Estadão.

A instalação de uma comissão do Congresso para se debruçar sobre a crise é uma nova queda de braço, a duas semanas das eleições que vão renovar o comando da Câmara e do Senado. A principal disputa, hoje, é travada na Câmara entre os deputados Arthur Lira (Progressistas-AL), apoiado por Bolsonaro, e Baleia Rossi (MDB-SP), que tem o aval de Maia.

Para o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o Congresso e o Supremo Tribunal Federal precisam estar atentos a Bolsonaro. “Só um cego não percebe o caminho que o presidente está traçando na sua trajetória”, destacou. Seu colega José Serra (PSDB-SP) também se levantou contra o recado de Bolsonaro. “Trata-se de uma visão autoritária em estado puro. Quem quer a democracia é o povo. E às Forças Armadas cabe servir à democracia. Como, aliás, elas têm feito nos últimos anos”, observou o tucano.

O ex-ministro da Defesa Raul Jungmann foi na mesma linha. “Quem zela pela democracia, em primeiro lugar, é o povo, no uso dos seus direitos políticos. Em segundo, seus representantes e as instituições democráticas. Dentre estas, os poderes da República e as nossas Forças Armadas estão comprometidas com a democracia e a sua defesa”, disse ele.

Dois oficiais de alta patente das Forças Armadas, que pediram anonimato por serem da ativa, disseram que os militares querem se distanciar de associações como a que foi feita pelo presidente. Segundo um general do Exército, que já trabalhou em outros governos, em cargos civis, os militares têm de esquecer a política. Para um almirante da Marinha, as Forças estão fazendo de tudo se manter afastado do governo.

Socialismo, Venezuela e Maduro

Ao falar  sobre socialismo, Bolsonaro também dirigiu ironias ao presidente da Venezuela, Nicolas Maduro. “Agora se fala que a Venezuela está fornecendo oxigênio para Manaus. É White Martins, é uma empresa multinacional que está lá também. (…) Se o Maduro quiser fornecer oxigênio para nós, vamos receber, sem problema nenhum. Agora, ele poderia dar auxílio emergencial para o seu povo também. O salário mínimo lá não compra meio quilo de arroz”, afirmou.

Bolsonaro mencionou até mesmo o peso de Maduro para debochar do colega do país vizinho. “Vem uns idiotas, eu vejo aí, elogiando (e dizendo) ‘Olha o Maduro, que coração grande ele tem!’. Realmente, daquele tamanho, 200 quilos, dois metros de altura, o coração dele deve ser muito grande. Nada mais além disso”, provocou o presidente.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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