Contrariando Bolsonaro, diretores da Anvisa refutam remédios ineficazes e defendem a ciência (com comentário nosso)

By | 24/01/2021 6:08 am

 (Fabiana Cambricoli, no Estadão)

 

Nos pareceres e votos que embasaram a aprovação do uso emergencial das vacinas Coronavac e de Oxford neste domingo, 17, servidores e diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em contraponto ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro Eduardo Pazuello, defenderam a ciência e a segurança das vacinas e refutaram a existência de tratamento precoce contra a covid – defendida pelo Ministério da Saúde e por Bolsonaro com base em medicamentos comprovadamente ineficazes, como a hidroxicloroquina.

 

Antes mesmo do início dos votos dos cinco diretores da agência, a gerência-geral de medicamentos argumentou, em seu parecer, que a recomendação pela aprovação dos imunizantes se justificava pelo atual cenário da pandemia, aumento do número de casos e ausência de alternativas terapêuticas.

 

A diretora relatora dos processos que pediam a aprovação das vacinas, Merluze Freitas, também ressaltou esse ponto em seu voto. “Até o momento, não contamos com alternativa terapêutica aprovada e disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus. Assim, compete a cada um de nós, instituições públicas e privadas, sociedade civil e organizada, cidadãos, cada um na sua esfera de atuação, tomarmos todas as medidas ao nosso alcance para, no menor tempo possível, diminuir os impactos da covid-19 no nosso País”, declarou ela, demonstrando, durante sua fala, a preocupação com o uso constante de álcool gel e colocação da máscara quando algum funcionário da agência se aproximava.

 

Bolsonaro e muitos integrantes do governo federal desrespeitam, com frequência, tais medidas, participando de eventos sem máscara e causando aglomerações em visitas a comércios de rua. O presidente também se mostra contrário à quarentena, alegando que ela é desnecessária e prejudica a economia do País.

 

Outra postura de Merluze que chamou a atenção foi citar os números de casos e óbitos por covid no País com base nas estatísticas coletadas pelo consórcio de veículos de imprensa, força-tarefa criada justamente quando o Ministério da Saúde tentou fazer uma divulgação seletiva dos dados epidemiológicos, em junho, para dificultar a análise do cenário real da pandemia no País.

 

Além de destacarem a ausência de tratamento contra a doença, os servidores ressaltaram a importância da vacina para frear a pandemia e alertaram para a necessidade da manutenção das medidas de proteção individual.

 

“(ConsiderandoQue as vacinas são a forma mais eficaz de prevenir doenças infecciosas, salvando milhões de vidas em todo o mundo; o grave cenário de pandemia que vivemos, com o crescente número de infectados e óbitos, e o indicativo de colapso do sistema de saúde tanto público privado, acompanho a relatora e voto por autorizar o uso emergencial em caráter experimental das vacinas de covid-19″, disse, em seu voto, o diretor Romison Rodrigues Mota.

 

Até o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, aliado de Bolsonaro e que criou polêmica em março de 2020 ao participar de atos sem máscara com o presidente, defendeu as medidas de proteção individual e recomendou que a população se vacine.

 

“A imunidade com a vacinação leva um tempo para se estabelecer. Mesmo vacinado, use máscara, mantenha o distanciamento social e higienize suas mãos. Essas vacinas estão certificadas pela nossa Anvisa. Foram analisadas por nós, brasileiros, no menor e melhor tempo, estabelecido por nossos especialistas. Confie na Anvisa, confie nas vacinas que a Anvisa certifica e, quando elas estiverem ao seu alcance, vá e se vacine“, declarou.

 

Os diretores também defenderam decisões baseadas na ciência e negaram qualquer tipo de interferência na agência. “A aprovação da vacina é um desejo de todos, uma questão humanitária e de saúde pública. O momento é histórico, de enfrentamento real à pandemia, capaz de reverter esse cenário devastador, um divisor de águas na história. Daí a importância de uma análise acertada, sempre pautada no equilíbrio e na cientificidade, sem qualquer intervenção claudicante”, disse a diretora Cristiane Rose Jourdan Gomes.

 

No voto mais duro contra os negacionistas e a negligência, o diretor Alex Campos, que foi chefe de gabinete do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, defendeu o caráter técnico da agência e criticou a ação do Estado no combate à pandemia.

 

“No nosso vocabulário, não há espaço para negação da ciência, tão pouco para politização. […] A tragédia de Manaus é a expressão mais triste e revoltante da falha objetiva do Estado, em todos os níveis. A tragédia da morte por falta da terapia mais simples, o oxigênio, é um atestado ainda da nossa ineficiência, infelizmente. As imagens nos últimos dias nos faz prestar homenagem sincera a esses brasileiros do Amazonas, mas a todos os brasileiros que foram vítimas da covid e da incúria do Estado”, disse.

 

Nossa opinião – Desde o início que Bolsonaro e Pazuelo insistem na eficácia do tratamento prévio do coronavirus com a hidroxicloroquina, contrariando a opinião de cientistas de todo o mundo, em manifestações inclusive recentes, ao comentar o desastre que está acontecendo no Amazonas. Agora os cientistas da Anvisa tiveram a coragem de contrariar este posicionamento de Bolsonaro e do Ministro da Saúde, ao reconhecer a necessidade urgente da vacinação.

 

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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