Novo auxílio de R$ 200 pode ser usado para modernizar regras fiscais

By | 14/02/2021 6:15 am

Medida está dentro de PEC

Cria mecanismo mais perene

País ganha cláusula para crise

Estratégia depende da política

(Fernando Rodrigues, no jornal digital PODER360)

O Brasil em breve terá um novo auxílio emergencial para a população de baixa ou nenhuma renda durante a atual fase da pandemia de coronavírus. Isso já é certo.

O desejo da equipe econômica, se os presidentes da Câmara e do Senado concordarem, é este:

valor e duração do novo auxílio emergencial – na faixa de R$ 200 a R$ 250 e por 3 meses;

Bolsa Família reforçado – os beneficiários teriam também um bônus temporário de R$ 50 por 3 meses;

novo imposto descartado – criar uma taxa, temporária ou não, é algo que a equipe econômica não quer. O imposto sobre transações digitais, se vier, será apenas para reduzir os encargos da folha de pagamentos das empresas;

mais deficit, sem furar o teto – o Ministério da Economia acha que o ideal é criar algum mecanismo como o introduzido em 2020 pela chamada PEC do Orçamento de guerra , que abriu espaço para mais despesas, por causa da pandemia, fora do limite do teto de gastos;

legado para o país – o custo para o Congresso seria aprovar a jato emenda constitucional que pudesse criar esse tipo de dispositivo. A ideia é que seja junto com a chamada PEC do pacto federativo. Seria uma “cláusula de calamidade pública”, que poderia ser acionada sempre que cidades, Estados e União estivessem em situação excepcional de necessidade. Essa emenda cria também a possibilidade de prefeitos e governadores travarem suas despesas por até 2 anos quando estiverem sem caixa. Seria uma regra civilizatória para o setor fiscal público em todos os níveis.

AUMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA

Pelos cálculos feitos até agora, o coronavoucher de R$ 200 por 3 meses produziria uma despesa na casa de R$ 20 bilhões. Isso elevaria a dívida pública de 89,3% para 89,5% do PIB.

Essa alta da dívida é considerada pequena pelo ministério quando se considera o tamanho do benefício que o auxílio traria para a população durante a pandemia. As empresas também se beneficiariam: mais dinheiro na economia ajudará o comércio, que passa hoje por uma de suas piores crises na história.

CÁLCULO POLÍTICO

A grande dificuldade dessa proposta é política.

A PEC do pacto federativo entrega muita responsabilidade a prefeitos e governadores. Hoje, quando estão sem dinheiro, esses políticos fazem romaria a Brasília para pedir verbas. São ajudados pela pressão de funcionários públicos, que são organizados e sempre pedem recomposição salarial anual, não importando o tamanho da crise pela qual passa o país.

Se a nova regra for aprovada, prefeitos e governadores teriam de sanear suas contas sozinhos, parando de dar aumentos para servidores, por exemplo. Isso desagrada a muitos deputados e senadores –que sonham eles próprios em ser prefeitos e vereadores mais adiante.

Os presidentes da Câmara e do Senado já foram apresentados a essa fórmula descrita acima. Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) entenderam a lógica da proposta. Acham que pode ser uma saída. Problema: precisariam aprovar rapidamente a PEC do pacto federativo com a cláusula de calamidade pública incluída.

O ministro Paulo Guedes (Economia) entende que solução é a melhor possível. Acha que a contrapartida será um legado muito positivo para o país.

ANÁLISE DE CONJUNTURA

Por enquanto, neste início de 2021, há um relacionamento lhano entre Executivo e Congresso. As conversas entre as cúpulas de Câmara e Senado com o Ministério da Economia também têm sido corretas e produtivas. Mas é tudo política.

O problema é que sobram ideias e falta tempo. E ainda há vicissitudes, sempre imprevistas. O senador José Maranhão morreu nesta semana. O Senado ficou um dia em luto, sem trabalhar. A Câmara está cheia de demandas, mas Arthur Lira resolveu fazer uma mudança de local da sala de imprensa e enfureceu jornalistas e empresas de comunicação. Criou um ruído que demandará tempo e energia para ser debelado.

O auxílio emergencial custa relativamente pouco (cerca de R$ 20 bilhões, nesse caso dos 3 pagamentos de R$ 200), mas não há de onde tirar esse dinheiro. Para isso é necessária uma emenda constitucional e assim furar o teto de gastos –como se fez em 2020.

A ideia é votar essa PEC de maneira urgente. O Ministério da Economia deseja que tudo seja feito dentro da proposta de emenda constitucional do pacto federativo, que confere novos direitos e deveres para cidades, Estados e União.

A proposta é boa. O Brasil vai evoluir institucionalmente com essa nova regra. Só que tudo depende da política. Se Lira e Pacheco estiverem dispostos a encarar esse desafio, é possível superá-lo. Mas dos políticos não se pode exigir que façam algo que os inviabilize diante de seu eleitorado –no caso, o conjunto de 513 deputados e 81 senadores.

É isso que Lira e Pacheco avaliam neste momento. Se enxergarem espaço para aprovar a PEC do pacto federativo com a “cláusula de calamidade pública” também “embedada” nesse texto, isso será feito. Mas é tudo política.

Comentário

Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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