Governo fala em vacina para 100% em 2021, mas só tem garantidas 2/3 das doses
Esta reportagem foi atualizada às 21h15 para inserir novos números do cronograma divulgado pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco.
O Poder360 obteve nesta 5ª feira (4.mar.2021) o novo cronograma do governo federal com detalhamento de prazos para o recebimento de vacinas contra a covid-19. O planejamento mostra pela 1ª vez doses suficientes para imunizar toda a população ainda neste ano.
O governo espera ter 593 milhões de doses até o fim de 2021, mas 198 milhões são de imunizantes ainda não aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ou ainda sem contrato fechado, o que corresponde a 1/3 do total.
O quadro do governo fala em 23,3 milhões de doses da CoronaVac em março. O Poder360 apurou, entretanto, que serão no máximo 16 milhões de doses neste mês. Tudo considerado, há mais desejo do que realidade confirmada nas contas preparadas pelo governo.
O mais provável é que o cronograma federal exagere um pouco no otimismo. Em relação à versão anterior do plano, já são previstas 10 milhões de doses a menos para março. O Instituto Butantan já frustrou planos do governo ao não entregar as doses de CoronaVac esperadas em fevereiro.
Se todos os contratos forem assinados e as vacinas aprovadas, o governo terá 593 milhões de unidades até janeiro de 2022. Como a vacina da Jannsen precisa de apenas de uma dose, sobrariam 204 milhões caso toda a população (213 milhões) seja vacinada. O número excedente supera a margem de perda de imunizantes (por causa da quebra de frascos, do mau uso ou de armazenamento indevido), calculada pelo Ministério da Saúde, que é de 5%.
SAÚDE CONFIRMA INTENÇÃO DE COMPRA DE DOSES DA PFIZER
O Ministério da Saúde anunciou, nessa 4ª feira (3.mar.2021), que pretende comprar todas as doses de vacinas contra covid-19 que a Pfizer e a Janssen estiverem dispostas a negociar com o Brasil. Bolsonaro disse que serão “alguns milhões”.
O ministro Eduardo Pazuello divulgou vídeo de uma reunião com representantes da Pfizer confirmando a negociação. Assista (1min23s):
A gestão do presidente Jair Bolsonaro recusou, em janeiro, a compra de 2 milhões de doses do imunizante. No mesmo mês, Pazuello, reclamou das condições de compra do laboratório:
“Todos já sabem das cláusulas da Pfizer. Eu acho que eu não preciso repetir, mas eu vou ser sucinto: isenção completa de responsabilidade por efeitos colaterais de hoje ao infinito. Simples assim”, disse o ministro em 11 de janeiro.
Ambas as fornecedoras informaram em 22 de fevereiro que não aceitariam as exigências feitas pelo governo federal para vender suas vacinas contra covid-19 ao Brasil.
A Pfizer é a única vacina com registro definitivo aprovado pela Anvisa. Atualmente, a vacina da Pfizer é aplicada em 69 países. O Brasil foi o 3º a conceder o registro definitivo ao imunizante.
Já a vacina da Janssen (empresa farmacêutica da Johnson & Johnson) não solicitou a aprovação de uso no Brasil –nem em caráter definitivo, nem em caráter emergencial. É a mesma situação da vacina indiana Covaxin, que recentemente fechou contrato para vender 20 milhões de doses ao governo federal.
NOVO CRONOGRAMA
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, apresentou uma nova estimativa de entrega de doses nesta 5ª feira (4,mar), em sessão do Senado. De acordo com o documento, o governo federal negocia 13 milhões de doses da Moderna ainda em 2021 e mais 50 milhões até o final de janeiro de 2022. Eis a íntegra (431 KB).
No documento divulgado por Elcio, consta que as primeiras 1.000 doses devem ser entregues até o final de julho.
Nossa opinião – O Brasil cuidou tarde da aquisição das vacinas, com Bolsonaro dizendo que o interesse de vender era das farmacêuticos e agora está quebrando a cabeça para conseguir vacinar todo mundo até o final do ano, o que talvez não vá conseguir. E daqui a pouco, “pelo andar da carruagem”, vão estar morrendo mais de duas mil pessoas por dia. Sem leitos hospitalares e de UTI para acolher todo mundo.