(Coluna do Estadão, 21 de março de 2021 | 05h00)
Nos últimos dias, uma questão perigosa passou a ser debatida reservadamente entre os líderes de Brasília até bem pouco atrás refratários a solavancos: o que aconteceria, em um país sem vacina e com desemprego e inflação nas alturas, se o presidente fosse substituído? Trocando em miúdos, o afastamento de Jair Bolsonaro paralisaria ainda mais o Brasil ou resultaria em avanço imediato? Para os veteranos de 1992 e 2016, as respostas são menos importantes do que a instauração e disseminação da questão. O vírus da dúvida já está no ar de Brasília.
Avarias. Há também boa dose de cálculo eleitoral. O Centrão adverte: 2022 é logo ali e ninguém quer ficar em barco que pode afundar antes de a regata começar.
Deu… A ação de Bolsonaro no STF contra governadores conseguiu agravar a tensão no Congresso.
…pra ti? A leitura: os últimos dias revelaram, mais uma vez, que o presidente prefere radicalizar e espalhar mentiras ante agir politicamente no combate à pandemia. Com a escalada nos índices de mortes e filas de UTI, ficou atestada a inoperância do governo.
Linha. Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL) têm feito de tudo para não entrar em rota de colisão com o governo, mas a sensação no entorno dos presidentes do Congresso é de situação limítrofe.
Aff. Pacheco ficou bastante abalado com a morte de Major Olímpio e não gostou nem um pouco da insinuação de Bolsonaro de um estado de sítio no País.
Chega. Em carta aberta, Simone Tebet (MDB-MS) cobrou, mais uma vez, a instalação da CPI da Covid-19 no Senado como forma de pressionar o Executivo federal a agir com “rapidez, coordenação e vontade”.
Caos. “Ou Bolsonaro se dirige à nação e demonstra plena consciência da gravidade da situação e apresenta, ao lado do ministro da Saúde, um plano nacional de execução urgente para enfrentamento da pandemia, ou permaneceremos, todos, no caos”, afirma Tebet.
Em síntese. “Ao invés de se ocupar em saber como comprar medicamentos que faltam nos hospitais, Bolsonaro dedica seu tempo a agredir prefeitos e governadores”, diz o governador Rui Costa (PT-BA).
Torta… Assessores palacianos sentiram a tensão escalar em Brasília. Admitem, reservadamente, que a insatisfação com o comportamento do presidente não parte só da oposição, mas de alguns aliados também.
…de climão. A esperança reside na reunião entre Congresso, Planalto, STF, AGU, PGR e representantes dos Estados. Sonham em união para combater a pandemia. Mas sabem que tudo dependerá do presidente. Ou seja…