88% dos intubados com covid em fevereiro morreram no Brasil
Taxa sobe há 3 meses: era de 80%
Situação é pior no Norte e Nordeste
Curva mostra possível piora em março
Saiba qual é a situação em cada Estado
UTI em hospital de São Paulo: 75,5% dos pacientes incubados no Estado morreram de março de 2020 a fevereiro de 2021, o 2º resultado menos grave do país, atrás apenas de Santa Catarina/Governo do Estado de São Paulo
(Tiago Mali, Paulo Silva Pinto e Paulo Motoryn)
Dos internados por covid com ventilação respiratória invasiva em fevereiro, 87,9% morreram, mostra levantamento realizado pelo Poder360. É o pior mês desde o início da pandemia. A situação vem se agravando desde dezembro.
Estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) publicado em janeiro na revista Lancet mostrou que 80% dos intubados em 2020 morreram no Brasil. O Poder360 reproduziu a metodologia da pesquisa para 2021 e constatou agravamento da situação.
Considerando os intubados no mês de novembro, 80,2% morreram. Esse número subiu para 82,7% em dezembro, 85,3% em janeiro e atingiu seu maior patamar com 87,9% em fevereiro.
Dos 10 Estados em pior situação, 8 estão nas regiões Norte e Nordeste do país. Essa comparação considera o período de março de 2020 a fevereiro de 2021. Em Santa Catarina, onde a situação é a menos grave do país, morreram 7 de cada 10 pacientes intubados.
Há poucos estudos sobre o tema com dados de abrangência nacional. Entre os que existem, o Brasil se sai mal. Itália (52% de mortos depois de intubação) e Alemanha (53%) têm taxas menores.
O pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza, autor do estudo original, elenca alguns dos fatores que levaram à piora do quadro nos últimos meses:
- UTIs lotadas;
- centros médicos sem condições de atendimento;
- profissionais sem experiência de intubação;
- burnout das equipes;
- falta de equipamentos;
- quebra de protocolos de boas práticas.
Bozza avalia que a situação tende a se agravar . “Vimos o colapso na região Norte e algum colapso na região Nordeste. Agora, estamos vendo uma evolução de colapso para todo o sistema de saúde brasileiro. Tem a sincronização da epidemia em todas as regiões e nas capitais”, afirma.
Segundo o pesquisador da Fiocruz, a piora do cenário poderá se dar de forma rápida. “A perspectiva para abril e maio é muito ruim. Se não aprofundar as medidas de contenção neste momento, não vai ter tempo hábil para o processo de vacinação fazer diferença. O que funciona é que as pessoas fiquem em casa e façam a sua parte”, diz.
Essa também é a opinião do médico Rodrigo Biondi, presidente da regional do Distrito Federal da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira). Ele avalia que aumentar as restrições à circulação de pessoas é a única solução possível neste momento. “Não seria necessário lockdown se as pessoas respeitassem regras de distanciamento e de uso de máscaras. Mas elas não cumprem isso”, afirma.
Biondi considera impossível aumentar o número de leitos de forma eficaz a curto prazo. Muitos dos que já foram implantados recentemente contribuem de forma precária para a cura dos pacientes. O maior problema, diz o médico, está na escassez de profissionais, incluindo médicos e enfermeiros. “No Reino Unido havia 1 enfermeiro por paciente antes da pandemia. Agora há 1 para 3 pacientes e eles dizem que é impossível trabalhar. No Brasil a legislação permite 1 para 10 e estamos com situações muito piores do que isso”, afirma.
O médico intensivista diz que o percentual de morte de intubados que o Brasil atinge neste momento é algo inédito. “Normalmente a taxa fica entre 15% e 20%”. Destaca que muitos dos intubados não estão em UTIs, mas em enfermarias e até mesmo em unidades de atenção primária. “Eles são excluídos da contabilização da fila para entrar na UTI, mas não deveria ser assim”.
Bozza chama atenção para o fato de que a situação do atendimento atual dos casos mais graves piora a chance de sobrevivência, que já é baixa. “ A UTI tem uma capacidade de funcionamento considerando uma situação onde nem todos os doentes estão intubados. Quando você passa a ter todos os doentes intubados, a sobrecarga de trabalho é tanta que as pessoas não dão conta”, diz
Segundo Biondi, em situações normais cerca de 40% dos pacientes de UTI são intubados. Atualmente há 100% de intubados em UTIs de covid.
A situação de sobrecarga de trabalho, aliada a alguns profissionais na linha de frente sem experiência nesse tipo de atendimento e falta de insumos, destacam os médicos, leva a uma situação de burnout, onde protocolos e boas práticas de sedação e de controle de infecção, que aumentam a sobrevivência em UTIs, vão sendo quebradas. “A chance de erro aumenta muito”, afirma Biondi.
Nossa opinião – Cada um peça a Deus para, no caso de ser internado numa UTI, não precisar de intubação, pois as possibilidades de escapar são em torno de apenas 10%. Na Paraíba em fevereiro a possibilidade de um intubado escapar era de 8,9%, ou seja, de cada dez intubados só um tinha chance de escapar. Alertamos que nem todo mundo que vai para a UTI precisa ser intubado. Aliás, eu tenho uma curiosidade que até agora não consegui esclarecer: Quantas pessoas em média estão saindo vivas das UTIs? Ou seja, quem libera mais vagas nas UTIs, as altas ou os óbitos?